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Fazenda Santa Maria do Monjolinho em São Carlos

Fachada da Fazenda Santa Maria do Monjolinho.  Todas as fotos são de Marco André Briones

Imponente, majestosa e surpreendente são alguns dos adjetivos que podemos usar para descrever a Fazenda Santa Maria do Monjolinho, situada a 10 km do centro de São Carlos.

Tive a oportunidade de conhecê-la há alguns meses atrás e, ao chegar no local, fiquei muito impressionado pela beleza do casarão da fazenda e pelo bom estado de conservação em que a propriedade se encontra, de uma maneira geral.

Trata-se de uma fazenda que foi fundada em 1850 pelo Comendador Theodoro Leite de Almeida Camargo e seu irmão, José Inácio Camargo. A propriedade adquiriu tal nome devido ao fato da esposa de Theodoro Camargo se chamar Maria, além do fato da fazenda estar ao lado do rio Monjolinho, que banha a cidade de São Carlos.

Piso em Pé de Moleque – feito pelos escravos

A fazenda foi criada em uma área de 1200 hectares, que fazem parte da propriedade até os dias de hoje. Os fundadores iniciaram a construção da fazenda com a ajuda de 60 escravos, que trabalharam na retirada da mata nativa e no preparo do solo para o plantio do café.

A história da Fazenda Santa Maria do Monjolinho e de seu proprietário, Theodoro Camargo, ensina uma dura lição a todos a que a visitam. A lição é a de que a ambição e a busca desmesurada pela ascensão social e status pode nos levar à desgraça e, até mesmo, à falência.

Foi exatamente isso que aconteceu com Theodoro Camargo.

Ciclo do Café

Durante o período áureo do café no Brasil, a distribuição de títulos de nobreza foi uma forma que a monarquia local encontrou para angariar o apoio dos grandes cafeicultores e da elite econômica e social que se formava em todas as partes do território brasileiro.

Vista do Palacete

Desta forma, quando o então Imperador D. Pedro II visitou São Carlos em 1886, Theodoro Camargo vislumbrou a possibilidade de ascender à nobreza, caso conseguisse solicitar um título de barão diretamente à D. Pedro II, se comprometendo a cumprir algumas promessas, que poderiam impressionar o Imperador do Brasil.

Camargo prometeu que em 5 anos teria concluído as obras prometidas, que poderiam ser inspecionadas pessoalmente pelo Imperador quando regressasse à São Carlos. Ficando D. Pedro II satisfeito com o cumprimento das promessas, seria dado o título de barão a Theodoro Camargo.

Aqueduto e área para visitas escolares

Como era uma pessoa que almejava ascender socialmente e ter certos privilégios que um título de nobreza lhe traria, Camargo prometeu ao Imperador que construiria um palacete em estilo europeu em sua fazenda e, além disso, também criaria um ramal de trem, com estação de passageiros e carga, dentro de sua propriedade. O palacete foi construído pelo renomado arquiteto italiano Pietro David Cassinelli.

Próximo ao palacete, foi construído um lindo aqueduto, usado para movimentar a roda d’água e gerar energia para o beneficiamento do café, que ficava descansando em um grande terreiro atijolado. Havia ainda um sino que ficava ao lado da casa do administrador. Tal sino era usado para ditar o ritmo dos trabalhos.

Tropeirismo

Estação Monjolinho

Tendo em vista que o movimento tropeirista passou a perder relevância com a chegada das ferrovias ao Brasil, pois as cargas que eram anteriormente transportadas pelas mulas dos tropeiros passaram a ser carregadas em quantidade muito maior e em velocidade extremamente superior através dos trens, cujas linhas estavam começando a ser construídas em vários pontos do território nacional. Tal facilidade permitia aos grandes fazendeiros uma otimização da produção cafeeira e do escoamento das mesmas aos grandes centros consumidores e ao exterior. A via férrea beneficiou São Carlos a partir de 1884, quando foi inaugurada a estrada de ferro que ligava São Carlos a Rio Claro.

No entanto a história seguiu um curso, que não havia sido previsto por Camargo… E que, no final das contas, traria a ele grande infortúnio e tristeza.

Abolição da escravatura

Senzala – Troncos de tortura – Casa dos Colonos

Foi proclamada a abolição da escravatura no Brasil, que acabou por extinguir, de uma hora para a outra, a maior fonte de mão de obra da cultura do café existente na época. Portanto, após tal impactante acontecimento, a execução das obras prometidas por Camargo ficou comprometida. Não havia mais uso também para a Casa das Mucamas, que havia sido construída para abrigar as negras escravizadas que cuidavam dos afazeres domésticos e das que eram amas de leite. Esta construção, existente até hoje, ficava aos fundos do palacete. A senzala ficava um pouco mais afastada, próxima à Tulha, onde era beneficiado o café. Até os dias de hoje podemos ver o pelourinho local e os postes nos quais os escravos eram amarrados e castigados.

Para piorar ainda mais a situação, houve a Proclamação da República em 1889, o que fez com que a monarquia fosse deposta e, consequentemente, tornou totalmente inúteis quaisquer títulos de nobreza.

Já que não havia mais um Imperador no Brasil e, muito menos a possibilidade de se obter um título de barão, Camargo se viu endividado, sendo suas dívidas impiedosamente cobradas por seus credores e financiadores.

Venda da propriedade

Tulha

Camargo foi levado a vender sua propriedade, incluindo o palacete em estilo europeu que havia construído, a tulha, senzala, o trecho da ferrovia dentro de sua propriedade, assim como a Estação Monjolinho, que ficava no ramal que interligava São Carlos a Ribeirão Bonito. Esse ramal operou continuamente até seu fechamento definitivo em 1969. Ele acabou vendendo tudo de “porteiras fechadas”, ou seja, com todo o mobiliário e obras de arte adquiridas para sua propriedade.

A Fazenda Santa Maria do Monjolinho foi vendida em 1904 para o casal Candido de Souza Campos e Zuleika de Toledo Malta. Desde então, a propriedade tem se mantido sob posse da família Souza Campos. A partir de 1904, a mão de obra escrava foi substituída pela dos imigrantes italianos, que passaram a ocupar a antiga senzala, que foi adaptada para receber a nova mão de obra proveniente da Europa, que daria prosseguimento às atividades cafeeiras da fazenda. Foram recebidos 400 imigrantes italianos, que eram remunerados através do sistema meeiro, no qual metade da produção era destinada ao fazendeiro produtor e a outra metade era dividida entre as famílias dos imigrantes.

Tombamento

Interior do Palacete

Em 2007 a Fazenda Santa Maria do Monjolinho foi tombada pelo CONDEPHAAT. A família Souza Campos criou um museu casa, que pode ser visitado diariamente por todos os interessados através de um agendamento prévio ou apenas pelo comparecimento direto ao local nos horários de funcionamento da fazenda. Na visita, podemos conhecer por dentro todo o maravilhoso casarão e suas belas obras de arte, mobiliário e lembranças do período áureo do café. Também são recebidas muitas visitas escolares ao longo do ano. As crianças ficam fascinadas ao conhecer a história do local e ao terem contato com um maquinário e vestígios de uma época passada de nossa história.

Restaurante Rural

Hoje em dia, parte da antiga Estação Monjolinho foi restaurada, e lá se encontra um restaurante de cozinha típica brasileira, além de uma pequena loja, no qual podemos comprar o delicioso café produzido localmente até os dias de hoje.

Recomendo que todos que quiserem ter uma noção do que foi o apogeu do ciclo cafeeiro do Brasil e de São Paulo que não deixem de conhecer esta linda fazenda, com toda sua rica história, marcada por muita ambição, desilusão e reviravoltas.

Para maiores informações, consulte o site oficial da Fazenda Santa Maria do Monjolinho

Marco André Briones – marcoandrebriones@cidadeecultura.com.br

Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em novembro de 2018.

Com agradecimentos especiais à Sara de Jesus Silva

Bibliografia usada:

Café, Indústria e Conhecimento – São Carlos – Uma História de 150 anos, de Oswaldo Mario Serra Truzzi, Paulo Reali Nunes e Ricardo Tilkian.

História da Fazenda Santa Maria do Monjolinho, de Sara de Jesus Silva e Edmar Neves.

Para saber mais dicas de turismo cultural e histórico no Brasil e no mundo, acompanhe a coluna de Marco André Briones no portal Cidade&Cultura

 

Interior do Palacete
Parte restaurada da Estação Monjolinho
Marco André Briones

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