Naufrágio em Ilhabela
Vamos dar mais destaque a esse naufrágio por causa da grande repercussão que este deu ao Brasil e ao mundo. Segundo dados, foi o maior naufrágio brasileiro e o que mais histórias tocantes foram vividas. Numa noite tempestuosa de carnaval, passageiros da primeira classe que se deliciaram festejando Momo, dormiam cansados esperando pelo próximo baile.
Era 5 de março de 1916, às quatro hora da manhã, quando escutou-se um estrondo de bater em rochas. Correria e desespero misturados aos clarões dos raios que caiam no mar… Em menos de 5 minutos todos os resquícios de música, de festa e todo o prazer foram literalmente por água abaixo. Era o paquete espanhol de nome Príncipe de Astúrias, que, com toda a sua majestade, submergia em águas brasileira, mais precisamente na Ponta da Pirabura no Arquipélago de Ilhabela.
Sua história
Com o desenvolvimento do comércio na América do Sul, muitos construtores de navios viam a oportunidade de aumentar os seus ganhos, fazendo o transporte de pessoas e mercadorias nessa rota Europa-América.
Por isso, a frota de Miguel Martinez de Pinillos e Sáenz de Velasco, proprietários da Pinillos, Yzquierdo y Cia., investiram bravamente nesse tipo de prestação de serviço. Construíram então dois navios de mesmo porte, o Infanta Isabel e o Príncipe de Astúrias, com capacidade para 1890 pessoas divididas em classes, sendo a menos favorecida para 1.500 passageiros alojados em cabines muito simples.
O luxo também era marcante na decoração, com vários ambientes para a delícia dos embarcados na primeira classe. Para as cargas, esses gigantes do mar, tinham capacidade de carregar 16.500 toneladas.
O trajeto interrompido
O navio Príncipe de Astúrias saiu do porto de Barcelona, em 17 de fevereiro de 1916, com escalas em Valência, Málaga e Cádiz, passou pelo estreito de Gibraltar, aportou em Lãs Palmas com previsão de chegada ao Porto de Santos em 5 de março.
Mas quis o destino que no meio do caminho ele encontrasse outro fim. Comandado por José Lotina, experiente profissional, o navio não escapou do grande festival de raios. E principalmente do desvio de rota, que levou a embarcação muito próxima a uma das Pontas da ilha de São Sebastião, onde raspou na lage submersa deixando um rasgo de 44 metros em seu casco.
A partir daí, apenas poucos minutos se passaram para que a embarcação naufragasse de maneira cruel e insólita. Nesse instante, com a maioria dos passageiros dormindo, poucos puderam subir ao convés, afundando para seus fatídicos destinos.
O socorro
Graças à passagem do vapor francês Veja, que ia do Rio de Janeiro para Santos, é que muitos se salvaram. Passando pelo local, os tripulantes avistaram os sobreviventes. E resgataram 143 pessoas que foram levadas ao Porto de Santos. Outro meio de resgate foi o escaler (espécie de bote salvavidas de porte grande) que, com várias viagens da tripulação, conseguiu também salvar muitas vítimas, deixando-as nas pedras, em terra firme.
A heroína
Dificilmente, naquela época, homens admitiam que foram salvos por uma mulher. Mas felizmente foram, e essa mulher chamava-se Marina Vidal. Excelente nadadora, teve o ato de coragem de nadar em águas tão revoltas e perigosas para resgatar seus semelhantes.
O tesouro que afundou
Inúmeros são os tesouros afundados com o navio, desde barras de ouro, jóias de todas as espécies. Foram muitas, e ainda são, as expedições de mergulhadores, que já conseguiram trazer à tona muitos deles.
O Astúrias transportava muitas cargas valiosas. Entre eles o terceiro bloco de um total de três, que completaria o Monumento aos Espanhóis, na Argentina. Esse monumento era a representação das quatro etapas da conquista da Argentina (Andes, Rio da Prata, Rio Chaco e Pampas), e seria inaugurado em 9 de julho de 1916.
Os caiçaras
Vários relatos dos que viram ou ouviram a história desse naufrágio contam que a região da Ponta da Pirabura é amaldiçoada, pois no local ninguém consegue passar, contabilizando mais de 10 desastres.
Muito se fala do famoso Titanic, mas é certo que o naufrágio do Príncipe de Astúrias teve o mesmo impacto que o inglês. Muitas histórias tristes de sobreviventes que, além de perderem todos os seus bens, perderam também seus maridos, esposas, filhos e filhas. Muitos eram refugiados da Primeira Guerra Mundial, e tinham no Novo Mundo, a esperança de começarem uma nova vida. Histórias comoventes como a de Ramon Hernandez, que atirou seu filho de três anos ao mar e depois foi procurá-lo. Mas quando resgatou a criança, percebeu que era filho de outra família já morta e o adotou.
E hoje, o Príncipe ainda está lá, servindo de encanto e mistério para os que se atrevem a vê-lo.
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