Piratas, engenhos e naufrágios ilustram a História e também as Lendas de Ilhabela.
Todos esses elementos combinados às paisagens misteriosas e emblemáticas, propicia o cenário perfeito para lendas e causos que só fazem do arquipélago um lugar mais sedutor. Para todo canto que se olha, um “dizem que ali…” ou um “aconteceu há muito tempo atrás…”. Para quem gosta de conhecer melhor onde está pisando, literalmente, não faltam histórias dos moradores para se encantar e se arrepiar.
Maria Fixi, dona de uma fazenda no bairro do Portinho, era conhecida pela crueldade com que tratava seus escravos. Estes, cansados dos maus tratos, fugiram levando toda a prataria da dona. Vendo-se sem rumo, Maria Fixi recorreu a Santo Antonio, cuja imagem havia ganhado de um vendedor de escravos. Pediu ao santo que trouxesse seus negros de volta com a promessa de não mais bater neles. Foi então que os fugitivos depararam- se, durante a fuga, com um senhor bem velhinho segurando um cordão na mão, que os fez voltar para a fazenda. Maria Fixi recuperou tudo o que perdera e cumpriu sua promessa.
A população da Ilha de São Sebastião ainda dormia naquela manhã em que os sinos alertaram a todos. Uma caravela de piratas desembarcou numa praia e já estavam prontos para atacar. O povoado, que contou com o comando do guerreiro São Sebastião, preparou-se e partiu para defender a ilha. Os intrusos foram expulsos e a calmaria se restabeleceu. Porém ficou uma dúvida: de onde vieram os sons de sino que despertaram o povo? Os únicos que encontraram uma explicação foram os índios, que apontaram para as pedras da praia Guarapocaia. Constatou-se então que, quando batidas, a pedras soavam como sinos.
Piratas, marinheiros de navios negreiros e mercantes reuniam-se na taverna de uma rica mulher conhecida pelos habitantes da região como feiticeira. A dona do estabelecimento era a proprietária da Fazenda São Mathias que, no fim da vida, temerosa de um saque, mandou que seus escravos enterrassem o seu tesouro no local conhecido por Tocas e os matou para que não revelassem o segredo. Dizem que depois disso a feiticeira enlouqueceu e nunca mais foi vista.
Um ex-combatente havia sido ferido e perdera sua perna durante um confronto. Sem encontrar ajuda, fez de uma toca, na praia da Armação, a sua moradia. Com suas histórias de guerras e combates, conquistou a amizade dos habitantes locais. Após a sua morte, sua toca ficou conhecida como toca do “Come Bala”.
Um galeão de escravos teria naufragado próximo à praia. Um padre que passava de barco pelo local encontrou os corpos boiando e os enterrou debaixo de uma enorme figueira. Dizem os moradores da ilha que, às seis horas da tarde, vozes podem ser ouvidas próximas à árvore. A praia ficou conhecida como Praia das Caveiras e ninguém arrisca morar lá.
Duas mulheres louras penteavam seus longos cabelos com pentes de ouro, enquanto o caiçara Manoel Leite Santana as observava. O povo local dizia que era a Mãe-de-Ouro. À noite ele voltou ao rio onde avistara as moças e encontrou no fundo um tacho de ouro. Tentou apanha-lo com um galho, mas não obteve resultado. Na manhã seguinte, Rafael, o encarregado do trabalho, voltou da mata apavorado dizendo que não podia contar o que havia visto, pois, se o fizesse, morreria logo. Rafael viveu muitos anos e jamais contou o segredo. A Cachoeira da Laje, por onde percorre o tal rio, é dita encantada, pois no fundo, existem malacachetas com mais de vinte centímetros de comprimento, que brilham como pedras preciosas.
Um dia, São Pedro caminhava pelas praias de Ilhabela quando encontrou um linguado. Perguntou então se a maré iria encher ou vazar. O peixe, com descaso, imitou os dizeres de São Pedro com a boca torta e a voz fanha. O santo deu-lhe um tapa, dizendo: “Com os olhos para trás hás de ficar”. É com essa lenda que os pescadores explicam o apelido “peixe tapa” do linguado, que ficou com “os olhos por cima das costas, dum lado só”. Outra versão é a do pescador Pedro Jacinto, que diz que o peixe ficou com a boca torta ao virar-se para ver o sol.
A lua cheia reflete nas águas da cachoeira da Água Branca uma beleza tão intensa que muitas pessoas se dizem atraídas. Diz a lenda que, entre dois braços da queda d’água, há um buraco bem fundo, onde acreditam estar enterrada uma “tacha” de ouro, na qual morar a Mãe d’Água ou Mãe d’Ouro.
Uma antiga escrava que trabalhava na casa grande de um engenho de canade- açúcar, sentia-se muito, muito triste mesmo pelas grandes humilhações que seu sinhozinho a fazia passar. Melancólica sempre ia tomar banho em um poço na estrada desse engenho. Depois de mais e mais situações constrangedoras sofridas, a nega foi banhar-se no poço e não teve dúvida, ali se jogou para nunca mais voltar ao seu inferno terreno. Hoje, o poço ainda existe e suas águas ficaram escuras a partir do momento que a nega se jogou dentro dele.
O corpo de um senhor idoso que morava na praia do Bonete era carregado enrolado em um lençol pela trilha do Palhal, pois seria enterrado no cemitério dos Castelhanos. No meio do caminho, os antigos moradores que conduziam o morto pararam para beber água em um córrego e, ao voltar, encontraram o velho sentado, pedindo água. Apavorados, saíram todos correndo deixando o senhor por lá mesmo. Esse córrego ficou conhecido como Água da Saúde.
Estevão era escravo em um engenho e almejava aprender a ler e escrever. “Sinhá” decidiu ensiná-lo às escondidas, pois tinha muito carinho pelo negro. Enciumado pela atenção dada a Estevão, o capataz delatou as “aulas” para o “Sinhô”, que, enfurecido, aprisionou o escravo. Estevão sofreu muitos castigos e torturas até que, com a ajuda de Sinhá que tinha a mãe dele como ama, fugiu do cativeiro. Sinhô notou a ausência do escravo e correu com o capataz e a polícia atrás de Sinhá e sua ama, que rapidamente deram um jeito de escondê-lo embaixo da longa saia engomada. As duas negaram firmemente ter visto Estevão. Nunca mais ele foi visto depois de esconder- se em uma toca logo acima do Engenho D’água. Os caçadores que passam perto da toca dizem ouvir os lamentos do escravo.
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