Nos detalhes, as lembranças; e nas formas , a realidade.
A difícil arte de trançar a palha, moldar o barro, talhar a madeira ou manusear o “canivete de roca” é uma tradição transmitida de pai para filho entre os caiçaras do litoral norte de São Paulo.
Os trabalhos originalmente feitos em vime, taquara e palha, só foram se mesclar ao barro e à madeira com a chegada dos franceses que utilizavam amplamente estes artigos. No início o artesanato praticado em Ubatuba, assim como em outros lugares, era uma atividade de subsistência, apenas para uso doméstico.
Hoje os artesãos já contam com uma poderosa indústria que desperta o interesse dos turistas e movimenta o comércio local, além de participações em feiras e exposições pelo Brasil.
Com muita habilidade estes caiçaras conseguiram popularizar uma arte primitiva sem sofrerem influências da mecanização.
Os pintores continuam a desenvolver o seu rico trabalho com cores vibrantes em peças de cerâmicas e madeiras, tais quais ensinaram os seus antepassados. Cestos, peneiras, vasos, chapéus, imagens religiosas, móveis rústicos, de tudo podemos encontrar nos ateliês destes artistas.
O talento caiçara é tanto que já conferiu fama a um dos seus artesãos. É o caso do Seu Antônio Teodoro de Souza. Seu Bigode, como é conhecido, se tornou uma figura lendária em Ubatuba graças à habilidade revelada desde pequeno em esculpir peças de madeira.
Nascido em uma casa humilde no Pequerê-Açu, este escultor é a maior referência do artesanato da cidade com mais de 5.200 peças que vão desde uma minúscula imagem de São Francisco até a estátua da Igreja da Imaculada Conceição, com mais de 1,70m.
Aos treze anos teve uma bronquite que o impediu de frenquentar a escola. Sem saber ler e escrever, já transformava pedaços de guairana e cedro em piões e máscaras de carnaval.
Mais tarde, a sua intimidade com a arte de entalhar seria responsável pelo sustento da família e lhe renderia trabalhos internacionais. Sem esconder as influências de sua formação católica, seu Bigode pode dizer com orgulho que é um dos poucos artistas nacionais a ter uma obra exposta no Vaticano e mais de 2000 peças espalhadas pelo exterior. São de sua autoria também os quatro santos na igreja do Pilar, em Taubaté (São José, Santo Antônio, São Francisco e São Jorge).
Outro ícone de cunho artístico é Seu José Vicente da Motta, artista plástico, escultor e pintor com premiações internacionais, fez da arte, seu viver. Seus trabalhos são ecléticos apesar de sua formação católica. Uma frase que resume seu espírito artístico: “Nasci católico, frequentei umbanda e cultos evangélicos, agora sou um terráqueo. Aprendi a conhecer o ser humano”.
Não podemos deixar de citar as canoas de Ubatuba. Alguns etimologistas falam que Ubatuba vem do tupi e significa abundância de canoas. Não vamos discutir, pois na realidade, sua costa é salpicada delas.
E, como o visitante de Ubatuba não tem como levar de souvenir uma canoa para casa, obviamente que esta arte foi reduzida a pequeninas embarcações que cabem em qualquer mala. São réplicas perfeitas das originais e com o mesmo colorido. Conversamos com jovens que vendem essas pequenas jóias ao longo da estrada. Aprenderam o ofício com seus pais e avós. A renda obtida pelas vendas dá o sustento de suas famílias.
Os trabalhos artísticos são tantos e tão variados que, no meio do verde da mata, encontramos artesanatos de toda a espécie, de móveis a aves nativas. Vale a pena conferir e também “negociar” o preço. Sem dúvida são peças feitas com capricho e perfeição.
Visita obrigatória é a Casa do Artesão de Ubatuba. É uma associação com 40 membros que expõem e vendem seus produtos feitos de matéria-prima variada, onde o consumidor se esbalda em tanta criatividade e cores. Muitos são os artesãos que se fixaram em Ubatuba e hoje vivem das vendas de seu trabalho. A Casa do Artesão fica na Av. Iperoig nº 10 – Centro.
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