Fazenda Pau d’Alho em São José do Barreiro

Fazenda Pau d’Alho - foto Marco Andre Briones
Vista da senzala da Fazenda Pau d’Alho. Todas as fotos da matéria são de Marco André Briones

João Ferreira Guimarães havia comprado as terras da Fazenda do Barreiro em 1792 e seu filho, Francisco Ferreira de Souza, adquiriu outras terras que, ao serem anexadas à Fazenda do Barreiro, formaram a Fazenda Pau d’Alho.

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Fazenda Pau d'Alho - foto Marco Andre Briones
Varanda

Desde o início, foi produzido milho, arroz e aguardente no local. No entanto, com a valorização do café e do aumento de sua produção, foram criadas instalações específicas para o beneficiamento de tal produto. A Fazenda Pau d’Alho foi uma das primeiras a dedicar-se exclusivamente ao cultivo e beneficiamento do café, se tornando um monumento exemplar da fase inicial do ciclo cafeeiro, além de ser uma das mais belas fazendas em termos arquitetônicos.

Uma das peculiaridades da fazenda é que a senzala ocupa a posição mais elevada, de destaque. Na época, era recomendado que a senzala fosse construída no lugar mais arejado e seco de uma fazenda, pois os escravos representavam um elevado investimento financeiro por parte dos cafeicultores.

No pátio das tropas eram reunidos os muares que transportavam o café até os portos litorâneos e aonde ainda se encontram as duas construções que eram usadas para acolher os tropeiros e seus apetrechos.

Fazenda Pau d'Alho - foto Marco Andre Briones
Senzala

Paradoxalmente, um dos destaques da fazenda é espaço não construído, a área vazia. Já o Solar, ou parte alta, foi a primeira construção executada em Campinas pelo escritório do famoso engenheiro e arquiteto Ramos de Azevedo.

A água corrente dos rios era usada para acionar os moinhos de milho, nos quais eram produzidas a farinha, que era a base de alimentação dos escravos e da criação doméstica.

Há também até hoje uma latrina, servida de água corrente do canal local, que alimentava também os moinhos. Tal latrina é localizada sob a caixa da escada.

Cultura de café

Nas primeiras fazendas, não se costumava lavar o café.  Ele era exposto no terreiro, deixado ao sol para secar, diretamente sobre a terra batida. Isso fazia com que o produto ficasse misturado com sujeiras do terreno, prejudicando sua qualidade. Posteriormente, o terreiro passou a ser revestido, a fim de melhorar a qualidade do café exportado.

Após o secamento do café, ele era levado para os pilões e, posteriormente, era peneirado e abanado, para que fossem removidos os restos de cascas e demais impurezas. A disponibilidade de águas abundantes no local facilitava o acionamento das rodas d’água distribuídas ao longo dos canais, das baterias de pilão, dos abanadores e descascadores e também a lavagem do café, além de prover água para todas as necessidades domésticas.

A fazenda chegou a ter 150 escravos, 300.000 pés de café e a produzir mais de 6000 arrobas anuais. Em seu período mais próspero, a fazenda tinha até mesmo um professor para os escravos menores.

Fazenda Pau d'Alho - foto Marco Andre Briones
Degraus onde D Pedro I comeu

Um dos episódios mais marcantes e folclóricos ocorridos no local foi a visita de D. Pedro I, em 1822, a caminho de São Paulo e prestes a declarar a Independência do Brasil.

Segundo relatos da época, D. Pedro I teria apostado corrida com os demais membros da comitiva e chegado sozinho, antes do previsto, à Fazenda Pau d’Alho. Ele bateu palmas e, sem se identificar como príncipe, pediu comida à proprietária da casa. Ele foi prontamente atendido por ela, que lhe pediu que comesse sentado nos degraus ao lado de fora da cozinha, pois a sala de jantar estava sendo preparada para receber o príncipe regente.

D. Pedro I e a Fazenda Pau d’Alho

Pedro achou graça na situação e obedeceu às orientações da proprietária da fazenda, sentando nos degraus, onde comeu os assados e guisados que lhe foram servidos, na companhia de escravas e mucamas.

Fazenda Pau d'Alho - foto Marco Andre Briones
Jardim Interno com Símbolo Maçônico

Um detalhe que não fugiu à atenção do príncipe, ao comer seus assados, foi o jardim interno da fazenda, desenhado com símbolos maçônicos, o que lhe possibilitou identificar que o proprietário da fazenda era maçom, assim como o próprio príncipe.

Como gesto de gratidão, D. Pedro deu de presente aos proprietários da fazenda um quadro com seu retrato e convidou ele e seu filho a lhe acompanharem até São Paulo, passando então a fazer parte da Guarda de Honra do Príncipe Regente em sua jornada pela Independência do Brasil.

Quando da data do falecimento do fazendeiro que era o então proprietário do local, seu inventário registrou seu desejo que todos seus escravos fossem libertados após sua morte, com a exceção de dois, que foram excluídos por mau comportamento. Além disso, ele deixou 60 alqueires de terra e 60000 pés de café aos seus escravos. Este foi um caso raro de bom relacionamento entre senhor e seus escravos, lembrado até os dias de hoje.

Com a abolição da escravatura, a produção de café entrou em colapso. Os fazendeiros já não tinham mais condições de competir com a rentabilidade das terras férteis, de coloração roxa, abundantes no oeste do Estado de São Paulo nem com a eficiência da estrada de ferro, que nunca passou pela região, fadando esta e outras localidades ao ostracismo.

Patrimônio Histórico

Fazenda Pau d'Alho - foto Marco Andre Briones
Vista exterior

A Fazenda Pau d’Alho foi tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e Estadual em 1968. Foi totalmente restaurada e, atualmente, é um marco histórico destinado à prática de atividades culturais e ecológicas.

Não deixe de visitar a cidade de São José do Barreiro nem a linda Fazenda Pau d’Alho. Você poderá mergulhar na história do Brasil e vivenciar locais tão importantes e marcantes do ciclo cafeeiro no Brasil, além de saborear a deliciosa cozinha local e conhecer seus habitantes tão amigáveis. Boa viagem!

 

Por Marco André Briones – [email protected]

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em julho de 2018.

Bibliografia usada:

História de São José do Barreiro: Período do Pré Café e no Tempo Áureo do Café, de Prof. Benedito Rodrigues S. Neto.

Fazenda Pau d’Alho – Roteiro de Visitação, de Antonio Luiz Dias de Andrade, Carlos G.F. Cerqueira e José Saia Neto.

Com agradecimentos especiais ao Prof. Benedito Rodrigues S. Neto e a Beatriz de Carvalho Grandchamp Martins (Prefeitura de São José do Barreiro).

 

Para saber mais dicas de turismo cultural e histórico no Brasil e no mundo, acompanhe a coluna de Marco André Briones no portal Cidade&Cultura

Fazenda Pau d'Alho - foto Marco Andre Briones
Entrada da Fazenda Pau d’Alho