Por Carla Pastori e Caroline Maki
Como contamos em posts anteriores (Jalapão, Serras Gerais), nosso coletivo de fotografia sempre programa viajar por aí, em busca de contato com a natureza e, ao mesmo tempo, para registrar e eternizar em fotos todas as belezas que o planeta nos oferece. Nossas expedições fotográficas são cuidadosamente planejadas para que possamos aproveitar o melhor dos ambientes visitados, aquela luz especial, aquelas cores de um pôr do sol memorável, aquele céu estrelado que somente é possível apreciar longe da poluição das cidades.
Mas nem sempre é preciso dispor de vários dias e ir para tão longe. Também nem sempre nossas saídas são essencialmente fotográficas. Na verdade, aproveitamos qualquer passeio, na medida do possível, para levar nossas câmeras e praticar nosso hobby.
Recentemente estivemos na Ilha Anchieta, em Ubatuba, um município do litoral norte do Estado de São Paulo, relativamente perto da capital (pouco mais de 200 km). A Ilha Anchieta é a segunda maior ilha do norte do Estado, com cerca de 828 hectares e sete praias, e tem seu nome em homenagem ao jesuíta José de Anchieta, um dos mais importantes personagens da história colonial brasileira.
O passeio, muito gostoso, é organizado pela Ecovaletur (www.ecovaletur.com.br e @ecovaletur_oficial no Instagram), uma agência de turismo que oferece uma diversidade de roteiros ecológicos, rurais e de base comunitária na belíssima região do Vale do Paraíba e seu entorno. Há opções – para todos os gostos e níveis de disposição – de trilhas, travessias, montanhismo, caiaque, mergulho, rafting, rapel, tudo em meio a cenários paradisíacos, e muitas vezes com um toque vivencial especial, seja histórico, cultural, espiritual ou gastronômico. Enfim, além do bem-estar pelo contato com a natureza, a agência proporciona enriquecimento espiritual, fortalecimento da consciência ecológica, valorização das comunidades locais, muitas descobertas e novas amizades – tudo o que a gente mais gosta!
A expedição Ilha Anchieta da Ecovaletur inclui travessia em caiaque e, na ilha, trilha ecológica até a Praia do Sul e visita histórica às ruínas do antigo presídio que lá funcionou até sua extinção oficial em 1955. Não é um passeio fotográfico, mas a logística – há barco de apoio que acompanha todo o trajeto marítimo – permitiu que levássemos nossas câmeras para registrar todos os momentos do dia.
A aventura começa na Praia da Enseada, onde o grupo se reúne para fazer um alongamento e receber as instruções para remar. Desta praia até a ilha, são aproximadamente 5 km de remada em caiaque duplo. É preciso uma certa força dos braços e sincronia com o “parça” de caiaque, mas nada é tão difícil, mesmo tendo que remar contra o vento ou a corrente, de vez em quando: a adrenalina nos impulsiona e a sensação da brisa batendo no rosto é deliciosa. Além disso, no meio do caminho, há paradas estratégicas para um mergulho refrescante no mar.
Não há pressa para completar a travessia. Cada um rema no seu ritmo e, ao longo do trajeto, há muito o que apreciar e fotografar: a exuberância da Mata Atlântica na costa continental; a textura das águas do mar, ora mais tranquilas, ora mais mexidas; os barcos que cruzam nosso caminho; o conjunto de caiaques avançando em direção à ilha. Com sorte, contaram-nos que é possível avistar tartarugas e golfinhos!
Após pouco mais de uma hora de remada, chegamos ao nosso destino, mais precisamente na Praia do Presídio, onde está a sede administrativa do Parque e outras instalações (a maioria delas em reforma), como museu, hospedaria, banheiros, churrasqueiras e espaço para piquenique. Ali fomos recebidos por monitores credenciados, parceiros da Ecovaletur, especialmente capacitados para acompanhar os turistas nas trilhas e na visita às ruínas do presídio.
A Trilha da Praia do Sul tem pouco mais de 2 km no total, ida e volta. Não há dificuldades, mas é preciso percorrê-la devidamente calçado (de chinelos, não dá). No caminho, passamos pela Praia das Palmas e depois fizemos um curto desvio para um mirante com bela vista panorâmica para toda a enseada. Encontramos a Praia do Sul praticamente deserta: suas águas verdes, límpidas, e os costões rochosos em ambos os cantos são um convite para quem gosta de fotografar.
Depois de um descanso revigorante na Praia do Sul, retornamos à Praia do Presídio, para o ponto alto do dia: a visita às ruínas do antigo presídio da Ilha Anchieta, projetado por Ramos de Azevedo, famoso por suas obras icônicas na capital paulista, como a Casa das Rosas, o Theatro Municipal e a Pinacoteca.
São oito celas em volta de um grande pátio retangular, além de dependências como cozinha e lavanderia, as quais é possível percorrer junto com os monitores credenciados, que contam em detalhes toda a história do local, desde sua construção, em 1902, até a grande rebelião e rocambolesca fuga dos detentos, em junho de 1952. O episódio marcou a história prisional do Brasil e foi determinante para a extinção oficial do presídio em 1955.
Em 1955, os detentos que ainda ali se encontravam foram transferidos para Taubaté e, mais de 20 anos depois, em 1977, um decreto do então governador Paulo Egydio Martins transformou a Ilha em Parque Estadual, finalmente conferindo ao local a sua verdadeira destinação, de proteção de seus atributos naturais e preservação de seu patrimônio histórico- cultural.
Pouco depois das 15:00, iniciamos a remada de 5 km, de retorno ao continente. Ainda foi possível curtir o pôr do sol na Praia da Enseada, para fechar um dia de muitas fotos e conexão revigorante com a natureza. Aliás, de déficit de natureza não sofremos e, combinado com o nosso hobby número um, a fotografia, nos sentimos bem próximos da plenitude. Recomendamos fortemente este passeio a todos!
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