Com certeza, esse fotógrafo de expressão internacional é um dos responsáveis por encontrarmos, ainda hoje, resquícios da mata preservada e não depararmos com as usinas nucleares, planejadas para serem construídas em Iguape. Na década de 1980, como fotojornalista, Araquém foi cobrir uma matéria em Cubatão.
Naquele tempo, a poluição urbana estava sufocando a Serra do Mar e acabando com a fauna e a flora da mata. “Nessa época, eu estava cantando a minha aldeia e o perigo da Serra do Mar desabar sobre Cubatão era iminente.” Suas imagens e sua coragem fizeram com que o país atentasse para a grave situação humana e ecológica que o município atravessava. Começava ali uma história de arte, beleza e contestação. Araquém percebe a importância da fotografia na conscientização dos brasileiros para a preservação do meio ambiente.
Anos depois, fotografando para a sucursal d’ O Estado de São Paulo, na cidade de Santos, ainda com o país sob o regime militar, Araquém toma conhecimento das intenções do presidente Figueiredo de construir duas usinas nucleares em Iguape. A região era pouco habitada e com praias desertas, o que, para o governo da época, reunia as melhores condições para a empreitada. “Eu precisava fazer algo. Conversei com meu pai sobre a importância de denunciarmos e, ao mesmo tempo, informarmos a população sobre o que estava acontecendo ali. Nasceu a ideia da imagem que representou a causa e ficou conhecida no mundo todo – O velho Queco –, a imagem de meu pai com
os cabelos soltos, representando o pescador, o caiçara, segurando um quadro com as ossadas das vítimas de Hiroshima.
O dia estava nublado, o vento forte, e instiguei meu pai a expressar na imagem: ‘Nós sabemos o que está para acontecer aqui e as consequências disso’. Lembro que ele ficou abalado, aquela energia tomou conta dele, e logo após a foto ele ofereceu quadro para as sete ondas o mar. Voltou-se para mim e disse: ‘Não se preocupe meu filho; aqui não construirão nada’”. O mais incrível dessa história, que faz parte da primeira grande vitória de uma causa ecológica no país, foi os restos desse quadro terem sido encontrados e guardados por um caiçara que, anos mais tarde, se tornou um dos grandes “mestres da mata” de Araquém: Artur Lino. Araquém seguiu seu caminho, unindo os ecossistemas de todo o Brasil.
Fotografou durante mais de vinte anos os parques ecológicos espalhados pelo país e os divulgou em seu trabalho Terra Brasil, referência de sucesso editorial no Brasil. Com quase cinquenta anos de carreira, mais de cinquenta livros editados e centenas de exposições, pergunto a ele quando retornará à região do lagamar, assim como fazem os golfinhos anualmente, para conceber um novo filhote.
Um segundo livro, como Mar de dentro, lançado com estrondoso sucesso na década de 1990. “Tenho um carinho imenso pela região. A Mata Atlântica sempre me fascinou; tenho muitos amigos lá, e a beleza e a importância desse berçário me fascinam. Preocupam-me a sua preservação e os cuidados que a população local deve ter com o crescimento do turismo. Que ele seja pensado, sustentável, e beneficie a todos. Já estou planejando algo e, se o Cidade&Cultura quiser unir forças comigo, estou sempre aberto para ideias e iniciativas em prol do meio em que vivemos.” Para assistir à entrevista completa, acesse o portal: cidadeecultura. com
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