Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves, pescadores da Vila de Guaratinguetá (SP), foram incumbidos, numa época não favorável à pescaria, de alimentar o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, governador da província de São Paulo e Minas Gerais, com peixes da região. Assim decretou a Câmara de Guaratinguetá. Desceram o Rio Paraíba, a noite toda, e nada conseguiram. Afinal, após muitas tentativas sem sucesso chegaram ao Porto Itaguaçu.
Depois de lançadas as redes, João Alves sentiu que alguma coisa pesava. Ao puxá-la, surgiu o corpo de uma imagem, mas sem a cabeça, que foi colocada no fundo do barco. Mais uma vez as redes foram lançadas, na tentativa de achar peixes e, de repente, surgiu a cabeça enegrecida da imagem. João Alves uniu corpo e rosto. Justinhos. E concluiu que aquilo só poderia ser um milagre. Benzeram-se os três pescadores, enrolaram os pedaços em um pano e continuaram a pescaria. Foi quando os peixes começaram a aparecer aos montes, como se fossem guiados para as canoas, a ponto de temerem pela integridade dos barcos.
Devoção a Nossa Senhora Aparecida
A imagem ficou com a família de Felipe Pedroso durante 15 anos, que a levou para casa. As pessoas da vizinhança passaram então a se reunir lá para rezar. A devoção cresceu no meio do povo e muitas graças foram alcançadas por aqueles que rezavam diante da Virgem. A fama dos poderes extraordinários daquela Nossa Senhora se espalhou pelas regiões do Brasil.
Um episódio chamou a atenção da comunidade na época. Certa vez, ao rezar o terço, devotos perceberam que duas velas se apagaram no altar, o que era muito estranho, porque aquela noite estava particularmente calma.
Uma fiel chamada Silvana da Rocha, que acompanhava o terço, insistiu em acender as velas mais uma vez, mas – para a surpresa de todos – elas se acenderam sozinhas, sem que ninguém as tocasse. Um perfeito milagre.
Com todos esses eventos, o vigário de Guaratinguetá construiu uma capela no alto do Morro dos Coqueiros, por volta de 1734. Aberta à visitação pública em 26 de julho de 1745 o número de fiéis a Nossa Senhora Aparecida aumentava de tal forma que, em 1834, iniciaram a construção de uma igreja maior, hoje conhecida como Basílica Velha.
A imagem
Hipoteticamente, ela teria, originalmente, uma policromia, como era de costume na época, mas não há documentos que comprovem tal suposição. Quando Felipe a pescou, o corpo separado da cabeça muito provavelmente não tinha essa pintura, devido aos anos em que ficou mergulhada nas águas e no lodo do rio.
A cor acanelada com que hoje é conhecida deve-se ao fato de ter sido exposta, durante anos, ao picumã das chamas das velas e dos candeeiros. Seu estilo é seiscentista, como atestam alguns especialistas que a estudaram. É de terracota (de argila), modelada e cozida em forno apropriado, com 40 centímetros de altura.
Depois de um atentado à imagem, que a reduziu a aproximadamente duzentos fragmentos, em 1978, a imagem foi encaminhada ao professor Pietro Maria Bardi, na época diretor do Museu de Arte de São Paulo. Foi totalmente reconstituída pela artista plástica Maria Helena Chartuni, na época restauradora do MASP. Conforme os estudos dos peritos, a imagem foi moldada com argila paulista, da região de Santana do Parnaíba, situada na Grande São Paulo.
O mais difícil foi determinar o autor da imagem, já que não havia assinatura ou data. Depois de um minucioso estudo comparativo, os especialistas chegaram à conclusão de que se tratava de um escultor, discípulo do monge beneditino Frei Agostinho da Piedade, e também seu colega de Ordem, Frei Agostinho de Jesus.
Chama a atenção a forma sorridente dos lábios, queixo encastoado e, no centro, uma covinha, cabelo penteado e com flores em relevo, broche de três pérolas na testa e porte empinado para trás.
Todos esses detalhes se encontram na imagem e, por isso, os especialistas Dom Clemente da Silva Nigra e Dom Paulo Lachenmayer, concluíram que a imagem foi esculpida pelo monge beneditino Frei Agostinho de Jesus.
Coroação
Coroada em 8 de setembro de 1904, a peça passou a usar oficialmente a coroa ofertada pela princesa Isabel, em 1884, bem como o manto azul-marinho.
Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi proclamada Rainha do Brasil e sua Padroeira Oficial, em 1929, por determinação do Papa Pio XI.
A atual Basílica Nova foi consagrada pelo Papa João Paulo II e recebeu o título de Basílica Menor. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1984, declarou oficialmente a Basílica de Aparecida Santuário Nacional. Milhões de pessoas o visitam anualmente, em busca de milagres e também para agradecer as graças alcançadas.
Por Cristina Livramento – Fonte: Maria de Nazaré/Editora Aloha
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