Quando Caetano Veloso e Gilberto Gil compuseram a canção “Haiti”, nos fizeram refletir, por meio da arte, a respeito de questões sociais, através de uma analogia com o país caribenho, que sofre há anos com conflitos. E, ao final da letra, dizem: “o Haiti não é aqui”. Ao ouvir a frase, outras questões vigentes aparecem, principalmente relacionadas às situações vividas por imigrantes haitianos que sofrem ao chegar a um novo país.
Por esta ótica, o CCBB Rio de Janeiro recebe a 1ª Mostra de Cinema Haitiano no Brasil e apresenta uma oportunidade única de assistir a seis produções de cineastas do Haiti e do Brasil, entre longas, curtas, documentários e animação que tratam de exibir os conflitos sociais que acontecem no Haiti.
A mostra, uma iniciativa do Centro de Arte e Pesquisa People’s Palace Projects (radicado em Londres) quer, também, proporcionar um espaço para diálogo e troca de experiências entre os países através desta identidade cinematográfica. A mostra acontece em um momento em que o pequeno e populoso país caribenho se encontra mergulhado em uma crise política que reverbera na sociedade. Com curadoria dos haitianos residentes no Brasil Richemond Dacilien e Ismane Desrosiers, esta retrospectiva busca não apenas entreter, mas também provocar uma reflexão sobre o Haiti e sua diáspora, particularmente sobre os 161 mil haitianos que atualmente residem no Brasil. Os filmes selecionados são “Freda”, “Barikad”, “A batida não para”, “Terremoto”, “Cousine” e “Chache Lavi”.
Na opinião do curador da mostra, Richemond Dacilien, o diálogo cultural é também uma forma de se ampliar o pertencimento dos migrantes haitianos no Brasil. “O Haiti, a primeira república negra independente do mundo, está passando por uma crise sem precedentes, há várias décadas resultando na migração de grande parte de sua população em busca de uma vida melhor, sendo milhares para o Brasil. Por isso, é importante criar mais espaço para um intercâmbio cultural entre esses dois povos, oferecendo ao público brasileiro alguns dos melhores filmes da indústria cinematográfica haitiana que, apesar da situação catastrófica do país, continuam entre os melhores filmes já produzidos na região do Caribe”, relata.
Sobre o momento por que passa o Haiti, o pesquisador, educador e cineasta brasileiro Clementino Júnior está na mostra com o filme “Chache Lavi”, em que faz um relato preciso sobre a situação atual. “Alguns imigrantes trazem suas perspectivas sobre essa busca de uma nova vida, enquanto indivíduos ou como aqueles que oportunizarão aos seus familiares a saída do país, e em um país que os recebe mas que não abandona seus hábitos racistas com essa população estrangeira que, como relatado no filme, ama o Brasil desde que conheceu o futebol de Pelé na Copa do Mundo em 1970. Que a memória oral registrada neste documentário sirva de reflexão para a construção de novas imagens e narrativas que contribuam para a real emancipação e liberdade do Haiti”, diz.
O evento é um desdobramento do MIDEQ (https://www.mideq.org/pt-br/), um projeto de pesquisa internacional em que curadores trabalham como pesquisadores seniores sobre migração entre os países do hemisfério sul que estuda seis rotas migratórias, entre elas Haiti e Brasil.
Na programação, quatro dos seis filmes (“Freda”, “Barikad”, “Terremoto” e “Chache Lavi”) revisitam o conturbado passado do país, o terremoto de 2010 que matou 300 mil haitianos e trouxe milhares ao Brasil, mas também projetam a possibilidade de um futuro esperançoso e a presente dúvida sobre imigrar ou resistir para sobreviver no Haiti. A programação completa está em https://peoplespalaceprojects.org.uk/pt/projects/1a-mostra-de-cinema-haitiano-no-brasil/
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