História de Santos: fatos, lutas e vitórias

Antigo Mercado Municipal

Escrever sobre a história de Santos é como escrever um romance cheio de grandes acontecimentos, pois, desde que sua vocação natural se estabeleceu, essa cidade foi e ainda é palco e berço de grandes modificações no rumo da história brasileira. Essa vocação vem desde a mudança do Porto de São Vicente, situado onde hoje é o bairro da Ponta da Praia, para o Lagamar do Enguaguaçu. Aí ela passa a ter importância à Capitania de São Vicente, transformando-se na porta de entrada e saída de produtos para o planalto. Uma Vila ameaçada, sempre cercada de fortes e fortalezas, podemos dizer que ela é, sem dúvida, uma das personagens principais do desenvolvimento da civilização brasileira.

Homem do Sambaqui

Como na maioria do litoral brasileiro, encontramos em Santos vestígios da cultura anterior à chegada dos índios: os chamados sambaquieiros. Esse povo tinha por hábito alimentar-se de peixes, moluscos e, como defesa, usavam tacapes. Recebem esse nome por construírem os sambaquis, um depósito de restos de conchas, ostras, ossos de peixes e até ossadas humanas. Em Santos, até os dias atuais, foram encontradas várias dessas formações e, como exemplo, temos o sambaqui Ilha Diana, com 1.800 anos; o sambaqui do Sandi, com 1.000 anos; o Sítio Embraport 1, com 1.160 anos; o Sítio Monte Cabrão; o sambaqui do Morro Alto; o sambaqui dos Ingleses e o sambaqui Ilhota do Chiquinho, estes dois últimos no Canal de Bertioga.

Infelizmente, muitas dessas “construções” foram destruídas, principalmente pelos colonizadores, pois, devido à fossilização de seus elementos, o produto conseguido era um forte componente para a construção de casas, fortalezas e igrejas, devido a cal que produziam. Misturada ao óleo de baleia e a pedras, as edificações eram fortes e duradouras.

Naus Portuguesas

No século XV, a procura por caminhos que chegassem até a Ásia, paraíso das especiarias, fez com que portugueses e espanhóis saíssem numa caçada desenfreada por um estreito que os levassem, principalmente os portugueses, às Ilhas Molucas. Isso não só fez com que Pedro Álvares Cabral viesse às nossas terras, mas também que várias expedições fossem enviadas para o Novo Mundo.

Após a descoberta do que até então poderia ser apenas uma ilha, a de Vera Cruz, o rei D. Manoel, enviou para essas bandas a armada de Gonçalo Coelho e nela o florentino Américo Vespúcio, provavelmente como cosmógrafo, com o intuito de achar uma passagem para o Pacífico. Essa esquadra aportou na Ilha de Goiaó em 22 de janeiro, data de São Vicente. Por mais de trinta anos o que se viu por esse “mare nostrum” foram expedições espanholas e portuguesas que tinham mais um motivo para explorar o litoral: não só achar um caminho pelo oeste como queriam desvendar e dominar as terras do lendário Rei Branco.

Rei Branco e Sierra de La Plata

Quando da expedição de Cristóvão Jacques ao Rio Paraná, foi conhecida a história do Rei Branco que possuía terras repletas de ouro, prata e pedras preciosas. A história foi contada por degredados, desertores e náufragos que viviam no litoral sul do Brasil, entre a Ilha de São Vicente e Santa Catarina. Segundo os relatos dos próprios nativos, as ricas terras ficavam a mais de 1.500 km rio a dentro e chegavam às montanhas cobertas por neve (a Cordilheira dos Andes). Lá existia uma montanha feita inteiramente de prata. Essa montanha realmente existia e era Potosí – “montanha que troveja” – e foi descoberta pelo espanhol Francisco Pizarro em 1532, onde prendeu e assassinou Atahualpa, o Rei Inca Branco. Dessa montanha eram extraídos 266 mil quilos de prata por ano.

Índios

Com a chegada dos índios tupi há mil anos, os sambaquieiros sucumbiram. Além de mais numerosos, os tupis possuíam arco e flecha, poderosa arma contra os tacapes. Porém os índios que chamavam a Ilha de São Vicente de Goaió não se fixaram ali, apenas vinham para a caça, a pesca e a captação de sal. Eles habitavam o planalto (atual cidade de São Paulo) e abriram duas trilhas na Serra do Mar até chegar à praia. Alguns lugares cuja denominação ainda persiste em tupi são a Praia do Embaré, a Fonte do Itororó, o Largo do Canéu, o Canal de Bertioga, a Ilha de Urubuqueçaba, o Rio Jurubatuba, entre outros.

Martim Afonso de Souza

Com a notícia de riquezas no interior do novo continente, o rei João III, filho de D. Manoel, enviou o amigo de infância Martim Afonso de Souza em uma expedição exploratória para combater os franceses, e tomar posse do Rio da Prata. Quando chegou aqui encontrou João Ramalho, figura conhecida dos índios locais, principalmente de Tibiriçá, que era seu sogro, chefe dos índios Tupi.

 

João Ramalho

O passado de João Ramalho, apelidado de “Patriarca dos Mamelucos”, é um mistério. Não se sabe se ele foi um degredado ou um náufrago. Presume-se que tenha chegado aqui mais ou menos em 1508. Sua influência entre os índios locais era tão grande que, segundo relato de Ulrich Schmidel (aventureiro alemão), Ramalho poderia reunir um exército de mais de cinco mil gentios. Primeiro homem branco a subir o planalto e gerou muitos filhos mestiços no Brasil. O jesuíta padre Manoel da Nóbrega fez com que se casasse com a índia Bartira e o governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, o nomeou capitão-mor da Vila de Santo André. Morreu em 1580, com inacreditáveis 95 anos e foi graças à sua ajuda que as vilas do Litoral Sul, inclusive São Paulo de Piratininga, foram colonizadas.

 

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Renata Weber Neiva

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