Por Márcio Masulino
A cosmopolita Cusco, foi a antiga capital do Império Inca. Aqui estiveram presentes os representantes maiores das distintas dinastias que governaram as terras andinas. Importante polo comercial, local de passagem obrigatória e de encontro dos povos andinos, tornou-se também centro cultural e religioso nos Andes.
Cusco ou Cuzco é a denominação espanhola, em quíchua (língua indígena da América do Sul) é Qosqo ou Qusqu, e significa umbigo do mundo. Sem consenso, sua fundação é atribuída ao Inca Manco Capac, no século XI ou XII. Porém, por meio de vestígios, acredita-se que o local já era habitado há 3.000 anos. De qualquer forma, Cusco é considerada a cidade habitada mais antiga de toda a América.
Sua importância política é atribuída ao governante Pachacuto e seu filho Tupac, que em meados de 1430 e por décadas, uniram as diferentes tribos de toda região em uma área de mais de 4.000 quilômetros nas cadeias montanhosas dos Andes.
INVASÃO ESPANHOLA
Os espanhóis, desde sua chegada à região, sabiam da importância estratégica de se “conquistar” a cidade de Cusco, tomar o território e desconstruir a cultura Inca dominante.
Em 1533, Francisco Pizarro, após sangrentos conflitos, conclamou a dominação espanhola e transformou a antiga praça central Inca, que reunia as quatro regiões do Império em seus limites e era rodeada de palácios dos soberanos Incas, na atual Praça de Armas. Em sua face norte, iniciou a construção da suntuosa Catedral, com as riquezas do povo que usurpou. Os sobreviventes do massacre continuaram lutando e fundaram a dinastia dos Incas de Vilcabamba. Quarenta anos depois, com a morte de Túpac Amaru, capturado e decapitado, foram derrotados.
A História deve ser sempre observada dentro do seu contexto e dos costumes da época, mas não deixa de ser lamentável a brutalidade das invasões, a tentativa de extermínio de uma cultura e o fato dos “conquistadores” destruírem a maioria dos prédios Incas a mando dos seus novos governantes e membros da igreja cristã.
As construções que se seguiram misturaram a arquitetura espanhola com conceitos locais e, não raro, utilizando as bases de pedras das antigas edificações Incas.
A cidade, então dominada pelos espanhóis, por estar na rota entre Lima e Buenos Aires, continuou a ser um importante centro comercial e cultural. A miscigenação da população Inca remanescente e dos espanhóis recém-chegados é característica na população dos dias atuais.
TERREMOTOS
Em diversos momentos da História, Cusco sofreu com os terremotos. O de 1650 foi o mais devastador e destruiu grande parte das construções coloniais.
OS LEVANTES
Em 1780, a presença dos espanhóis foi combatida pelo cacique José Gabriel Concorcaqui (Túpac Amuru II) e seus seguidores. Foram meses de intensos conflitos que terminaram com a prisão e execução do líder e sua família na Praça de Armas.
Apesar da derrota, o movimento se expandiu por toda Cordilheira dos Andes e marcou o início de um processo que colaborou na emancipação sul-americana.
O brigadeiro Mateo Pumacahua, mestiço e outrora opositor a Túpac Amuru II, iniciou outro movimento contra a administração espanhola, porém, também foi derrotado.
REPÚBLICA
O Peru teve sua independência decretada em 1821 e Cusco manteve sua importância cultural e política.
Da cidade, em 1911, partiu a expedição do explorador americano Hiram Bingham, que encontrou as ruínas incas de Machu Picchu.
TURISMO
Cusco foi declarada em 1933, como a “Capital Arqueológica da América e posteriormente, em 1978, como a “Herança Cultural do Mundo”. Em 1983, pela UNESCO, como Patrimônio Cultural da Humanidade”
A cidade, atualmente, é o principal destino turístico do Peru.
O QUE VISITAR NA CIDADE
Dica importante – Economize adquirindo um bilhete turístico de acesso a diversos museus e sítios arqueológicos, fica bem mais barato do que comprar um a um na entrada do atrativo.
O bilhete pode ser adquirido na Oficina Ejecutiva del Comité, ou na entrada de cada uma das atrações contempladas neste passe.
Algumas atrações contempladas no bilhete turístico: Museu Histórico Regional, Museu de Arte Contemporânea, Monumento a Pachacutec, Museu de Coricancha, Museu de Arte Popular, Centro de Arte Nativa Qosqo, Parque Arqueológico de Tipon e Parque Arqueológico de Piquillacta.
Estátua de Pachacútec na Praça de Armas Arco de Santa Clara
PRAÇA DE ARMAS
É a praça principal da cidade e sem dúvida o melhor ponto de partida para conhecê-la. Muita movimentada, com bares, restaurantes e coloridas lojas, é um dos pontos mais movimentados de Cusco.
Desde as primeiras horas do dia pode-se observar a movimentação do devoto povo nas igrejas e os turistas que não param de chegar ou de sair.
A estátua de Pachacútec, imperador Inca que construiu o santuário arqueológico de Machu Picchu, nos faz lembrar que aqui outrora se encontravam as construções Incas e que essa praça fora um grande campo de batalha.
IGREJA DA COMPANHIA DE JESUS
Na praça de armas, sim, na mesma praça onde está a Catedral, encontra-se esta maravilhosa igreja de construção no estilo barroco. Essa proximidade das edificações demonstra a importância desta ordem Jesuíta no ordenamento eclesiástico local.
Foi inaugurada em 1668, pouco tempo depois da vizinha catedral.
Catedral Basílica da Assunção da Virgem Convento de São Francisco
CATEDRAL BASÍLICA DA ASSUNÇÃO DA VIRGEM
Uma das dezenas de construções religiosas espalhadas pela cidade, teve sua construção iniciada em 1560, sobre as ruínas do Palácio Viracocha, e finalizada cem anos depois.
Sua beleza é estonteante e ao mesmo tempo intrigante. Uma quantidade enorme de obras sacras banhadas em ouro ou prata e outras em madeira de cedro, talhadas pelos índios.
Interessante observar como a Igreja Católica se utiliza de aspectos da cultura andina para aproximar os Incas da religião imposta.
Em um quadro da santa ceia é servido um cuy, prato típico local e uma das imagens da Virgem Maria é a Pachamama, a Mãe Terra dos povos dos Andes.
IGREJA E CONVENTO DE SÃO FRANCISCO
Em pleno centro histórico de Cusco e em frente a praça de mesmo nome, pode-se visitar essa imponente construção da ordem franciscana, que teve seu início em 1549 e finalização um século depois.
Foram utilizadas pedras retiradas das construções incas e sua fachada, apesar de suntuosa pelo tamanho e beleza arquitetônica era de pouco luxo, como aliás, determina as diretrizes da ordem.
ARCO DE SANTA CLARA
Arco triunfal construído no centro histórico de Cusco e ao lado da Plaza San Francisco. Em comemoração ao início da constituição da Confederação Peru- Boliviana, o General André de Santa Cruz, solicitou a sua construção. Foi entregue em 1835 e desde 1972 faz parte da Zona Monumental de Cusco, declarado Monumento Histórico do Peru e, por fazer parte do centro histórico da cidade, Patrimônio Histórico da Humanidade. O arco atravessa a rua Santa Clara, que deve seu nome ao Convento das Clarissas, situado a 100 metros do arco.
Convento de Santo Domingo Cerâmica Inca Sítio Arqueológico de Coricancha. Fotos Márcio Masulino
IGREJA E CONVENTO DE SANTO DOMINGO – EL QORIKANCHA
Este templo da ordem Dominicana foi construído sobre o templo Inca mais importante do império: El Qorikancha. O antigo templo era cercado de ouro e seus sacerdotes veneravam o Deus Sol, entre outras divindades.
Com o grande terremoto de 1950, e durante a sua reconstrução, parte das construções Incas puderam ser recuperadas, preservadas e apresentadas aos visitantes.
Muitas delas tinham sido escondidas pelas construções coloniais e hoje podem ser admiradas pela sua qualidade, complexidade e solidez.
Alguns espaços são abertos à visitação como o Cerco do Sol, sala que guardava a representação do Deus Huiracocha e múmias Incas, o Cerco das Estrelas, recinto de adoração as estrelas, servas da lua, filhas da lua e do sol, Fonte Cerimonial, Cerco Sacrificial, Jardins Sagrados, Beco Sagrado, entre outros.
MUSEU DE QORIKANCHA (CORICANCHA)
O museu fica sob a esplanada do sítio arqueológico de Coricancha. Apresenta objetos encontrados durante o trabalho, peças de cerâmica, ferramentas, múmias reais, mantos têxteis, vasos cerimoniais (Keros), crânios humanos e outros ossos. Quadros explicativos apresentam a história e a cultura dos povos andinos.