Não tem como falar de esporte, sem citar boicotes, guerras, ditaduras, disputas de ideologias, já que esses temas sempre seguiram as competições. Prova disso, é que a Copa do Mundo, o torneio esportivo mais famoso do planeta, deixou de ser realizada duas vezes (nos anos de 1942 e 1946) em virtude da Segunda Guerra Mundial. Já os Jogos Olímpicos não aconteceram nos anos de 1916 (em virtude da Primeira Guerra Mundial), em 1940 e 1944 (em consequência da Segunda), lembrando que nesses dois anos, também não houve as Olimpíadas de inverno.
Falando em conflitos, um ato totalmente pejorativo, aconteceu em 1936 nos Jogos de Berlin, onde o velocista americano Jesse Owens venceu a prova, mas Adolph Hitler se negou a cumprimentar o atleta, pelo fato dele ser negro. O ditador austríaco que comandava a Alemanha, usou os jogos para divulgar a ideologia do partido nazista e recuperar a economia.
Esse não foi o único conflito. Em 1972 nos jogos de Munique, onde novamente a Alemanha é destaque, oito membros da facção palestina Setembro Negro, invadiram a vila olímpica, sequestraram 11 membros da comissão israelita. No confronto, morreram seis treinadores e cinco atletas de Israel, um policial alemão, além de cinco membros do grupo terrorista. Isto fez os jogos serem interrompidos.
Em relação aos boicotes olímpicos, tudo começou nos Jogos de Montreal em 1976. A África do Sul estava proibida de participar de competições esportivas desde 1964, em virtude do Apartheid. A seleção de Rúgbi da Nova Zelândia foi fazer uma série de jogos no país, como solidariedade à não presença do país nos jogos (lembrando que África do Sul e Nova Zelândia são potências no rúgbi), mas, eles resolveram colocar sua seleção nas olimpíadas, rompendo o combinado. Com isso, 28 nações africanas, como repúdio, boicotaram os jogos. Isso trouxe um prejuízo aos jogos, e a cidade ficou quase três décadas pagando impostos altos para zerar sua dívida.
No ano de 1980, os conflitos estavam em evidência. Os Estados Unidos obrigavam a União Soviética a tirar suas tropas do Afeganistão. Já os soviéticos garantiam que estavam fazendo a pacificação entre os islâmicos, garantindo a segurança do novo governo socialista implantado no país, mas os americanos alegavam que eles queriam o petróleo da região. Dado estes conflitos da época da guerra fria, os Estados Unidos no dia 21 de março de 1980 coordenaram um boicote aos jogos, através do seu presidente Jimmy Carter. Como se esperava, aliados fiéis como Alemanha, Japão e Canadá aderiram ao boicote olímpico. Com isso, cerca de 60 países resolveram não comparecer aos jogos, sendo os principais: Arábia Saudita, Albânia, Argentina, Bolívia, Chile, Egito, El Salvador, Filipinas, Haiti, Irã, Israel, Malásia, Marrocos, Noruega, Paraguai, Tunísia, Uruguai entre outros.
Para surpresa geral, a Grã-Bretanha, Espanha e França enviaram delegações reduzidas, não usando as suas bandeiras. Quem adotou também esse efeito, de não colocar a bandeira da nação no pódio foram: Austrália, Bélgica, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Nova Zelândia, Holanda, Porto Rico, Portugal e Suíça. Apesar de tudo, os italianos e os britânicos surpreenderam o mundo por comparecerem na União Soviética.
As surpresas não param por aí. O Brasil não adere ao boicote olímpico, decisão do presidente militar João Baptista Figueiredo, não prejudicando os atletas. Alguns países da América Latina também participaram como: Peru, México e Equador. Houve europeus que ignoraram o poderio americano, levando suas delegações e bandeiras, são eles: Grécia e Suécia. Além da Índia que ignorou os vizinhos asiáticos e resolveu comparecer. A China com problemas com Taiwan e o COI também não participou dos jogos.
Não precisa nem acrescentar, que as nações da cortina de ferro, aproveitaram para ganhar medalhas: Alemanha Oriental, Cuba, Hungria, Polônia, Bulgária e Romênia. Segundo especulações, ninguém acreditou que o Brasil ignorou os Estados Unidos, sendo elogiado por vários veículos do mundo, ao contrário da maioria dos Sul-americanos. O mascote Misha, um ursinho que para muitos, é até hoje o mais simpático personagem da história dos jogos, chora no telão, uma indireta aos boicotes olímpicos.
Como não poderia ser diferente, as Olimpíadas de 1984 em Los Angeles recebeu seus boicotes. A União Soviética alegou que precisava proteger seus atletas e resolveu não ir. Como se imaginava, Polônia, Bulgária, Hungria, Vietnã. Tchecoslováquia, Coreia do Norte, Afeganistão, Angola, Etiópia, Laos, Mongólia, Alemanha Oriental e Cuba boicotaram. De forma surpreendente a China resolveu participar dos jogos. Outros países socialistas como: Iugoslávia e Romênia, não aderiram ao boicote, inclusive ficaram entre as dez nações que mais ganharam medalhas. O medo de prejuízo para a população das cidades foi muito grande, algo que não aconteceu.
Em 1988 todos esperavam que os boicotes olímpicos tivessem terminado, tanto que Estados Unidos e União Soviética confirmaram a presença. Mas a Coreia do Norte não aceitou fazer a Olimpíadas com a outra Coreia, que um ano antes, terminava o seu regime ditatorial. O lado Norte alegou que quase todas as competições seriam no lado sul e com isso Cuba, Nicarágua e Etiópia prestaram solidariedade, não comparecendo aos jogos.
Nas olimpíadas seguintes o boicote foi boicotado! As nações esquecem suas diferenças, comparecendo. O socialismo enfraquece, várias nações começam a se dividir, e países como Iugoslávia e Tchecoslováquia acabam, dando origem a outras nações e a Alemanha se unifica. Os conflitos hoje são entre os Estados Unidos e os países do Oriente Médio, além do medo do fanatismo islâmico.
No Brasil em 2016, houve uma pequena ameaça de boicote, pois a presidente do país, Dilma Rousseff, sofreu um impeachment, e nações amigas do partido que estava no poder como Cuba, Bolívia e Venezuela ameaçaram não comparecer, mas, voltaram atrás e vieram aos jogos.
Em Copas do Mundo o destaque foi para a seleção iugoslava que foi banida das eliminatórias de 1994. A seleção já havia sido substituída pela Dinamarca na Eurocopa de 1992, por causa dos conflitos internos. Os americanos e iranianos tiraram fotos e trocaram flores em 1998 na Copa da França mostrando que as tensões estavam esquecidas.
Na Copa de 1978, a ditadura na Argentina aproveitou a empolgação do povo por causa do título, e muitos militantes foram desaparecidos. Em 1982 durante a Guerra das Malvinas, Argentina e Inglaterra ameaçaram não entrar em campo, caso se encontrassem. Por coincidência, no ano de 1986 as seleções se enfrentaram.
Em 1938 a Áustria foi aliada a seleção da Alemanha nazista e atletas que não aceitaram foram presos ou mortos. Em 1934 o fascismo entrou em campo, pois a seleção italiana foi ameaçada pelo ditador Mussolini, caso não ganhasse a competição.
Como viram, o esporte é uma porta de entrada para nações divulgarem seu poder, ditadores aparecerem, terroristas se vingarem e ideias, nem sempre boas, se expandirem.