João Ferreira Guimarães havia comprado as terras da Fazenda do Barreiro em 1792 e seu filho, Francisco Ferreira de Souza, adquiriu outras terras que, ao serem anexadas à Fazenda do Barreiro, formaram a Fazenda Pau d’Alho.
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Desde o início, foi produzido milho, arroz e aguardente no local. No entanto, com a valorização do café e do aumento de sua produção, foram criadas instalações específicas para o beneficiamento de tal produto. A Fazenda Pau d’Alho foi uma das primeiras a dedicar-se exclusivamente ao cultivo e beneficiamento do café, se tornando um monumento exemplar da fase inicial do ciclo cafeeiro, além de ser uma das mais belas fazendas em termos arquitetônicos.
Uma das peculiaridades da fazenda é que a senzala ocupa a posição mais elevada, de destaque. Na época, era recomendado que a senzala fosse construída no lugar mais arejado e seco de uma fazenda, pois os escravos representavam um elevado investimento financeiro por parte dos cafeicultores.
No pátio das tropas eram reunidos os muares que transportavam o café até os portos litorâneos e aonde ainda se encontram as duas construções que eram usadas para acolher os tropeiros e seus apetrechos.
Paradoxalmente, um dos destaques da fazenda é espaço não construído, a área vazia. Já o Solar, ou parte alta, foi a primeira construção executada em Campinas pelo escritório do famoso engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo.
A água corrente dos rios era usada para acionar os moinhos de milho, nos quais eram produzidas a farinha, que era a base de alimentação dos escravos e da criação doméstica.
Há também até hoje uma latrina, servida de água corrente do canal local, que alimentava também os moinhos. Tal latrina é localizada sob a caixa da escada.
Cultura de café
Nas primeiras fazendas, não se costumava lavar o café. Ele era exposto no terreiro, deixado ao sol para secar, diretamente sobre a terra batida. Isso fazia com que o produto ficasse misturado com sujeiras do terreno, prejudicando sua qualidade. Posteriormente, o terreiro passou a ser revestido, a fim de melhorar a qualidade do café exportado.
Após o secamento do café, ele era levado para os pilões e, posteriormente, era peneirado e abanado, para que fossem removidos os restos de cascas e demais impurezas. A disponibilidade de águas abundantes no local facilitava o acionamento das rodas d’água distribuídas ao longo dos canais, das baterias de pilão, dos abanadores e descascadores e também a lavagem do café, além de prover água para todas as necessidades domésticas.
A fazenda chegou a ter 150 escravos, 300.000 pés de café e a produzir mais de 6000 arrobas anuais. Em seu período mais próspero, a fazenda tinha até mesmo um professor para os escravos menores.
Um dos episódios mais marcantes e folclóricos ocorridos no local foi a visita de D. Pedro I, em 1822, a caminho de São Paulo e prestes a declarar a Independência do Brasil.
Segundo relatos da época, D. Pedro I teria apostado corrida com os demais membros da comitiva e chegado sozinho, antes do previsto, à Fazenda Pau d’Alho. Ele bateu palmas e, sem se identificar como príncipe, pediu comida à proprietária da casa. Ele foi prontamente atendido por ela, que lhe pediu que comesse sentado nos degraus ao lado de fora da cozinha, pois a sala de jantar estava sendo preparada para receber o príncipe regente.
D. Pedro I e a Fazenda Pau d’Alho
Pedro achou graça na situação e obedeceu às orientações da proprietária da fazenda, sentando nos degraus, onde comeu os assados e guisados que lhe foram servidos, na companhia de escravas e mucamas.
Um detalhe que não fugiu à atenção do príncipe, ao comer seus assados, foi o jardim interno da fazenda, desenhado com símbolos maçônicos, o que lhe possibilitou identificar que o proprietário da fazenda era maçom, assim como o próprio príncipe.
Como gesto de gratidão, D. Pedro deu de presente aos proprietários da fazenda um quadro com seu retrato e convidou ele e seu filho a lhe acompanharem até São Paulo, passando então a fazer parte da Guarda de Honra do Príncipe Regente em sua jornada pela Independência do Brasil.
Quando da data do falecimento do fazendeiro que era o então proprietário do local, seu inventário registrou seu desejo que todos seus escravos fossem libertados após sua morte, com a exceção de dois, que foram excluídos por mau comportamento. Além disso, ele deixou 60 alqueires de terra e 60000 pés de café aos seus escravos. Este foi um caso raro de bom relacionamento entre senhor e seus escravos, lembrado até os dias de hoje.
Com a abolição da escravatura, a produção de café entrou em colapso. Os fazendeiros já não tinham mais condições de competir com a rentabilidade das terras férteis, de coloração roxa, abundantes no oeste do Estado de São Paulo nem com a eficiência da estrada de ferro, que nunca passou pela região, fadando esta e outras localidades ao ostracismo.
Patrimônio Histórico
A Fazenda Pau d’Alho foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e Estadual em 1968. Foi totalmente restaurada e, atualmente, é um marco histórico destinado à prática de atividades culturais e ecológicas.
Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!
Por Marco André Briones – [email protected]
Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.
Bibliografia usada:
História de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof. Benedito Rodrigues S. Neto.
Fazenda Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F. Cerqueira e José Saia Neto.
Com agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).