O Palácio Real de Madrid é um Patrimônio Nacional e o maior de toda a Europa, com uma área de 135 mil metros quadrados. Para entendermos o que sua construção representa se faz necessária a compreensão da história desse país que já foi o maior Império do século XVI e parte do século XVII. Dessa forma, poderemos vivenciar experiências históricas únicas.
A Espanha, cujo nome provavelmente vem de “Império Romano Hispânia”, foi dominada por uma quantidade enorme de povos, entre eles os visigodos, romanos, e mais tarde, os muçulmanos. Até hoje, várias cidades como Granada tem em sua área urbana traços da civilização moura no longo período de sua permanência nas terras Ibéricas.
Desde o século VIII, os mouros dominaram principalmente a parte sul da atual Espanha. Somente em 1492, ou seja, somente seis séculos depois é que os reinos cristãos situados ao norte conseguiram, enfim suprimir e expulsá-los de uma vez.
Após a chamada Reconquista Cristã, os muitos reinos em que a Espanha era dividida floresceram e se destacaram economicamente. Entre esses reinos, o de Aragão e o de Castela se sobrepuseram quando se uniram por meio do casamento entre o rei Fernando II, de Aragão e a rainha Isabel I, de Castela. Juntos, o casal real deu início a grande expansão marítima e terrestre. Apoiaram capitães de expedições ao Novo Mundo, como o caso do Genovês Cristóvão Colombo, e outras tantas às Índias.
Seus sucessores, Carlos I e, mais tarde, Filipe II prosseguiram com os investimentos em novas descobertas e com o sucesso destas expedições, no que tange aos produtos extraídos e cultivados nas terras conquistadas, a Espanha conseguiu a proeza de possuir colônias em todos os continentes, sendo seu Império intitulado de “Onde o sol nunca se punha”. O Reino da Espanha era, naquele momento, o mais temido reino de todo o mundo. Enfrentá-lo era uma operação arriscada e temerosa, portanto, tê-lo como aliado era o melhor a fazer. Esse poderio chegou ao fim quando da subida ao trono da dinastia Bourbon, cuja conquista foi feita através de uma guerra: Guerra de Sucessão Espanhola.
As sucessões de um trono nos tempos dos grandes reinos não são fáceis de ser entendidas. Quando falamos sobre uma dinastia, falamos sobre uma geração de pessoas do mesmo sangue que ocupam a coroa. A ideia de “sangue real” fazia com que príncipes e princesas, muitas vezes, ao nascer já eram destinados aos casamentos de outras famílias reais. Um caso típico, é o da Rainha Leopoldina, do Reino da Áustria, que casou com D. Pedro I, então Pedro IV de Portugal. Quando um casal de reis não deixavam herdeiros, as disputas internas, que se transformavam em disputas externas, eram acirradas, pois várias “casas” reivindicavam o trono. Um exemplo emblemático é a disputa entre a Rainha Elizabeth da Inglaterra com sua prima Mary Stuart, rainha da Escócia.
No caso do reino da Espanha, não foi diferente. Quando Carlos II da Casa dos Habsburgos faleceu, as disputas começaram com a denominada Guerra da Sucessão Espanhola, que durou treze anos, entre 1701 e 1714, com a coroação de Filipe de Anjou, neto de Luís XIV e deu início a dinastia dos Bourbon. A união dos reinos da Espanha e da França foi um grave acontecimento no tabuleiro do poder econômico mundial, sendo a Inglaterra a mais temerosa pela possível perda de territórios e rotas comerciais. Com isso, uma série de disputas aconteceu e vários tratados de paz assinados, como o Tratado de Baden, 1714, que restabeleceu a nova ordem mundial.
No fim, subiu ao trono Filipe V, dos Bourbon, quando foi declarado como rei da Espanha com a condição da não união dos reinos da Espanha e da França. Em consequência dessa disputa, a Espanha perde seu poder como maior Império da época.
Projetado por Giovanni Battista Sacchetti, as obras se iniciaram quatro anos após o famigerado incêndio. Carlos III foi o primeiro rei a ocupar o Palácio Real de Madrid, após 26 anos do início de sua construção. Porém, somente no reinado de Dona Maria Cristina de Habsburgo-Lorena, 1885 a 1902, é que as obras foram concluídas.
O visitante tem que ter em mente que, ao adentrar no interior do Palácio, estará imergindo na história da própria Espanha. São, ao todo, 2.800 dependências. Toda a rica decoração é um exemplo clássico do poder de um reino que, ao longo dos séculos, transformou o mundo. Dentro dessas paredes, reis e rainhas, até os dias atuais, deram as cartas no jogo das grandes potências. Suas coleções representam conquistas e domínios. E cada dependência, interna ou externa, foi devidamente pensada e projetada para demonstrar todo esse poder.
Utilizada para os grandes bailes, também era o local onde era celebrado o “Lavatório e Comida de Pobres”, onde o rei, a rainha e toda a corte, as quintas-feiras santas, alimentavam e beijavam os pés dos mais humildes, cerca de vinte.
Esse salão é o mais preservado em sua decoração original. Aqui, como de costume, o rei vestia-se. A decoração está repleta de chinoiserie, trabalhos feitos na Europa com estilo chinês. Vale observar também o relógio fabricado por Pierre Jacques Droz, ornado com pessoas vestidas com roupas do século XVIII que, ao badalar, dançam ao som de uma flauta tocada por um pastor.
Por incrível que pareça, essa sala é toda revestida, das paredes ao teto, de porcelana. A decoração, entre 1765 e 1770, foi feita por Genaro Boltri, José Gicci e Juan Bautista de la Torre.
Com 400 m², é decorado com tapetes de Bruxelas datados do século XVI. No destaque, a mesa para 145 pessoas.
Aqui, a esposa de Carlos IV, a rainha Maria Luísa de Parma se trocava. Sua decoração, em estilo neoclássico, possui rodapés de mármore rosado e espelhos emoldurados em ouro.
Os dois tronos possuem as esfinges representantes do atual casal real, que são iguais as do rei Carlos III. Ladeando os tronos, leões em bronze idealizados por Filipe IV. Todo o salão é decorado em estilo rococó, com espelhos da Real Fábrica de Cristais da Granja. São inúmeros detalhes criados para que o salão represente os quatro continentes (na época conhecidos), as quatro estações do ano e os quatro elementos (água, terra, fogo e ar).
Decorada pelo pintor Gualquinto, ainda guarda peças utilizadas pelo rei Fernando VI, como as poltronas e o dossel. Aqui, são guardadas as relíquias de São Félix. O órgão é de 1778 e as colunas são de mármore preto.
Composta por dois andares, a Real Biblioteca possui um brilhante acervo composto de cerca de trezentas mil obras impressas, duas mil moedas e medalhas, três mil obras musicais, quatro mil manuscritos, três mil e quinhentos mapas e duzentas gravuras. Ou seja, é um imenso mar de conhecimento histórico colecionado ao longo dos séculos. Um verdadeiro tesouro no coração da Espanha.
O exterior do Palácio Real de Madrid conta com dois imensos jardins: o do Campo do Mouro e o de Sabatini. O primeiro foi o local onde os muçulmanos acamparam quando do cerco à cidade, na Idade Média e o segundo é uma espécie de homenagem a Sabatini, que no local onde é o jardim, era o local da cavalaria.
Salomé com a cabeça de Batista – Michelangelo Merisi da Caravaggio.
O atleta cósmico – Salvador Dalí.
Quarteto Palatino ou Quarteto Decorado – Antonio Stradivari.
A mesa dos sete pecados mortais – Hieronimus van Aeken Bosh.
Coroa Real – Fernando Velasco.
O embarque na arca de Noé – Michiel Coxcie.
Olympia, rainha da Macedônia – Desiderio da Settignano.
Gôndola napolitana de Carlos II – fabricação napolitana.
Armería – coleção bélica iniciada pelo rei Filipe II.
Como vocês puderam observar, o Palácio Real de Madrid é um imenso túnel do tempo. Os visitantes podem passar dias para conhecê-lo e admirá-lo. Tanto luxo e riqueza traduzidos no poder econômico desse país. Aqui, a história pulsa e a experiência é ímpar. Talvez, o Palácio Real de Madrid seja a expressão máxima de seu próprio povo. Uma nação rica em culturas diferentes, exportadora de moda, palco dos maiores arquitetos mundiais, tela de muitos pintores famosos e prato de uma gastronomia inigualável. Um país que deixou de ser império, mas que conseguiu aglutinar todos os saberes de suas colônias em um único lugar.
Onde: Calle de Bailém, s/n° – Madri.
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