História de São Sebastião: a partir da ocupação Portuguesa

Origem do nome

O singular nome São Sebastião deve-se a expedição de Américo Vespúcio que, em 20 de Janeiro de 1502, batizou aquela terra com o nome do Santo, baseado em Calendário Litúrgico, coerentes com o ideal português de colonizar e, ao mesmo tempo, difundir a fé católica, homenageando o Santo daquele dia.

Ocupação Portuguesa

A ocupação portuguesa ocorreu com o início da História do Brasil, após a divisão do território em Capitanias Hereditárias, forma de administração territorial da metrópole portuguesa. A atual cidade de São Sebastião teve sua origem remota na doação das terras pela coroa portuguesa, concedidas a Pero Lopes de Souza, filho de família nobre. Ainda jovem, tornou-se navegador e, em dezembro de 1530, partiu com o seu irmão, Martim Afonso de Souza, em missão ordenada pelo rei Dom Manuel, para explorar terras brasileiras. Em 1532, decidiu retornar a Portugal. Essa aventura rendeu muitas léguas de terras no litoral norte do Brasil. Nesta primeira divisão, a região onde se desenvolveu a cidade de São Sebastião, pertencia à Capitania de Santo Amaro.

Os pedidos de terras em São Sebastião se intensificaram a partir de 1600. Como a maioria dos núcleos urbanos em tempos de colonização, São Sebastião, a cidade mais antiga do litoral norte de São Paulo, surge por interesse de colonos e donatários, pois sua posição geográfica e o porto natural proporcionam possibilidades comerciais.

Elevada à categoria de Vila em 16 de março de 1636, São Sebastião está entre as dez vilas surgidas nos territórios das antigas capitanias de Santo Amaro e São Vicente entre 1610 e 1670.

De povoado a vila

Curiosidade : Dizem alguns relatos que, para um povoado se tornar Vila era necessário que houvesse um número determinado de construções, mas São Sebastião não tinha essa quantidade exigida. Para não perder a oportunidade de uma elevação, foram construídas casas cenários, apenas as paredes externas e telhados, para que se pudesse ter o número necessário e assim obter a categoria de Vila.

Entre 1670 e 1720, a colônia viveu uma época de intensa urbanização com a descoberta das minas de ouro. Situada entre o sul produtor e Parati, porto onde escoava o ouro e de onde partiam as trilhas mais acessíveis entre a faixa da marinha e as vilas mineiras, São Sebastião, até então uma vila modesta, começa a desenvolver um período de relativa prosperidade. Portugueses atraídos por vender os produtos mais caros, iniciaram a instalação dos engenhos de cana-de-açúcar na região.

 

Capitanias Hereditárias

Com o regime das capitanias hereditárias, o rei D. João III deixava às pessoas de sua confiança, os donatários, a obrigação de colonizar o Brasil com seus próprios recursos. No Brasil, porém, várias causas contribuíram para que as capitanias não fossem bem sucedidas: a grande extensão da terra, os ataques freqüentes dos índios, a incapacidade ou a falta de recursos de alguns donatários e, finalmente, a enorme extensão que separava a colônia da Europa.

Para que pudessem administrar as capitanias com entusiasmo, o rei concedeu aos donatários certos poderes: podiam dar terras aos que quisessem cultivá-las, fundar vilas e nomear funcionários, podiam até condenar à morte escravos e pessoas comuns. Quanto aos nobres só aplicava essa pena se eles tivessem cometido um crime de traição ao rei ou contra a religião.

As rendas dos donatários consistiam na cobrança de impostos sobre produtos da terra. Podiam ainda escravizar índios para o seu serviço e até vender certo número deles em Lisboa. Já a exportação do paubrasil só podia ser feita por ordem do rei: era monopólio da Coroa.

Fonte: Enciclopédia Conhecer

Fazendas de Engenho

Ao que parece, vieram na expedição de Martin Afonso de Souza, as primeiras mudas de cana-de-açúcar. Portugal já tinha experiência no cultivo e produção da cana e comércio de açúcar, além de possuírem equipamentos para engenhos açucareiros. Os portugueses tinham nas mãos todas as condições necessárias para tornar a colônia uma fonte de lucro. Primeiro ocorreu a escravidão dos índios e depois, com a exploração do povo africano, os portugueses resolveram seus problemas de mãode- obra. Quando os canaviais começaram a produzir, construíram a moenda e o engenho propriamente dito. Foi aqui que os colonizadores, atraídos pelas possibilidades, começaram a instalar seus engenhos na região, como a Fazenda Santana. O engenho da Fazenda Santana, construída em 1743, é um dos raros testemunhos arquitetônicos da prosperidade econômica açucareira da vila de São Sebastião, sendo um dos primeiros erguidos no litoral da capitania de São Paulo.

No auge de sua vida produtiva, a Fazenda Santana possuía duas moendas: uma delas movida por bois e outra por água. Sendo essa última mais complexa com rendimento quase dobrado.

As primeiras paisagens açucareiras em São Sebastião caracterizavam-se majoritariamente por pequenas e médias propriedades. Mas havia propriedades grandes que se destacavam, como a da Dona Antonia Margarete de Jesus, que chegou a possuir mais de 100 cativos, a do Sargento-mor de Organza, Manoel Correa de Mesquita, que tinha 96 escravos e a do Senhor de Engenho, Matias Ferreira Chaves, com 130 cativos.

Cana-de-Açucar

Várias famílias açorianas transferiram-se para a Vila de São Sebastião, certas de que o sucesso da economia viria gradativamente com o cultivo da cana-de-açúcar. O desenvolvimento econômico trouxe mudanças na paisagem social bem como mudanças administrativas, além da introdução de mais escravos.

As evidências disponíveis sugerem que, especialmente em 1798, período de auge da lavoura canavieira sebastianense, grande parte das atividades produtivas da vila girava em torno do açúcar: registrados, do total dos chefes de domicílio escravistas, os proprietários de engenhos ou engenhocas representavam 11,7% e os lavradores 56,9%. Inclusive um número significativo entre aqueles que não tinham escravos dedicava alguma parte de seu tempo a esta atividade; com efeito, 32,4% dos fogos (sítios ou fazendas) não-escravistas plantava cana (os que declaravam alguma atividade agrícola, comercializada ou não, representavam 81,1%).

No final do século XIX, o ciclo do engenho canavieiro que um dia representou o maior desenvolvimento econômico no Brasil Colônia, entra em decadência. A combinação das restrições às exportações e a reversão da conjuntura internacional levaram à decadência do açúcar sebastianense em relação ao pico do fim do século XVII. Diante da crise, o rei de Portugal estimulou alternativas promissoras no Brasil como a produção do tabaco e café, para serem ainda destinados à exportação.

A diminuição da importância da cana foi acompanhada pelo crescimento do café. “Os requisitos geoclimáticos do café colocam-no na categoria de um vegetal “exigente”. As temperaturas não podem ser muito elevadas nem muito baixas; o tipo do solo e sua qualidade nutritiva são bem determinados; os índices de precipitação pluviométrica devem ser regulares e bem distribuídos pelo ano. Trata-se, ao mesmo tempo, de uma planta que demora a dar seus primeiros resultados produtivos, em geral, cinco anos, ao contrário da cana-de-açúcar, por exemplo, cuja primeira safra já se dá no primeiro ano após o plantio”.

Fonte: Livro Brasil História.

 

 

 

 

 

 

O engenho

O engenho real, cujo apelido refletia o uso de um patrimônio real – a água -, era aquele dotado de roda d’água para moer a cana-de-açúcar. Exibia além das rodas propriamente ditas, um conjunto de seis fornalhas: caldeiras, farol do caldo (uma espécie de tina de cobre enterrada no solo que recebia o caldo da cana), farol de guinda (recipiente onde o caldo da cana é alçado para as casas das caldeiras), farol de escuma, farol de melado, e farol de coar.

 

A cultura cafeeira na região de São Sebastião desenvolveu- se utilizando os escravos remanescentes nas fazendas canavieiras. A mesma técnica da canade- açúcar era usada para o plantio do café, a técnica da coivara (um regime agrícola tradicional das comunidades quilombolas). Inicia-se a plantação através da derrubada da mata nativa ao longo das enconstas do litoral, seguida pela queima da vegetação. As primeiras dificuldades surgiram em 1850, ano que o tráfico de escravos foi proibido.

No auge da produção cafeeira, São Sebastião perdeu o território, pois ocorreu a elevação à Vila da Freguesia de Santo Antonio de Caraguatatuba, em 1857. A partir de 1875 dois novos fatores passaram a desestimular o plantio de café no Litoral Norte: o excesso de produção nas províncias de São Paulo e Rio de Janeiro, com a consequente e acentuada queda nos preços e a abolição da Escravatura em 1888, pois toda colheita que era antes feita com mãode- obra escrava estava sendo extinta.

Foram mais de 300 anos de colonização. Nesse período, surgiram as vilas caiçaras, caracterizadas por conjuntos de casas sem muros, construídas de pau-à-pique. Cada praia possuía sua pequena comunidade sempre construída ao redor de uma preciosa capelinha.

 

 

 

 

 

 

Pirataria

Supostamente entre os séculos XVII e XIX, a costa brasileira foi invadida por corsários e piratas provindos da Holanda, França, Inglaterra e Argentina. Tinham o objetivo de assaltar os navios portugueses e espanhóis carregados de ouros descobertos nas minas brasileiras.

No mesmo período, ocorreu o fim da “Invencível Armada”, quando Portugal ficou sob o domínio espanhol que incorporou a maior parte da armada lusitana. Portugal, desfalcado de sua Marinha, deixou a costa brasileira desarmada. Desse fato resultou a intensificação do contrabando do pau-brasil e depois, de muitos outros.

Em São Sebastião, os ataques foram intensos e para contra atacar a arremetida invasão, foi construído um sistema de defesa, que era constituído por inúmeros canhões na baía que durante muito tempo protegeu a costa de invasores na Vila.

Novos caminhos

Os caiçaras se voltaram para a pesca artesanal e a agricultura de subsistência – com destaque para a produção de banana. A banana estava invariavelmente nas refeições. Curiosidade: comia-se banana crua no feijão, cozida, assada em doces e em pratos tradicionais do litoral.

Até 1930 pouco se contava com o acesso por terra, somente com a abertura da Rodovia Tamoios, ligando Caraguatatuba ao Vale do Paraíba, antigas trilhas começaram a melhorar facilitando o acesso ao futuro porto. Mas a proximidade com porto de Santos impediu um crescimento maior do porto de São Sebastião. Porém, com a instalação da Petrobrás, no período da ditadura Vargas, a relação da terra mudou principalmente na região central da cidade. Toda a área antes ocupada por chácaras e roças fora desapropriada pela empresa para construção do pátio de tanques de armazenamento do petróleo de apoio ao píer atracadouro de navios. A inauguração oficial do porto aconteceu em 1955, mas somente em 1963 é que entrou em operação. Entretanto, de olho no etanol que a Petrobrás pretendia produzir e exportar a curto e médio prazo, a empresa previu uma ampliação nas instalações no canal de São Sebastião.

A partir da década de 70, com a melhoria da rodovia que liga São Sebastião a Santos, surge uma nova vertente: a exploração turística. A faixa marinha e adjacências são ocupadas por casarões de veraneio. Os caiçaras visualizam um novo e próspero caminho e começam, a partir daí, uma fase de novo segmento econômico. Assim a cidade abre-se para o turismo, colocando como atrativo turístico o passado ainda presente nas ruas da cidade.

 

Citações:

“A cidade era cheia de vendas e armazéns de “secos e molhados, bebidas nacionais e estrangeiras”, que era como estava escrito nas paredes”.

“Na rua da praia tinha seu Izidro e seu João dos Santos. Na rua do meio tinha seu Dante Pacini e seu Valentim. Na rua da Santa Casa, tinha seu João Lourenço.”

“Mamãe comprava em todos eles porque às vezes o que ela precisava não tinha em uma venda e a gente comprava em outra”.

Na venda de seu Antonio Orselli tinha desde agulha, panela de barro, tamanco até ferragens de diversos tipos. Seu Antonio Orselli era muito gordo e ficava sentado na porta da venda conversando. Quando chegava um freguês, ele não se dava ao trabalho de levantar do banco: mandava a pessoa entrar e procurar o que desejasse comprar.

Na padaria de seu João Teixeira, o pão saía às três horas. O pessoal fazia fila para pegar a meia lua quentinha. Enquanto mamãe passava café, eu já estava na fila do pão. Voltava correndo para casa e colocava bastante manteiga Aviação naquele pãozinho delicioso. Depois corria até o bar com o bule (não tinha garrafa térmica) e o pãozinho para papai que estava trabalhando. Só de lembrar fico com água na boca”

“Quando eu tinha seis anos, papai um dia chegou do bar e disse: “As filhas do Joel, Mariza e Deise, já sabem ler. Lêem até jornal. A Neide vai aprender também.” Me comprou um caderno, um lápis e uma borracha e me pôs na escola de Dona Laura Mota.

Dona Laura Mota era uma mulher de fala mansa e cheia de paciência. A escola era na casa dela e tinha vários alunos. Num instante ela conseguiu me ensinar a ler pela “Cartilha Sodré”. A lição que eu mais gostava era: “O bolo está fofo. O bolo é feito de coco.”

 “Da cozinha de casa se escutava tudo o que acontecia no cinema. O cinema, naquele tempo, era o centro de tudo. Se aparecia na cidade um mágico, se apresentava no cinema; um tocador de violino ou uma menina que declamava poemas, tudo era no cinema, inclusive as festas de final de ano da escola. No cinema aconteciam as apresentações teatrais, a entrega dos diplomas da quarta série, a apresentação do orfeão… tudo era no cinema”.

“A Santa Casa funcionava como uma espécie de albergue para os doentes que vinham de Ilhabela ou da Costa Sul para se tratar e não tinham onde ficar.”

Neide Palumbo – São Sebastião do meu tempo de menina

 

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Renata Weber Neiva

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