A região do litoral de São Paulo era povoada por várias tribos indígenas que, com seus “códigos de ética”, viviam em aparente harmonia. Com a chegada dos colonizadores portugueses e mais tarde dos franceses, a “calmaria” entre as tribos foi extinta. Os colonizadores tinham como finalidade, transformar os índios em mão-de-obra escrava, mas, pelo temperamento guerreiro de algumas tribos, tanto os portugueses, como franceses aliaram-se aos mais rebeldes. Isso gerou uma grande rivalidade.
Em Ubatuba, a tribo existente era a dos Tupinambás. Esta cidade foi palco de um dos primeiros tratados dos nativos do Brasil. A conscientização dos índios veio com a chamada Confederação dos Tamoios, prova da disputa desses nobres guerreiros contra cruéis forasteiros.
Antes dos portugueses, os Tupinambás eram tribos habitantes do litoral brasileiro. Índios guerreiros, ariscos e extremamente selvagens, não se submeteram ao domínio dos colonizadores. Construíam suas casas (tabas) no alto dos morros e margens de rios. De gênio alegre, eram músicos, dançarinos e construíam vários instrumentos musicais como tambores e flautas. Fabricavam canoas com a madeira cedro, guapuruvus e imbiricus. Lutaram bravamente contra a invasão de suas terras e eram extremamente temidos, pois o canibalismo fazia parte de suas tradições.
Entenda-se que o canibalismo era, para eles, um ritual, no qual se sacrificava um adversário corajoso nos aniversários do cacique e do pajé. As mulheres comiam as vísceras, as crianças tomavam o sangue para crescerem fortes e os homens comiam o cérebro, para possuírem a coragem e o espírito guerreiro de seu rival. Muitos personagens foram devorados como Francisco Pereira Coutinho (antigo donatário de Salvador).
“A Confederação dos Tamoios foi a reunião dos chefes índios da região do Litoral Norte paulista e sul fluminense que ocorreu entre 1554 e 1567. O principal motivo da Confederação dos Tamoios , que reuniu diversos caciques, foi a revolta ante a ação violenta dos portugueses contra os índios Tupinambás, causando mortes e escravidão. Na língua dos Tupinambá “Tamuya” quer dizer “o avô, o mais velho, o mais antigo”.
Por isso essa Confederação de chefes chamou-se Confederação dos Tamuya, que os portugueses transformaram em Confederação dos Tamoios. Cunhambebe foi eleito chefe e junto com Pindobuçú, Koakira, Araraí e Aimberê resolveu fazer guerras aos portugueses. O problema entre Tupinambás e Portugueses tem início com o casamento de João Ramalho, português e braço direito de Brás Cubas, governador da Capitania de São Vicente, com a filha de Tibiriçá, chefe dos índios Guaianazes. Desse casamento nasceu uma aliança entre brancos e Guaianazes contra as outras nações indígenas.
Quando a nação Tupinambá foi atacada, o chefe da aldeia de Angra dos Reis, Cunhambebe, investiu contra as propriedades portuguesas. Enquanto isso, Brás Cubas continuava a escravizar índios e aprisionou um chefe Tupinambá, Kairuçu, e seu filho Aimberê. Kairuçu morreu dos maus tratos recebidos e Aimberê conseguiu organizar uma fuga em massa das propriedades de Brás Cubas.
Livre do cativeiro, Aimberê encontrou-se com Pindobuçu, da aldeia Tupinambá do Rio de Janeiro, Cunhambebe, da aldeia de Angra dos Reis, Koakira, da aldeia de Ubatuba e Agaraí, chefe dos Guainases, e ainda com os índios Goitacases e Aimorés. Assim, em ataque aos portugueses, foi formada a Confederação dos Tamoios, chefiada por Cunhambebe.
Nessa ocasião chegaram os franceses ao Rio de Janeiro. Villegaignon, o chefe francês, aliou-se aos Tupinambás para garantir sua permanência no Rio de Janeiro e ofereceu armas a Cunhambebe para lutar contra os portugueses. Outra nação indígena, Termiminó, aliou-se aos portugueses contra os Tupinambás e os franceses, acirrando as disputas. Um surto de doenças, contraído pelo contato com o branco, dizimou centenas de índios, entre eles Cunhambebe. Aimberê foi escolhido o novo chefe e a luta continuou. Aimberê procurou o apoio de Tibiriçá e, juntos, combinaram lutar contra os portugueses num prazo de três luas. Acirrou-se assim a luta entre os Tupinambás e seus aliados contra os portugueses.” Fonte: Funart.
Portanto “tamoio” não se trata de um etnônimo. Os portugueses não encontraram facilidade para colonizar. Por muitas décadas, a única resistência organizada contra a invasão ibérica foi a Confederação dos Tamoios que com apenas 160 canoas (algumas com 13 metros e 30 tripulantes), segundo relatos dos jesuítas, muitas batalhas foram ganhas. Os jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, em 1563 conseguiram selar uma trégua, na qual os portugueses foram obrigados a libertar todos os indígenas escravizados, chamada a Paz de Iperoig (antigo nome de Ubatuba). Foi nessa época que Anchieta escreveu na praia de Iperoig muitos de seus 4.172 versos do famoso ” Poema à Virgem”. Mas os interesses portugueses eram transformar mesmo os índios em escravos. Esta era uma empreitada dificílima, o que levou os lusos, por meio do escambo, a importar escravos africanos.
Mercenário alemão que, por duas vezes, participou de lutas contra o franceses – a última na Capitania de São Vicente. Depois de naufragar próximo a São Vicente, Hans foi ser artilheiro no Forte de São Felipe Bertioga. Caiu nas mãos dos inimigos, os Tupinambás, e foi levado para Ubatuba. Ali permaneceu cativo por nove angustiantes meses. Foi resgatado pelo navio francês Catherini de Vetteville. Após terrível experiência, o mercenário escreveu um livro intitulado “Warhaftige Historia und Beschreibung eyner Landtschafft der wilden, nacketen, grimmigen Menschfresser Leuthen in der Newenwelt America gelegen” comumente chamado de “Duas Viagens ao Brasil” publicado em Marburgo, Alemanha, em 1557. Leia os trechos:
“Formaram um círculo ao redor de mim, ficando eu no centro com duas mulheres, amarraram-me numa perna um chocalho e na nuca penas de pássaros. Depois começaram as mulheres a cantar e, conforme um som dado, tinha eu de bater no chão o pé onde estavam atados os chocalhos.
As mulheres fazem bebidas. Tomam as raízes de mandioca, que deixam ferver em grandes potes. Quando bem fervidas tiram-nas (…) e deixam esfriar (…) Então as moças assentam-se ao pé, e mastigam as raízes, e o que fica mastigado é posto numa vasilha à parte.
Acreditam na imortalidade da alma(…).”
Salvador Corrêa de Sá e Benevides, Governador Geral do Rio de Janeiro, agilizaram a ocupação da região, após a Paz de Iperoig, transformando-a em pólo colonizador fixo. Após tanta demonstração de bravura, Ubatuba foi fundada em 28 de outubro de 1637. Em 1728, foi elevada a vila, com o nome de Vila Nova da Exaltação à Santa Cruz do Salvador de Ubatuba, e em 13 de março de 1855, à cidade.
Com a decosberta de ouro na Minas Gerais, Ubatuba transforma-se em área de produção de cana-de-açúcar, construindo vários engenhos, serrarias, olarias e um porto praticamente natural para escoamento dessa produção. Essa prosperidade é abalada quando, em 1787, o Governador de São Paulo decreta uma lei na qual todas as mercadorias deveriam ser movimentadas no porto da cidade de Santos. Mas, com a abertura dos portos ao exterior, decretada por Dom João VI em 1808, o porto cresce principalmente pelo escoamento da produção de todo o Vale do Paraíba e Minas Gerais, transformando-o no porto o mais movimentado de todo o estado.
Todavia, mais um grande golpe assola a sorte da região, quando da construção da estrada de ferro D. Pedro II, que ia de São Paulo ao Rio de Janeiro, onde a tal produção era levada ao porto do Rio. Devido à sua geografia, Ubatuba ficou isolada, tão isolada que, para ir ou vir à cidade demorava-se dias, tanto por mar como por terra. O isolamento total foi crucial a um período estagnado, caracterizado pela agricultura e pesca de sobrevivência.
Finalmente, em 1953, as Rodovias que ligam Ubatuba a Taubaté e depois a Rio-Santos, transformou a região em um ponto turístico de fenomenal atração até os dias de hoje.
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