Os três séculos de escravidão africana em nosso país acabaram por se revelar fundamentais e marcantes na própria constituição da sociedade e da cultura brasileira. Os navios que atravessavam o Atlântico, cheios de vítimas da violência da escravização, não traziam apenas escravizados, mão de obra para trabalhos forçados, mas pessoas com costumes e crenças próprias, com hábitos culinários, danças e músicas, tradições, maneiras de compreender o mundo e de se relacionar com os demais, com ideias próprias sobre o que era belo e feio, enfim, as mais diversas manifestações culturais.
A população de Campinas guarda marcas centenárias da presença africana. Os afrodescendentes cumpriram e continuam a cumprir um papel na formação, no desenvolvimento e no funcionamento da cidade. Poderíamos dizer que, em grande medida, foram responsáveis pela forma de ser dos campineiros, por seus costumes e preferências, e pela vida urbana que se constituía.
Reduzir a presença e o legado de origem africana aos horrores da escravidão é negligenciar e ocultar grande parte da trajetória de Campinas, uma vez que os caminhos históricos que permitiram alcançar os atuais níveis de desenvolvimento e qualidade de vida passaram e continuam a passar pela presença e pela contribuição cotidiana dessas populações.
A indústria açucareira se instalou em Campinas entre 1790 e 1795, mas já no final dos anos 1770 uma pequena população de escravos, inferior a 50 pessoas, é registrada em Campinas. Quando a Freguesia se torna Vila de São Carlos, em 1797, os registros paroquiais apontam 2.107 pessoas, sendo 700 africanos, 330 agricultores, 550 mulheres brancas, 400 mulatas livres, 14 tropeiros, 9 comerciantes, 4 padres e 12 mendigos (Bergó, 1952, p.23). Esse é um momento importante de transformação econômica e demográfica para Campinas, pois notamos uma relativa autonomização econômica da cidade, e também um significativo crescimento populacional.
Na década de 1830, cerca de um terço da produção açucareira de São Paulo se devia a Campinas, e em razão de o açúcar ser sustentado pelo trabalho escravo nesse mesmo período, a população escrava de Campinas representava 5% da população escrava total da Província de São Paulo, o que fazia da cidade o maior mercado comprador e distribuidor de escravos do Estado.
Com a intensificação do movimento abolicionista, a política de distribuição e doação de terras, que antes variava de acordo com o poder econômico e construtivo do proprietário, se modificou. Os lotes não eram mais doados a quem quisesse construir, mas sim vendidos. Essa nova configuração iria impedir que os negros recém libertos e os imigrantes pobres tivessem acesso à terra, obrigando-os a permanecer como mão de obra barata nas fazendas.
Os escravizados que conseguiam fugiam para os quilombos para tentar reconstruir um coletivo familiar e dar continuidade ao uso da terra livre e à produção coletiva. Aos que ficavam na cidade nada restava além de cortiços, favelas e outras modalidades de moradias periféricas, sem auxílio dos governantes.
Do trabalho escravo ao trabalho livre, foram desenvolvidas diferentes forças produtivas e as modificações desses espaços introduziram alternâncias cada vez mais rápidas e profundas, gerando reconfigurações de produção do espaço urbano. À desigualdade espacial incorporou-se a desigualdade social. No espaço urbano, fundamentam-se os interesses do capital, a ação do Estado e a luta dos seus ocupantes como tática de resistência contra a segregação e pelo direito à cidade, composta de seus diferentes bairros, cada um com estrutura própria, particularidades e histórias que reúnem diversidades, numa vida coletiva com atividades cotidianas que criam e moldam as dinâmicas do fenômeno do contexto urbano.
Em Campinas, ao longo dos últimos vinte anos, vem ocorrendo uma crescente visibilidade das ações culturais da comunidade negra em regiões e espaços antes restritos a práticas de outras culturas, o que nos inspira a refletir sobre esses novos atores no fortalecimento de atividades culturais de matrizes africanas, criando um novo contexto e possibilitando novas reflexões sobre os territórios negros e as práticas sobrepostas nessas localidades.
Veja também o post sobre as Ações Culturais da Comunidade Africana em Campinas
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