A Capela de Nossa Senhora do Desterro foi doada para a Ordem de São Bento, que estava se instalando em Santos, por volta de 1649. A partir de 1650 iniciou-se a construção do Mosteiro Beneditino, anexado à capela, porém as características atuais datam de 1725. O formato da construção chama-se ciclópica. Composto de rochas, sambaqui e óleo de baleia, o edifício é similar a uma fortaleza, o que se nota pela grossura das paredes, que têm aproximadamente 1 metro. O Mosteiro possui três pavimentos e um claustro, que é um pátio interno, local onde havia um pequeno jardim, com plantas ornamentais, horta e flores. O lugar contém as celas (quartos), o refeitório e a sala do capítulo, o lugar onde todos os monges se reuniam para decidir as atividades diárias (oração, trabalho, estudo), além de haver um espaço reservado para hospedaria.
Em 1874, época de muitas epidemias em Santos, o Mosteiro de São Bento cedeu um recinto para servir de enfermaria para abrigar os doentes, dessa forma auxiliando a Santa Casa de Santos. Entre 1958 e 1968, o edifício funcionou como o Instituto São Vladimir, um internato para refugiados russos. O Museu de Arte Sacra de Santos – MASS – foi fundado oficialmente em 11 de julho de 1981, idealizado pelo antigo bispo diocesano de Santos, Dom David Picão (18/08/1923 – 30/04/2009).
A Capela de Nossa Senhora do Desterro é datada de 1640 e foi construída nas terras do Mestre Bartolomeu Fernandes Mourão, ferreiro que veio para o Brasil na armada de Martim Afonso de Souza (1532). Ele é considerado o pai da metalurgia brasileira. Nossa Senhora do Desterro é representada com a Sagrada Família, indicando o momento do retorno da fuga do Egito, um momento de paz e alegria, pois está desterrando todos os males e transportando a família para uma vida nova; por isso é considerada padroeira dos imigrantes.
A cruz processional, exposta na Sala da Paixão de Cristo no Museu de Arte Sacra de Santos, é uma cruz utilizada em procissões religiosas, seja de cunho festivo ou litúrgico. Existe uma diferença entre cruz e crucifixo: a cruz é apenas um objeto em cruz sem o corpo de Cristo; já o crucifixo é uma cruz com o corpo de Cristo; provém de “Cruci Fixo” = Cristo fixado na cruz. É interessante notar que, na cruz em questão, claramente não há o corpo de Cristo, mas ao centro há um símbolo, o qual seria uma custódia, um objeto utilizado para expor o Santíssimo em procissões, ou seja a hóstia consagrada. Isso significa que, mesmo que o corpo figurativo de Jesus não esteja na cruz, sua carne está representada.
Fonte: Museu de Arte Sacra de Santos
Sant’Ana Mestra, mãe da Virgem Maria, Mãe de Cristo. A iconografia de Sant’Ana Mestra comumente é representada por Sant’Ana na posição de Mestra em relação a sua filha Maria, visando o ato de instruí-la. Há duas identificações: Sant’Ana pode estar em pé, com a Virgem em seus braços, ou sentada, com Maria em seu colo ou em pé ao seu lado, mas em ambas as situações Sant’Ana está carregando um livro, elemento representativo fundamental. Pode-se entender que, quando Sant’Ana esta em pé, ela está ensinando a Maria os ensinamentos religiosos, referentes a orações e às sagradas escrituras. Já quando Sant’Ana Mestra está sentada, isso indica que ela está ministrando à Virgem ensinamentos comuns, referentes ao comportamento e à alfabetização.
A imagem de barro cozido de Nossa Senhora da Conceição, datada de 1560, de autoria de João Gonçalo, é considerada uma das mais raras e valiosas esculturas do Brasil, pois é a primeira imagem documentada produzida em território brasileiro; foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN).
Nota-se que a imagem é oca, o que nos remete à expressão “santa do pau oco”. Essa expressão provém de uma época do Brasil colonial em que os colonizadores portugueses mandavam fazer imagens ocas para que ali dentro colocassem todas as preciosidades do Brasil. As pessoas fingiam que estavam fazendo procissões com a imagem do santo e a levavam recheada de riquezas até as naus, que seguiam rumo a Portugal, realmente saqueando o Brasil. Mas a imagem em questão, de Nossa Senhora da Conceição, não pode ser considerada uma “santa do pau oco”; isso é um mito até porque a expressão “pau oco” sugere leveza ao carregá- lo, diferentemente do barro. Aliás, majoritariamente as imagens feitas em barro cozido são ocas, pois, se fossem maciças iriam trincar no transporte.
A imagem de Santa Catarina de Alexandria, talhada em madeira, datada de aproximadamente 1540, é considerada ícone da religiosidade do povo santista. A imagem foi posta na Capela de Santa Catarina de Alexandria, edificada pelo casal de portugueses Luiz de Góes e Catarina Andrade de Aguillar.
Esta foi a primeira capela construída em Santos, também por volta de 1540, e estava localizada no sopé do Outeiro de Santa Catarina; atualmente a capela não existe mais, somente o outeiro. Quando, em 1591, a Vila de Santos sofreu uma invasão de corsários ingleses, eles saquearam a Vila e no final destruíram a Capela de Santa Catarina, pegaram a imagem da santa e a lançam ao mar. Porém um milagre aconteceu: após 72 anos, em 1663, a imagem foi resgatada, involuntariamente, pelos escravos que estavam pescando no mar. No meio da rede e dos peixes a santa ressurgiu novamente, sendo considerada a primeira padroeira da cidade de Santos por conta do seu aparecimento milagroso.
Três raríssimas imagens: duas do Senhor Bom Jesus dos Passos e uma imagem de Nossa Senhora das Dores, todas em madeira policromada e com um diferencial: cabelo humano. O fato curioso é que não se sabe a origem do cabelo, mas existem especulações; provavelmente provém de freiras, até porque em algumas ordens elas raspam a cabeça em negação à vaidade, e consequentemente o cabelo poderia ser utilizado para a produção de imagens religiosas, ou supostamente o artista que fez a escultura estava pagando uma promessa para alguém e utilizou o cabelo dessa pessoa. Artisticamente, o propósito do uso de cabelo humano seria uma aproximação do realismo, pois a intenção dos santeiros era dar vida às imagens.
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