As lendas são um dos pilares da compreensão da história de um povo. Nelas estão impregnados elementos históricos, econômicos, sociais e naturais de onde se originam. Por meio de “causos”, na maioria das vezes insólitos, entendemos a percepção do cotidiano daqueles agentes que estão no contexto de credulidade dos fatos contados. Ao longo dos séculos, muitos personagens de lendas tornaram-se conhecidos e famosos, como o Conde Vlad, o Drácula, oriundo do Leste Europeu, e o Lobisomem, da Europa Ocidental.
No Brasil, muitas lendas vieram com os colonizadores; unidas às dos índios, tornaram-se constantes no dia a dia de todos. Outras são fruto da criatividade e dos elementos obscuros em que os personagens estão inseridos. Porém, não importa como, quando e quem as criou, o certo mesmo é que onde há fumaça há fogo e o melhor é ficar de olhos bem abertos!
Essa lenda, que é uma das mais assustadoras, corre solta entre os moradores das Serras Catarinense e Gaúcha. Muitos relatos sobre o Gritador já foram coletados. Filmes foram feitos. E a lenda é muito coerente dentro do contexto em que se originou.
Segundo a versão mais famosa, na época em que os jesuítas foram expulsos das terras brasileiras pelo Marquês de Pombal, muitos enterraram seus tesouros, na esperança de um dia retornarem. Quando todos estavam a cavar os buracos para esconder suas riquezas, um homem pedia para que gritassem para saber a localização de cada um. Esse homem não foi embora e ficou cuidando de seu tesouro enterrado. Ao morrer, sua alma ficou presa na região e, à noite, quando alguém grita por um motivo ou outro, ele acha que são seus amigos indicando o lugar de outro tesouro enterrado.
Segundo relatos, quando tropeiros ou criadores de gado estão trabalhando à noite e gritam uns para os outros, às vezes escutam outro grito distante. Quando respondem, esse mesmo grito, que parecia estar longe, soa cada vez mais perto, às vezes muito perto!!!
Lógico que ninguém fica para bater um papo, mas dizem que, se ele chegar até você, ele inicia um duelo; caso você ganhe, ele lhe entregará o tesouro, caso você perca, tomará o lugar dele para cuidar do tesouro eternamente.
Essa lenda talvez seja a mais conhecida de todas e um símbolo do Rio Grande do Sul.
No tempo da escravidão, um estancieiro percebeu que estava faltando um cavalo depois de um menino escravo voltar do lugar de pastoreio. O homem, para castigá-lo, deu-lhe uma surra de chicote e mandou que ele procurasse o animal. O pobre do menino até achou, mas o cavalo fugiu porque o guri não conseguiu laçá-lo. Ao voltar à estância de mãos vazias, seu dono o colocou num formigueiro, no frio, e ensanguentado pelas chicotadas. No dia seguinte, quando foi ver como estava o menino, o estancieiro tomou um susto, pois, além de ele estar sem um único ferimento, ao seu lado estava a Virgem Maria, o cavalo fugitivo e outros cavalos. Caído no chão, o estancieiro pediu perdão pelos seus atos. O menino nada respondeu, subiu no cavalo baio e saiu conduzindo a tropilha.
Hoje, por aquelas bandas, quando se perde alguma coisa, pede-se ao Negrinho do Pastoreio para que à noite ele a encontre, mas antes tem de acender uma vela para Nossa Senhora junto a algum mourão e dizer: “Foi por aí que eu perdi… Foi por aí que eu perdi… Foi por aí que eu perdi…”.
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