Visitar o sítio arqueológico de São Sebastião significa admirar e surpreender-se com o legado da nação portuguesa.
Registros históricos revelam que Joaquim Pedro, antigo morador da região, conhecido pela crueldade e por suas posses, morou próximo ao Sítio Arqueológico, só não foi possível comprovar se ele foi o dono daquelas terras. Um dos mitos mais conhecidos na região diz que Joaquim Pedro fez um pacto com o Diabo pra manter sua riqueza. Dizem que ele guardou o Diabo dentro de uma garrafa debaixo da sua cama. Uma noite, sua mulher achou a garrafa e libertou o Diabo.
No mesmo momento, Joaquim veio a falecer esmagado por uma das paredes da Casa Grande que ruiu. Segundo a lenda, no momento do velório, ouviu-se o som do estouro do aqueduto da fazenda. As luzes se apagaram e todos apressadamente começaram a ascender velas e lampiões. Mas, o corpo de Joaquim sumiu do caixão. E o povo que ali estava diz ter visto o Diabo carregando o corpo de Joaquim Pedro e nunca mais se ouviu falar daquele homem. E, se você chamar o nome de Joaquim Pedro, à meia-noite, no sítio, ele aparecerá.
Cenário
O local é incrustado na mata tropical e fascina a todos com sua fortaleza de montanhas e vale profundo. Nesse privilegiado cenário, o céu ilustra e completa a vista magnífica do bairro de São Francisco e do Canal de São Sebastião.
Conferir in loco os resultados dessa fascinante descoberta é bem prazeroso por sinal. O sítio arqueológico está a 260 metros de altitude, com aproximadamente 200 anos de história e cerca de 20 mil m² de restos construtivos, que compõem o legado. São três patamares, com pátio cerimonial, logo acima a antiga capela e, mais alguns metros, a Casa Grande. O pátio cerimonial servia de porta de entrada aos novos escravos, onde as ordens eram dadas.
A capela, muito suntuosa para época, era uma forma de mostrar aos escravos e aos funcionários, o poder que os senhores detinham ali; na entrada existia um oratório, uma antiga pia batismal e um aqueduto. A Casa Grande era muito pequena para ser uma moradia, o que para a Aline Mazza, arqueóloga, esse detalhe leva a crer que o sítio era um local próprio para negócios, além do fato de estar num lugar estratégico para avistar embarcações que iam e vinham no Canal de São Sebastião. Supõe-se que ali eram exercidas atividades clandestinas, como o tráfico de escravos e até mesmo uma “escola de produção de cana-de-açúcar, devido à quantidade de parafernálias destinadas a isso. Talvez esse seja um dos motivos dos historiadores não encontrarem registro de posse da Fazenda.
Nova área
O grande achado pelos pesquisadores foi a localização de outra área do sítio, que possui mais de oito patamares somada ao sítio existente, e que pode vir a ser um dos maiores achados arqueológicos em extensão do país, com 1.200.000 m² de área total. No local, foi identificado um complexo de senzalas e estradas.
Atualmente, restam do imóvel original algumas colunas e paredes, que impressionam pela técnica usada (as pedras eram apenas encaixadas perfeitamente entre si, sem necessidade de qualquer espécie de cimento como liga), escadarias em pedra, terraços com floreiras, uma enorme figueira, muros de contenção ornados com figuras, aquedutos e arcos sobre pequenos vales, dreno de água, telhas, canaletas em pedra, oratório, fornos, porcelanas, cabos de panela, cerâmicas neobrasileiras (que misturam características das culturas negra, branca e indígena), grés fino, cachimbos e demais testemunhos materiais. As peças encontradas nas escavações são do final do século 18 e início do século 19. Para Aline, a peça mais inusitada encontrada foi uma botinha de vidro que, na Europa, é conhecida como o copo do segredo.
Escavações
As escavações começaram no ano de 1991, bem depois que “cicatrizes” cortando a Serra do Mar apareceram em imagens de satélites. As marcas denunciavam cursos de rios e construções desconhecidas. Técnicos levaram quase dois anos para localizar as estradas escondidas sob mata fechada e terreno íngreme. O trecho começa na beira da Rodovia Rio-Santos até atingir 200 metros de altitude. Na subida, foram identificadas estradas que se cruzam perpendicularmente. Elas eram utilizadas para o escoamento da produção de cerâmicas produzidas por escravos.
“Um dos aspectos mais representativos da diversidade cultural presente no Sítio São Francisco é a atividade açucareira. A complexidade de fabricação deste produto, representada pela existência de várias etapas, pela necessidade de utilização de engenhosos equipamentos e de mão de obra especializada, nos fornece inúmeros subsídios para a compreensão de atividades fabris de outrora. O vestígio mais emblemático é o forno, com as quatro fornalhas e cavidades, onde se depositavam tachos de cobre fumegantes com o caldo da cana. Implantado sobre terraço, recebeu o revestimento de lajotas cerâmicas e cobertura de telhas capa e canal”.
Fonte: http://www.sitiosaofrancisco.org.br
Visitação
Para a visitação, é aconselhável estar preparado para um dia de muito esforço, pois o percurso é de aproximadamente uma hora de subida e mais duas horas para fotografar e admirar a beleza local. Apesar da caminhada considerada de grau médio, todos os esforços são compensados quando se chega ao Sítio Arqueológico. Essa é a descrição desse universo “utópico” assinada pela arqueóloga, que analisou cada pedacinho das remanescentes peças e ruínas do sítio.
Quando se fala em turismo na cidade de São Sebastião, é imprescindível a visitação do sítio arqueológico e o importante contato com os monitores do município. Tais profissionais capacitados conhecem os locais certos e oferecem instruções históricas e curiosidades sobre tudo, além de garantirem segurança aos visitantes.
Cachimbos
Nas escavações, foi encontrada a maior coleção de cachimbos existente na história do Brasil. A confecção desses artefatos fazia parte do ritual de negros e brancos. O cachimbo era utilizado por todos, inclusive por crianças. A forma fálica do cachimbo levanta a hipótese do órgão sexual masculino, símbolo da fertilidade africana e uma forma de identificação de qual tribo o artesão negro pertenceu.
Aquedutos
“Para o sistema de captação era “necessário levar a água a uma grande altura, o que impõe a necessidade de ir buscá-la muito longe e fazer para isso obras consideráveis…” Existia também a necessidade de controlar o fluxo, quando este se avoluma, para que se quebre a cana “na compressão suficiente para a extração de todo o caldo”. Talvez por este motivo encontramos vestígios de comporta em uma das canaletas, em direção ao forno. O reservatório, hoje arruinado, tinha a função de regularizar o fornecimento, garantindo assim constância nos tempos de estiagem, consoante com as palavras da autora, ao afirmar que: “A água era levada em declividade moderada por meio de condutores de (…) alvenaria, geralmente elevados sobre arcos, conhecidos como aquedutos. Em alguns casos, devidos às condições topográficas especiais, (…) o tanque ficava situado a mais de um quilometro do engenho” (ibidem. 1990, p. 35,48,49).”
http://www.sitiosaofrancisco.org.br
Cerâmica
O bairro São Francisco foi o expoente da cerâmica. Toda estética fálica colocada nos cachimbos e nos cabos das panelas de barro é a marca da identidade africana. Também era uma maneira dos negros afirmarem sua dignidade, pois ali os senhores comiam e, de certa forma, a comida era uma oferenda aos deuses africanos.
Matéria-prima
Há muitos séculos, os indígenas dominavam o barro. Usavam ornamentadas urnas de cerâmica nos seus cultos funerários com muitas decorações ao redor. A cerâmica encontrada no sítio é uma imitação da cultura indígena.
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