Apenas um lugar pode ser considerado o centro de Paris, o marco zero de todas as estradas da França e representar o coração do povo francês: A Catedral de Notre Dame de Paris.
Além de ser um monumento que faz parte do patrimônio mundial, a Notre Dame faz parte do imaginário francês e mundial, representando toda a tradição, história e fé católica de milhões de pessoas em todo o mundo. A Notre Dame é esse local de acolhimento de visitantes, que vêm anualmente visitá-la e admirar sua arquitetura maravilhosa de perto.
Por ter tido a oportunidade de morar em Paris durante alguns anos, tive o privilégio de visitá-la incontáveis vezes, quase que semanalmente. Eu a vi passar pelas quatro estações, dia e noite, sempre majestosa e imponente. Nunca deixei de me impressionar por sua beleza e importância histórica. Desta forma, foi com profunda tristeza que vi as imagens do telhado da Notre Dame ardendo em chamas. Essa matéria é minha pequena homenagem à aquela que tanta alegria já me trouxe ao visitá-la, sendo sempre acolhedora e pronta para me mostrar algo que eu ainda não havia notado, me proporcionando uma descoberta a cada nova visita.
A Notre Dame se situa na Ilha da Cidade (Ile de la Cité), bem no meio do Rio Sena. Foi nessa ilha que surgiram os primeiros moradores da localidade em 250 Antes de Cristo. Eles formaram uma tribo de pescadores que pescavam nas águas do Rio Sena. O nome deles era os “Parisii”. Tais habitantes da ilha acabaram emprestando o seu nome para o pequeno vilarejo que se formou, exatamente aonde se encontra atualmente a Notre Dame. Tal vilarejo acabou se transformando na cidade de Paris, capital da França.
Atualmente, podemos visitar as ruínas das construções deixadas pelos Parisii na Cripta Arqueológica da Notre Dame, que se situa exatamente na frente da catedral. Os vestígios foram encontrados abaixo do nível do solo atual, quando estava sendo construído um estacionamento subterrâneo, em frente à catedral. Tal descoberta extraordinária permite que os visitantes possam ver de perto as casas, arcos, ânforas e até mesmo a escadaria que levava os pescadores até o Rio Sena.
Outro ponto muito importante, próximo a esse local, é o marco zero de todas as estradas da França. Trata-se de uma placa de metal colocada bem em frente à Notre Dame, de qual são marcadas todas as distâncias das estradas de rodagem da França. Todos os caminhos do país começam a partir dali, da frente do coração da França.
Os historiadores já conseguiram identificar que quatro edifícios religiosos diferentes já se sucederam sob a atual Notre Dame, denotando que tal local já era considerado sagrado há mais de um milênio. O primeiro foi um templo pagão construído no século IV, depois vieram uma catedral romana, uma basílica merovíngia, e uma catedral carolíngia dedicada à São Estevão. Todas essas construções foram demolidas, tendo muitas de suas partes e pedras sido reaproveitadas, retalhadas e usadas nas fundações da atual Catedral de Notre Dame.
Em aproximadamente 1710, peças de um altar esculpido dedicado à Júpiter e à outras divindades foram encontradas durante uma escavação embaixo do coro da catedral atual.
No século XII, quando reinava Luís VII, ele e o bispo de Paris da época, Maurice de Sully, decidiram construir uma nova catedral no local da igreja de São Estevão. A nova catedral deveria ser muito maior do que sua antecessora, devido às novas técnicas arquitetônicas e do estilo gótico em voga na época.
Acredita-se que a primeira pedra da construção da Notre Dame de Paris tenha sido colocada entre o dia 24 de Março e 25 de Abril de 1163, na presença do Papa Alexandre III e do Rei Luís VII. A impressionante construção foi concluída no ano de 1345, 182 anos após de ter sido iniciada.
A Notre Dame também participou da história das Cruzadas, pois 1185, Heráclius de Caesarea fez o chamado para a terceira cruzada da catedral.
A Notre Dame guarda dentro de si relíquias sagradas para o cristianismo. Uma das mais preciosas delas é um prego da cruz de Cristo, que foi presenteado a Carlos Magno pelo Patriarca de Jerusalém. Além disso, uma outra relíquia da Paixão de Cristo que é exibida aos fiéis até hoje é a Coroa Sagrada de Espinhos, que contém aproximadamente um quarto da coroa original de espinhos usada por Jesus Cristo.
Eu tive a oportunidade de ver tais relíquias de perto, pois elas são exibidas aos fiéis em uma missa especial toda a primeira sexta feira de cada mês, às 3 horas da tarde, além de ficarem expostas das 10 da manhã às 5 da tarde durante a Sexta Feira Santa. Cada fiel tem a oportunidade de se ajoelhar em frente à Coroa de Espinhos de Cristo e beijá-la, tocá-la com as mãos ou com a testa. Eu a toquei com a testa.
Outro momento importante da catedral ocorreu em 16 de Dezembro de 1431, quando Henrique VI da Inglaterra foi coroado Rei da França na Notre Dame, durante o período em que ambos reinos tinham um só rei.
Há atualmente 1200 esculturas na Notre Dame de Paris. Na fachada ocidental, embaixo da balaustrada, há um longo friso horizontal, chamado de “Galeria do Reis”, com 28 estátuas diferentes dos reis da Judéia. Tal friso foi concluído em 1284. Infelizmente, ao longo dos séculos, várias dessas estátuas foram atacadas pelo povo francês, como uma forma de protesto contra a monarquia, especialmente durante a Revolução Francesa.
Várias estátuas foram puxadas por cordas e decapitadas por uma multidão enfurecida. Posteriormente, todas as estátuas foram restauradas e receberam novas cabeças. No entanto, as originais só foram reencontradas em 1977, quando foi feita uma escavação no bairro do Marais. Hoje em dia, as cabeças originais estão expostas no Museu Cluny.
Durante a Revolução Francesa, vários aspectos da catedral foram destruídos. A Notre Dame de Paris foi dessacralizada e transformada em um Templo da Razão. A maioria dos altares foi destruída e o mobiliário foi vendido.
Todos os 20 sinos da catedral, exceto o colossal sino de 1681, chamado Emmanuel, foram removidos e fundidos para fabricar canhões. Todas as estátuas grandes da fachada, com a exceção da estátua de Virgem Maria no portão do claustro, foram destruídas. A catedral passou a ser usada como depósito para alimentos e outros fins não religiosos.
Apenas em 1802, quando Napoleão I concedeu novamente a posse da catedral para a Igreja Católica é que a Notre Dame de Paris voltou a ser usada como templo religioso.
Quando Napoleão decidiu que sua coroação como Imperador da França em 1804 na presença do Papa Pio VII, ocorreria dentro da Notre Dame, ela se encontrava em péssimas condições, devido a séculos de abandono e também pelo vandalismo da Revolução Francesa. A catedral se encontrava à beira da demolição. Por causa da cerimônia de coroação de Napoleão na Notre Dame e devido à importância que foi dada à ela pelo novo Imperador, a catedral acabou sendo restaurada. Desta forma, Napoleão é considerado um dos salvadores da Notre Dame.
Um outro salvador da Notre Dame foi o grande autor francês Victor Hugo, que publicou seu famoso romance “A Catedral de Notre Dame de Paris”, no qual conta a história de Quasímodo, um corcunda que habita no alto da catedral e que se apaixona por uma moça que frequenta a catedral. Victor Hugo usou a Notre Dame como uma personificação da própria França, ressaltando o lamentável e decrépito estado em que ela se encontrava. Victor Hugo glorificou sua arquitetura como sendo “história viva”. Para ele, a Notre Dame era “um livro em forma de pedra”.
Como o livro foi um sucesso, a popularidade do romance e a enorme repercussão da obra trouxeram uma nova fama à Notre Dame, que precisava urgentemente de reparos gerais. Tal interesse renovado pela Notre Dame levou à um grande trabalho de restauração conduzido pelos arquitetos Jean-Baptiste-Antoine Lassus e Eugène Viollet-le-Duc.
Durante essas reformas foi criado o pátio que existe atualmente na frente da Notre Dame, como um espaço intermediário entre o mundo profano e o mundo da fé.
Em 16 de Maio de 1920, ocorreu a cerimônia de canonização de Joana d’Arc na Notre Dame.
Com muita sorte, a Notre Dame sobreviveu às duas grandes guerras mundiais. Durante a Primeira Guerra Mundial, em setembro de 1914, uma bomba penetrou o telhado da Notre Dame na sua parte norte, causando alguns danos mas sem destruir totalmente a catedral.
Em 26 de Agosto de 1944 , uma missa especial foi realizada para celebrar a liberação de Paris dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. A cerimônia contou com a presença do General Charles De Gaulle e do General Philippe Leclerc.
Em 1963, o ministro da Cultura francês, André Malraux, decidiu celebrar os 800 anos da Notre Dame e ordenou que fosse feita uma limpeza geral na fachada da mesma. Foram retiradas toda a fuligem e poeira acumulada durante séculos e trazida de volta a cor esbranquiçada original da fachada da catedral
Muitos outros acontecimentos importantes ocorreram na Notre Dame de Paris. Entre eles, podemos mencionar os seguintes: Em 12 de Novembro de 1970 ocorreu o funeral do Presidente General Charles de Gaulle. Em 1974 ocorreu o funeral do Presidente Georges Pompidou. Em 31 de Maio de 1980 o Papa João Paulo II celebrou uma missa no pátio da catedral. Em Janeiro de 1996 ocorreu o funeral do Presidente François Mitterrand.
Os quatro sinos do século XIX no topo da torre norte foram fundidos e remoldados em novos sinos para celebrar os 850 anos da catedral em 2013. Eles foram projetados para recriar o som original dos sinos do século XVII.
Ainda em 2013 foram instaladas três colmeias de abelhas Buckfast, que são inofensivas e não atacam, no topo da sacristia da Notre Dame de Paris. O mel que elas produzem é feito das flores dos jardins próximos à catedral, particularmente da praça João XXIII, situada atrás da Notre Dame. Todo o mel que as abelhas produzem é doado para os pobres e moradores de rua de Paris.
Por fim, um detalhe que poucos sabem, havia uma escultura metálica de um galo no topo da Notre Dame. Esse galo não era apenas decorativo. Em 1935, três pequenas relíquias foram colocadas dentro dele. Há relatos que foram colocados um pedaço da Cruz de Espinhos de Cristo, um pedaço de osso de Santa Genoveva e outro de São Denis, ambos santos padroeiros da cidade de Paris. A ideia é a de que tal galo servisse como um tipo de para-raios espiritual para proteger todos os fiéis dentro da Notre Dame.
Eu tenho a convicção que a Notre Dame sobreviverá e ainda fascinará muitas e muitas gerações de turistas e fiéis que a visitarem nos próximos séculos e continuará sendo um marco espiritual e arquitetônico eterno para todo o mundo. O coração da França continuará pulsando.
Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em 2008, 2014 e 2015.
Bibliografia:
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