Muitos dos milagres ou prodígios atribuídos a Santo Antônio foram estudados, e posteriormente comprovados, por uma comissão de religiosos durante o processo de sua canonização. Outros, não aferidos logo após sua morte podem, segundo religiosos e pesquisadores de sua vida, fazem parte de lendas e mitificações que sua iluminada figura inspirou durante o passar do tempo.
Seja como for, se imputou a ele a fama de milagroso e sua língua, preservada intacta após sua morte, também contribuiu, e muito, para sua reputação de admirável taumaturgo.
Para muitos o frei português, canonizado em 1232 pelo Papa Gregório IX, é o santo “casamenteiro” assim como o das “coisas perdidas”. A fé nos poderes milagrosos do santo pode ser medida pela existência de um antigo e famoso responsório conhecido como “Si quaeris miracula” (Se milagre desejais).
A maioria de seus prodígios ocorreu no período de sua vida em que já peregrinava pela Europa como frade franciscano. No entanto, há registros de milagres desde sua infância. O mais conhecido deles aconteceu numa ocasião em que estava rezando na Igreja da Assunção, em Lisboa. Ajoelhado de frente para o altar, pressentiu que algo de muito ruim adentrava pela porta principal.
Muitos biógrafos garantem que, ao se virar, vislumbrou o demônio na forma de um imenso e assustador cão. Temeroso com tal aparição, o menino fez uso de uma oração ensinada por sua mãe e retirada do Livro do Apocalipse de São João: “Eis a cruz do Senhor! Fugi, inimigos; venceu o Leão de Judá; a Raiz de Davi, aleluia.”
Enquanto recitava, o garoto traçava no chão da igreja o sinal da cruz. A marca feita por seu dedo ficou gravada no piso e lá permanece até os dias de hoje.
Certa vez, numa pequena cidade no norte da Itália, já como frei franciscano, ao perceber que a igreja escolhida para sua pregação não comportaria o número de fiéis, resolveu fazer seu discurso num púlpito improvisado no centro da praça da cidade. Ao subir na precária armação, construída de última hora, avisou aos presentes que sentia que o demônio estava a lhe preparar uma emboscada. Minutos após a previsão, a estrutura desabou com grande barulho. No entanto, assim que a poeira se dissipou, apareceu a silhueta do santo, que mesmo caindo de grande altura se manteve de pé.
Em outra oportunidade, também pregando ao ar livre, sentiu os fiéis inquietos com a proximidade de uma grande tempestade que se armava. Frei Antônio, percebendo a aproximação das negras nuvens, garantiu que nada de ruim aconteceria àquela gente. O temporal desabou com força inaudita. Porém, para surpresa geral, a chuva encharcou todo o entorno da aglomeração sem, no entanto, respingar uma gota sequer em qualquer um dos fiéis ouvintes.
Inúmeras vezes o santo pregou aos heréticos. Alguns dos mais espetaculares milagres de Santo Antônio aconteceram em tais oportunidades. A famosa pregação aos peixes, por exemplo, se deu na cidade litorânea de Rimini. O feito foi imortalizado por diversos artistas ao longo dos séculos.
Alertadas por seus líderes de que Frei Antônio viria tentar demovê-las do caminho herético, as pessoas da cidade foram instruídas a não dar ouvidos ao franciscano e a ignorar sua presença e seus apelos para que escutassem o que tinha a dizer. Ao adentrar na cidade o taumaturgo encontrou ruas vazias. Sem ter nenhum interlocutor, se dirigiu à praia. Lá, diante do Mar Adriático, próximo à foz do Rio Marecchia, deu início à sua pregação, tendo como público os peixes, que se amontoavam na superfície da água para escutá-lo.
O frei português iniciou seu discurso com as seguintes palavras: “Escutem a palavra de Deus, peixes do mar e do rio, já que os hereges não a querem escutar”. A notícia do milagre logo começou a circular pela cidade e, em pouco tempo, uma multidão se acotovelava, espantada com o feito. Muitos, depois de escutar a pregação do taumaturgo, e diante da comprovação de sua fé, se converteram, sendo resgatados do caminho herético.
A sua reputação como santo das coisas perdidas teve origem numa passagem acontecida no período em que esteve na França.
A história teve início quando um noviço resolveu abandonar o convento franciscano de Montpellier, no qual Santo Antônio havia sido acolhido como professor de Teologia.
Ao sair sorrateiramente, o jovem levou consigo um livro de salmos e comentários, de autoria do próprio Frei Antônio, que era utilizado nos ensinamentos teológicos ministrados aos jovens franciscanos.
O taumaturgo lamentou não só a perda do saltério, objeto raro e de extrema valia na sua nobre missão de ensinar; lamentou, também, a atitude desonesta do noviço. Passou, então, a rezar fervorosamente pelo contraventor, pedindo a Deus que incutisse nele o arrependimento pelo seu ato.
Conta-se que, ao passar por uma ponte, o noviço foi assolado por grande terror, sentindo como se o próprio demônio estivesse obstruindo seu caminho. Dentro de sua cabeça, uma voz ecoou: “Ou devolves o livro, ou serás lançado ao rio”.
Arrependido, retornou ao convento e restituiu o saltério a Santo Antônio, que além de ter seu precioso livro de volta, acolheu o noviço de novo na ordem.
Numa ocasião, se encontrava Frei Antônio numa praça pública de Toulouse, no sul da França, pregando em meio aos cátaros.
Discorria sobre o sacramento da Eucaristia quando foi interrompido por um herege que, desdenhando de suas palavras, refutou que o corpo de Cristo pudesse estar contido na Hóstia.
O franciscano explicou-lhe que, de acordo com as próprias palavras de Cristo, Seu Corpo poderia, sim, estar velado no pão e no vinho.
O herege então disse que se Cristo estivesse presente na Hóstia, Sua presença poderia ser notada por qualquer criatura viva sobre a face da Terra. Em seguida, lançou um desafio, fazendo a audiência gargalhar:
– Deixarei minha mula sem comida por três dias. Na próxima missa, se ela, esfomeada, preferir a Hóstia à comida, eu passarei a acreditar nas suas palavras e me converterei à sua fé.
Frei Antônio concordou com o desafio. Três dias depois, o franciscano conduzia a missa na praça, com a presença de alguns fiéis e de outros, curiosos com o desfecho da provocação do incrédulo, que lá estava presente tentando controlar o faminto animal.
Com muita serenidade, o frei português ofereceu a Hóstia a todos aqueles dispostos a recebê-la. O espanto geral se deu quando se aproximou do animal, que milagrosamente se ajoelhou perante o Santíssimo Sacramento, num claro sinal de respeito e reverência.
Os presentes passaram a gritar e a chorar, emocionados com o prodígio. Muitos hereges que desdenharam das palavras de Santo Antônio três dias antes se converteram imediatamente, inclusive o dono da mula, que ajoelhado, recebeu o Corpo de Cristo em forma de Hóstia.
A capacidade de se fazer presente em dois lugares distantes simultaneamente também foi assinalada como um dos prodígios do santo português. A primeira vez que isso aconteceu foi em Limoges, sul da França, no ano de 1226.
Na Quinta-feira Santa, o frei pregava na Igreja de São Pedro. No mesmo instante, a alguns quilômetros dali, seus irmãos franciscanos já cantavam as matinas no convento. Por ter o cargo de Custódio cabia a ele a responsabilidade de ler uma lição do ofício para os seus irmãos.
No exato momento em que deveria estar presente no convento, o frei interrompeu seu sermão e se recostou no púlpito, cobrindo o rosto com o capuz. Para surpresa dos frades menores, a voz do frei português soou entre o coro dos franciscanos. Cantou a lição e cumpriu sua tarefa junto a seus irmãos, para em seguida desaparecer e despertar de seu aparente cochilo na Igreja de São Pedro.
Porém, o mais famoso caso de bilocação do santo diz respeito ao episódio da falsa acusação de assassinato da qual seu pai foi vítima.
Certa vez, pregando em Pádua, o santo sentiu forte intuição de que sua presença era necessária em Lisboa naquele exato momento. Sentou-se ao lado do púlpito e, como já havia feito uma vez, cobriu a cabeça com o capeio, o capuz dos franciscanos. Apareceu em seguida no Tribunal de Lisboa, onde fez a defesa contundente do pai. Para provar a inocência de seu genitor, rumou acompanhado das autoridades ao cemitério. Para assombro dos presentes, ressuscitou a vítima, que inocentou o acusado de qualquer responsabilidade por sua morte. Permitiu então, que o assassinado, retornasse ao seu descanso. Logo depois, muito além, recobrou a consciência e retomou sua pregação.
Provavelmente o mais belo dos prodígios do santo foi aquele narrado por seu amigo, o Conde de Tiso, aos companheiros do franciscano após sua morte. Segundo esse relato, o frei português estava hospedado na casa do nobre em Camposampiero, cidade próxima a Pádua. Por sua vontade, escolheu para dormir um quarto isolado, no intuito de não ser atrapalhado em suas orações. Intrigado com a luminosidade que vinha de dentro do aposento, o Conde de Tiso, não contendo sua curiosidade, empurrou a porta o suficiente para espiar por uma pequena fresta que se abriu. A cena a que assistiu o comoveu em demasia.
A Virgem Maria, envolta em fulgurante luz, entregava o Menino Jesus a Santo Antônio. O Pequeno entrelaçou Seus braços ao redor do pescoço do santo, enquanto conversava com ele de maneira carinhosa. O frei percebeu a presença do nobre; pediu-lhe que não divulgasse a ninguém, antes de sua morte, o que havia presenciado.
Outra das virtudes do frei franciscano era ser excelente confessor. Certa vez, após escutar a confissão de um rapaz de nome Leonardo, que havia agredido a mãe com um chute, Santo Antônio o conscientizou da gravidade de seu ato. O arrependimento tomou conta do jovem, que ao voltar para casa, num ato extremo, cortou fora, com um golpe de machado, o pé que desferiu o chute. Gritando de dor, foi acudido pela mãe. A notícia correu pela cidade e, rapidamente, chegou aos ouvidos do santo, que foi ao encontro do rapaz. Depois de rezar, pegou o membro amputado, juntou-o à perna e, fazendo o sinal da cruz, operou magnífico milagre, restituindo o pé amputado ao corpo do jovem.
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