Testemunho de um ciclo
A Fazenda Santana no Pontal de Cruz teve como primeiros proprietários mulheres que não tiveram medo e transformaram a fazenda num próspero negócio.
Passando por mais uma das ruas que recortam São Sebastião, deparamo-nos com uma magnífica fazenda. A Fazenda Santana rodeada por coqueiros e uma diversificada fauna. E tem suas janelas e portas ressaltadas pelo azul que contrasta com o branco das paredes. O pouco do que resta dessa importante residência da época colonial fascina e surpreende. Foi uma das primeiras fazendas a serem erguidas na capitania de São Paulo, nos seus tempos áureos de produção, abrangendo léguas e léguas de terras. Seu terreno ia do bairro Pontal da Cruz até a divisa do bairro de São Francisco.
A Fazenda Santana, no século XVIII, foi administrada por duas mulheres, Antonia Maria de Jesus e sua sobrinha Gertrudes, ambas provindas de Portugal, que se diferenciavam na época por saberem ler, escrever e negociar produtos produzidos por escravos. Dona Antonia Maria assumiu a fazenda assim que seu irmão faleceu e, quando esta morreu, deixou um lindo testamento que passava a propriedade para sua sobrinha Gertrudes. A herdeira decidiu morar na fazenda logo depois que seu marido veio a falecer. A historiadora Rosangela nos conta que, em São Sebastião, muitas mulheres moravam sozinhas com seus filhos e escravos, deixadas por seus maridos que por vezes sumiam em busca de ouro ou por falecimento, e não se intimidavam em cuidar das suas terras e usar seus chicotes.
Considerada um dos raros testemunhos arquitetônicos da prosperidade da Vila de São Sebastião, a Fazenda Santana, construída em 1734, foi construída com pedra, cal de conchas e óleo de baleia. Em 1788, São Sebastião registrava 25 engenhos em funcionamento. As arrobas (unidade vigente na época equivalente a 14.7 quilos) eram vendidas quase que exclusivamente para o Rio de Janeiro, que pagava o dobro comercializado no Porto de Santos. Foi aí que o então presidente da província, Bernardo José, proibiu a venda da cana para o Rio de Janeiro, pois queria que os impostos ficassem em São Paulo. O decreto foi um golpe e determinou o fechamento de muitos engenhos. A Fazenda Santana foi uma das poucas que sobreviveram ao baque. Diversas pressões políticas fizeram com que o decreto fosse revogado em 1788.
A fazenda funcionava como engenho de cana-deaçúcar, com antiga senzala (que ficava atrás do aqueduto), a Casa Grande em estilo colonial, capela, engenho, aqueduto com uma grande roda d’água, modelo paulista centralizado dentro da casa e cinco juntas de carro de boi na cor vermelha. O engenho da Fazenda Santana foi construído posteriormente ao século XVIII, tendo como base a engenharia açoriana, que consistia na captação de água da serra para mover o moinho.
Esta técnica foi usada por muito tempo. Além de negociarem cana de açúcar, as proprietárias vendiam farinha de mandioca. Em 1798, chegaram a produzir o total de 76 alqueires de farinha na própria fazenda. A Casa Grande já foi reformada e no local é possível ver as ruínas dos arcos por onde passava o aqueduto, do engenho e da roda d’água, além de prensa para fazer farinha, pilões, peças para ralar mandioca, um oratório e a imagem em madeira de Santana, padroeira de uns dos antigos donos da Fazenda.
De geração a geração, as terras chegaram às mãos da família Rego. Antônio Hypólito do Rego teve dois filhos. Seus sete netos são os atuais proprietários deste local riquíssimo em valor histórico e cultural da região. E, no ano de 1969, foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo).
Apesar de ser propriedade particular, é possível visitar a Casa Grande e a antiga “Casa da Farinha”, com roda d’água e pilões. A visita turística na fazenda é permitida somente com autorização dos proprietários.
Festa de Santana
Um dos primeiros donos da Fazenda era muito devoto de Santana. Sua imagem de madeira é vista num oratório posto no interior da Casa Grande. A festa religiosa de Santana foi uma das mais importantes da cidade em décadas passadas. Hoje é menor, mas não perde em tradição. Há missa no balcão da Casa Grande e, com o término da novena, são realizadas danças típicas como a do boi reveste, a do caiapó, entre outras.
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