Magia, medo e muita imaginação
As lendas de São Paulo são uma das maiores expressões criativas de seu povo. Nelas estão contidas o medo do desconhecido, das noites soturnas, dos ruídos inexplicáveis. São relatos de épocas onde o convívio com a natureza era mais próximo sem a interferência da modernidade.
A Capela dos Aflitos
Construída em 1778, a Capela dos Aflitos está localizada perto de um antigo cemitério, onde hoje é o Largo do Rosário. Eram enterrados os negros não pertencentes à Irmandade do Rosário, indigentes e os que eram mortos na forca. Nossa história começa com um enforcamento que causou muito espanto a todos. Francisco José das Chagas, “o Chaguinha”, soldado santista que comandou uma rebelião, por conta de soldos atrasados, foi condenado à forca em 20 de setembro de 1821. Porém, no ato do enforcamento, como mágica, a corda arrebentou três vezes, somente na quarta vez é que Chagas finalmente foi enforcado. O espanto do acontecido fez com que os espectadores do evento macabro atribuíssem o fato a Nossa Senhora dos Aflitos, como um milagre. Depois disto, a Capela tornou-se local de peregrinação e antigos moradores contam que Chaguinha vagueia pelo bairro inconformado com seu triste fim.
Onde: entre as ruas Galvão Bueno e Glória – Liberdade.
Figueira das Lágrimas
Um dos locais mais simbólicos da história de São Paulo, a Figueira-brava, representa a dificuldade, a distância, o medo e a saudade que as viagens entre São Paulo e a Baixada Santista exigiam. Não é toa que a avenida em que está localizada chama-se Estrada das Lágrimas. Esta árvore é mais antiga que a Independência do Brasil. Aqui, as pessoas que se dirigiam ao litoral, se despediam como, talvez, um último adeus. O caminho pela Serra do Mar era quase intransponível: cheio de animais venenosos, índios na espreita e abismos escondidos.
Onde: Estrada das Lágrimas, 515 – Ipiranga.
O crime do Castelinho da Rua Apa
O médico Virgílio César dos Reis, que falecido em 1934, construiu o hoje chamado Castelinho da Rua Apa, em 1912. Casado com Dona Maria Cândida tiveram dois filhos: Álvaro e Armando. Em 12 de maio de 1937, uma tragédia se abateu na família quando Álvaro, na versão oficial, matou seu irmão, sua mãe e depois se suicidou. Porém, houve evidências de que uma terceira pessoa estava no local, e esta teria feito os disparos. O crime ganhou as manchetes dos jornais da cidade, porque se tratava de uma família da elite paulistana. Depois do incidente o Castelinho foi cenário de filmes com Fernanda Monte Nefro e Zé do Caixão. Os que moraram lá sempre diziam que ouviam vozes e fenômenos como abrir e fechar de portas e torneiras. A verdade nunca foi de fato restaurada, mas as manifestações anormais, estas sim confirmadas e reafirmadas pelos que ali frequentavam.
Onde: Rua Apa, 236 – Santa Cecília.
Dona Yayá
Herdeira de imensa fortuna, Sebastiana de Mello Freire, Dona Yayá, sofria dos “males da mente”, no solar de sua chácara, paredes de vidro foram feitas para abriga-la e evitar que fugisse. Yayá ficou reclusa entre 1925 e 1961. Depois de sua morte, a vizinhança passou a escutar gritos. Dizem que Yayá ainda está reclusa em seu sofrimento.
Onde: Rua Major Diogo, 353 – Bexiga.
Cemitério Chora Menino
Dizem os antigos moradores do bairro Chora Menino, que perto onde hoje é o Cemitério Chora Menino, morava uma velha enrugada, cabelos bancos compridos em uma casa mal cuidada e sem janelas, havia apenas uma grande porta de madeira com uma portinhola abaixo. À noite, ouvia-se a portinhola abrindo e fechando sem parar. Eram homens e mulheres que colocavam ali pequenos pacotes. A velha recolhia estes pacotes e depois os levava para a parte de trás de sua casa que era um grande vale. Porém, o assustador é que estes pacotes choravam, pois eram bebês abandonados pelos pais. Quando a velha depositava todos eles no vale, vinham os urubus. Então o choro das crianças se confundia com os miados dos gatos no cio. A vizinhança fechava suas portas e janelas, e a velha quando voltava para casa ria sem parar, um riso longo e macabro!
Onde: Avenida Imirim, 302 – Santana.
Nossa Senhora e sua teimosia
Um dos bairros mais antigos de São Paulo, a Penha, possui registros de 1682, quando Mateus Nunes de Siqueira recebeu uma sesmaria de Agostinho de Figueiredo. Porém, reza a lenda que um fervoroso francês devoto a Nossa Senhora carregava uma imagem da Santa em uma viagem de São Paulo ao Rio de Janeiro. À noite, repousou no alto de uma colina. Seguindo a viagem, estranhamente deu falta da imagem e voltou ao local onde dormira e a viu ali. Resgatou-a e seguiu viajem e, de novo, sentiu a falta da Santa. Voltou à colina e lá estava a imagem no mesmo lugar do dia anterior. O francês entendeu, então que Nossa Senhora queria ficar ali, onde hoje está a Igreja Nossa Senhora da Penha de França, finalizada em 1667.
Onde: Rua Santo Afonso, 199 – Penha.
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