Uma coleção de encher os olhos!
“Os muitos usos que o ser humano fez da xilogravura ao longo da história são mostrados no Museu Casa da Xilogravura, em Campos do Jordão.
Através do seu acervo, o visitante percebe que, além da beleza estética com que os artistas souberam revestir essa técnica, ela se prestou a funções mais utilitárias… Uma dessas funções foi a ilustração de jornais, livros e revistas. Até o fim do século 19, antes do advento dos clichês metálicos, praticamente todas as imagens publicadas na imprensa eram produzidas por xilógrafos. “Se um editor tinha que publicar a notícia do afundamento de um navio, por exemplo, ele pedia a um xilógrafo, que imaginava a cena e fazia o desenho”, explica o professor Antonio Costella, fundador e diretor da Casa da Xilogravura…
A sala mostra também um livro de Costella impresso inteiramente através da xilografia – algo que só fora feito no século 15, na Europa… Cartas de tarô, figuras sacras (os “santinhos”), calendários e um ex-libris minuciosamente trabalhado também testemunham as várias formas como a xilogravura foi utilizada ao longo do tempo…
Em outro espaço do museu, o visitante se depara com três garrafas de vinho Oracle, da vinícola Linley Schultz, da África do Sul, safra de 2002. Seu rótulo foi composto originalmente em xilogravura… uma pequena obra de Tarsila do Amaral (1886-1973)… “O Brasil é um dos países mais ricos em xilogravuras”, afirma Costella…
Essa riqueza é tão grande que a xilogravura surge nas ruas. É o que ocorre com a literatura de cordel do Nordeste brasileiro, tradicionalmente ilustrada com imagens obtidas com a técnica. Em seu museu, Costella mantém um espaço cenográfico em que reproduz o interior de uma casa sertaneja. Além de expor um boneco em tamanho natural de um cantador de cordel e sua viola…
Exemplares da escola Ukiyo-e
Estão ali raros exemplares da chamada escola Ukiyo-e. Ela ficou em atividade entre os séculos 17 e 19 na então cidade de Edo, hoje Tóquio. As xilogravuras de Ukiyo-e eram adquiridas por comerciantes e gente do povo. Eram produzidas em tal quantidade que acabavam servindo para embrulhar as porcelanas exportadas para a Europa…Acontece que elas tinham uma cor que fascinou os impressionistas.
Esses artistas obcecados pela luz e os tons que ela produz nos objetos. Resultado: os europeus passaram a importar do Japão aqueles papéis coloridos que embrulhavam as porcelanas, para mostrar em seus museus.
Em 1938, o imperador do Japão enviou um de seus nobres a Londres para arrematar em leilão 8 mil xilogravuras de Ukyio-e, a fim de preservar a arte antes desprezada… Ainda na sala das obras estrangeiras, há reproduções das xilogravuras que ilustraram os livros dos primeiros viajantes europeus no Brasil, como Hans Staden e Jean de Léry, no século 16.
“O conhecimento do Brasil pelos europeus se deu em grande parte baseado nas imagens feitas por xilografia”, nota Costella, apontando para uma ilustração reproduzida do livro de Léry,
História de uma viagem feita na terra do Brasil, também chamada América, de 1578. Ela mostra vários aspectos da vida dos índios brasileiros da época: a batalha entre tribos inimigas, a rede de dormir – então desconhecida na Europa –, a domesticação de macacos e a antropofagia. Outros países estão representados na sala. Há obras dos Estados Unidos, Itália, Hungria, China, Inglaterra, França, Hungria, Tailândia e Sudão, entre várias outras.”
Cada detalhe é importante a se observar tamanha destreza das mãos. É uma arte inusitada e colorida. Uma coleção de encher os olhos!
Fonte: http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2006/jusp778/pag1011.htm
Onde : Avenida Eduardo Moreira da Cruz, 295 – Jaguaribe
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