A primeira imagem que temos ao chegarmos à Piracicaba é a do rio que a cruza e lhe deu nome, o Rio Piracicaba, com suas águas agitadas, cheias de peixes e histórias. Um verdadeiro paraíso para os pescadores.
Para qualquer turista que visite a cidade, fica muito claro que se trata de um local de abundância de recursos naturais e que ali o calor é intenso o ano inteiro.
Tive a oportunidade de visitar essa bela cidade algumas vezes e, em todas elas, a onipresença de seu rio e do calor marcaram as minhas passagens por lá.
O nome “Piracicaba” significa “lugar onde chega o peixe” ou “lugar onde o peixe para”. Claramente essa denominação indígena denota que no Rio Piracicaba se apanha peixes com facilidade. Tal denominação é uma referência às fortes quedas do rio Piracicaba, que bloqueiam a piracema dos peixes.
A cidade nasceu a partir do rio e, desde sempre, teve nele seu principal parceiro em seu desenvolvimento, desde os tempos coloniais. Inicialmente a região era ocupada pelos índios Paiaguás, provavelmente atraídos pela riqueza da caça e da pesca na região. Posteriormente vieram os sertanejos e posseiros no ciclo das entradas e bandeiras.
O primeiro relato que se tem a respeito de Piracicaba é a tentativa de penetração no território ocorrida em 1693, mas que acabou não resultando na criação de nenhum povoamento. O vale do Rio Piracicaba começou a ser ocupado de fato durante o século XVII, quando alguns colonos penetraram na floresta local e começaram a ocupar as terras ao redor do Rio Piracicaba, praticando a agricultura de subsistência e exploração vegetal.
Apenas após a descoberta das minas de ouro em Cuiabá em 1718 é que se começou a criar uma estrada de São Paulo até Cuiabá. A estrada que foi construída passava pela região que futuramente viria a ser a sede do município de Piracicaba.
A Capitania de São Paulo decidiu fundar uma povoação na região, que serviria de apoio a navegação das embarcações que desceriam o rio Tietê em direção ao rio Paraná e forneceria apoio e retaguarda ao forte de Iguatemi, localizado na divisa com o futuro Paraguai, exatamente onde haviam sido encontradas as minas de ouro de Mato Grosso. O objetivo da fortificação era o de defender as terras portuguesas dos invasores espanhóis e paraguaios.
Desta forma, em primeiro de agosto de 1767 o Capitão Antônio Correa Barbosa estabeleceu uma nova povoação na localidade da atual cidade de Piracicaba, a fim de facilitar o transporte de víveres e munições para as tropas da fortificação da Vila Militar de Iguatemi.
A nova povoação foi erguida à margem direita do rio, sendo que em 21 de junho de 1774 foi elevada à categoria de Freguesia. No entanto, o terreno irregular e infértil da margem esquerda provocou a mudança da sede para a margem direita do rio em 1784, aproximadamente onde hoje se situa o Engenho Central, pelo fato do terreno ali ser mais alto e de qualidade superior.
O pequeno povoado que existia na localidade da atual Piracicaba cresceu devido à expansão de Porto Feliz, no rio Tietê, que foi um ponto de passageiros e cargas para a capitania de Mato Grosso, além de ser o centro de partida das famosas Monções. Por ter o solo rico em terra roxa, a cana de açúcar desde o início teve um papel fundamental no crescimento e enriquecimento de Piracicaba, continuamente atraindo novos moradores e imigrantes da Europa.
A fertilidade da terra atraiu muitos fazendeiros, ocasionando a disputa de terras. A partir de 1836, houve um importante período de expansão. Não havia lote de terra desocupado e predominavam as pequenas propriedades.
O cultivo da cana-de-açúcar e do chá enriqueceu cada vez mais a região com o passar dos anos. O povo piracicabano se orgulha até hoje de ter um dos solos mais férteis conhecidos em todo o país, o que sempre deu uma vocação agrícola para a cidade e seu entorno. Depois da chegada dos portugueses e brasileiros nativos, a região começou a receber imigrantes europeus para trabalhar na terra e desenvolver seu artesanato.
Além da cultura do café, os campos eram cobertos pelas plantações de arroz, feijão e milho, de algodão e fumo, sem deixarmos de mencionar as pastagens para criação de gado. Piracicaba era um respeitado centro abastecedor. Em 1847, o proprietário da Fazenda Ibicaba (na época pertencente ao território de Piracicaba), foi pioneiro em adotar a mão de obra imigrante assalariada em substituição aos escravos africanos, contratando famílias suíças e alemãs.
Já no final do século XVIII a região progrediu baseada no cultivo da cana-de-açúcar e na navegação do Rio Piracicaba, tornando-se rapidamente a principal cidade de suas redondezas.
Diferentemente da maioria das outras cidades do Oeste Paulista, que rapidamente adotaram a cultura do café como atividade econômica principal, Piracicaba manteve-se vinculada ao cultivo da cana-de-açúcar. Por tal razão, a região se tornou um dos principais pólos de escravidão no Oeste Paulista, com grande presença de escravos e libertos negros.
O desenvolvimento prosseguiu de forma mais acelerada: os trilhos da Companhia Ituana de Ferrovias chegaram até a cidade, com a inauguração do ramal ferroviário Piracicaba a Itu no ano de 1877. Em 1881 foi fundado o Engenho Central às margens do rio Piracicaba, que viria a se tornar o maior engenho de açúcar do Brasil nos anos seguintes. A cidade começou a substituir o trabalho escravo pelo dos imigrantes assalariados: Piracicaba recebeu importantes contingentes de portugueses, italianos e sírio-libaneses.
Em 1877, a cidade adotou a designação atual de Piracicaba, por intermédio de seu então vereador e futuro primeiro civil Presidente da República, Prudente de Morais, através de um plebiscito.
Piracicaba se firmou como um dos mais importantes pontos do Estado de São Paulo em 1900: era a quarta maior cidade do Estado, possuindo luz elétrica e serviço de telefone. Devido a um certo declínio econômico na cidade de Itu após 1890, Piracicaba se tornou a principal cidade da região. Na virada do século, Piracicaba se alcançou a posição de maior produtora de açúcar da América Latina.
No entanto, tanto progresso não impediu a crise que a cidade enfrentou no século XX, após o fim do ciclo do café e as constantes quedas do preço do açúcar.
Para se reerguer, o município se tornou um dos primeiros do Brasil a se industrializar e investiu no setor metal mecânico e de equipamentos destinados à produção de açúcar. A industrialização, ainda muito baseada no ciclo da cana-de-açúcar, impediu o declínio da cidade, mas não sua estagnação.
Piracicaba chegou aos anos 50 com um complexo agroindustrial desenvolvido, quando passou a ser conhecida como “A Capital do Açúcar”. A partir da segunda metade do século XX a cidade passou a enfrentar mais uma dificuldade para o seu desenvolvimento: o crescimento da cidade de Campinas, com melhor localização geográfica (mais próxima a Capital do Estado e ao Porto de Santos).
A cidade, apesar de sua longa crise, conseguiu se manter na posição de segunda maior em população e terceira em economia na Região Administrativa de Campinas (atrás apenas de Campinas e Jundiaí) e um dos maiores pólos produtores de açúcar e álcool do mundo, além de contar com importante centro industrial e diversas universidades de renome.
A partir da década de 1970 foram tomadas ações para alavancar a economia piracicabana. Foi construída a Rodovia do Açúcar, ligando a cidade a Rodovia Castello Branco, que serviu como uma nova rota de escoamento da produção. A Rodovia Luiz de Queiróz foi duplicada até a Via Anhanguera, melhorando o acesso a cidade e a ligando com a principal rodovia do Interior do Estado. Foram criados distritos industriais e novas empresas chegaram à cidade. Nessa época houve a implantação de um parque industrial complexo, no qual se destacaram as indústrias mecânica e de maquinário agrícola, metalúrgica, de papel e papelão.
A vinda da Caterpillar, produtora de máquinas rodoviárias, marcou o começo da chegada de modernas indústrias de capital estrangeiro de novos segmentos industriais. Além disso, a criação do Proálcool em 1975, deu um grande impulso às usinas e destilarias, historicamente fortes na região, promovendo o desenvolvimento do parque industrial voltado para o setor, pois modernizou o cultivo da cana-de-açúcar e ajudou a revigorar a produção canavieira.
Piracicaba reforçou sua economia e conseguiu sair de seu longo ciclo de crise. Infelizmente, não voltou ao status que possuía no início do século, principalmente por continuar a dividir potenciais novos investimentos com a vasta região industrial e tecnológica de Campinas.
No início do século XXI, a cidade registrou bons índices de desenvolvimento, recuperando áreas degradadas e apostando na biotecnologia e produtos de exportação para o seu desenvolvimento futuro. Atualmente Piracicaba é o 9º Município do Estado de São Paulo em valor de produtos exportados.
Em 2012, o município recebeu a fábrica da Hyundai, o que gerou milhares de empregos e transformou a região, ampliando assim sua participação no setor industrial, passando a ser uma das áreas mais importantes economicamente no interior do Estado de São Paulo.
Em junho de 2012 criou-se a Aglomeração Urbana de Piracicaba, que em 2014 foi listada pelo IBGE entre as 25ª maiores regiões administrativas do país em número de habitantes. Em 2015, estava na 20ª posição na lista, com 1,412 milhão de habitantes.
Foi fundado em 1881 pelo barão Estevão Ribeiro de Rezende, com o objetivo de substituir o trabalho escravo pelo assalariado e pela mecanização. Sua criação representou um enorme avanço na estrutura produtiva, pois industrializava a produção de cana-de-açúcar de forma centralizada e empregou mão de obra especializada pela primeira vez no município, em grande contraste com a mão de obra escrava existente nos pequenos engenhos das fazendas locais. Com sua criação, o Engenho Central começou a substituir o trabalho escravo pelo dos imigrantes, principalmente de contingentes de portugueses, italianos e sírio-libaneses.
O Engenho Central foi durante muitos anos o maior engenhode açúcar do Brasil. No entanto, devido às dificuldades de manutenção das máquinas importadas, ele foi vendido em 1899 à Societé Sucrérie Brèsiliennes, transformando-se no mais importante do país, com uma produção anual de 100 mil sacas de açúcar e três milhões de litros de álcool, incorporando-se a outras seis usinas.
Foi desativado em 1974 e reconhecido como patrimônio histórico. Desapropriado pela Prefeitura, passou a servir de importante espaço cultural, artístico e recreativo para toda a cidade. Sua área verde é de 80 mil metros quadrados e a área construída ocupa 12 mil metros quadrados.
Sem dúvida alguma é a maior atração da cidade, que merece ser visitada por todos os turistas, que poderão conhecer suas instalações muito bem preservadas, além de terem uma vista privilegiada do Rio Piracicaba.
Um dos novos parques da cidade. Ocupa uma área verde de 200 mil metros quadrados, com lago, pistas para atividades físicas e parques infantis. É o local onde são realizados campeonatos de pesca, balonismo, canoagem e shows artísticos. Possui uma grande concentração de bares, restaurantes e lanchonetes, constituindo um ponto de encontro obrigatório da população piracicabana e dos turistas.
A construção é um casarão de pau-a-pique construído no início do século XIX. É um grande símbolo da história da cidade e um marco da passagem dos bandeirantes pela região.
Situada na famosa rua do Porto, à margem esquerda do rio, foi tombada em 9 de março de 1970 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (CONDEPHAAT).
Atualmente, a Casa do Povoador é um dos espaços culturais mais procurados da cidade, onde são realizadas exposições, ministrados cursos e oficinas para profissionais de arte, educadores e público em geral.
A Casa do Povoador dispõe de salas alternativas destinadas a exposições periódicas. Seu acervo é composto de documentos e fotos que mostram todo o processo de recuperação e preservação do local.
Com o objetivo de preservar e resgatar o folclore local e regional, nessa área acontecem apresentações folclóricas, exibições de grupos de danças, shows musicais, mostras de pesquisas, acervos e artesanato de diversas regiões e culturas. O espaço também é ocupado pelos Bonecos do Elias, confeccionados pelo folclorista Elias Rocha, um personagem lendário da cidade. Seus bonecos estão permanentemente expostos, e abordam temas relacionados às datas comemorativas de cada mês, além de cenas do cotidiano.
É um casarão de estilo imperial brasileiro, no qual viveu de 1870 a 1920 o primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Moraes. Após sua morte, foi fundado no local o Museu Histórico e Pedagógico “Prudente de Moraes”, com um acervo que ilustra a vida do ex-presidente e a época da formação da República. Seu acervo possui peças relativas à filatelia, numismática, hemeroteca, biblioteca, mobiliário, armaria, etnologia, folclore, objetos de uso doméstico, instrumento musicais, maquinaria, fotos, documentos, mineralogia, mapas e plantas, arte visual além da sessão referente à Revolução Constitucionalista.
Essa iguaria, que é uma herança da cultura indígena, originalmente é feita somente à base de milho. No entanto, ela também pode ser recheada com sabores doces e salgados, como doce de leite e queijo. Piracicaba é referência da produção da pamonha, sendo tal produto conhecido regional, estadual e nacionalmente como as “Pamonhas de Piracicaba”. Quem é que ainda não ouviu um carro com alto falantes em alto volume anunciando: “Pamonhas de Piracicaba” Pamonhas, Pamonhas, Pamonhas…”?
O Salão Internacional de Humor de Piracicaba é um festival de humor gráfico realizado anualmente desde 1974, no Engenho Central da cidade. Ele foi instituído inicialmente como uma maneira de se protestar e resistir conta a ditadura militar no Brasil. Com o passar dos anos, o evento anual foi crescendo e alcançando uma reputação internacional. Atualmente o evento é considerado um dos mais importantes do mundo no universo das artes gráficas. A competição é dividida em quatro categorias neste salão de humor: cartum, charge, tiras e caricatura.
A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) é uma unidade da Universidade de São Paulo (USP). Ela foi criada em 1901, em terras da Fazenda São João da Montanha, doadas ao governo do Estado de São Paulo por Luiz Vicente de Queiróz, para a criação de uma escola agrícola.
Atualmente é uma das mais renomadas instituições de ensino da cidade, sendo sua reputação conhecida internacionalmente, por ser uma referência na área de estudos, ensino e pesquisa agrícola. É considerada um centro de excelência, que já formou mais de 15.000 alunos. Em 1964, a Esalq foi a primeira unidade da USP a implantar programas de pós-graduação. Até hoje foram 9.125 titulados, entre mestres e doutores
A escola é um ambiente voltado à produção de conhecimento, na qual professores, alunos e funcionários exercem suas atividades em uma área de mais de 3800 hectares.
Além de tudo, é uma área que é muito usada pelos moradores da cidade como um lindo parque para passeios, corridas e caminhadas. Eu mesmo passei um final de tarde agradabilíssimo na Esalq, no qual pude conhecer um dos grandes marcos da cidade de Piracicaba.
A imponente construção foi fundada em 1897, como Escola Complementar de Piracicaba, voltada à formação de professores. A instituição desempenhou tal função até 1911, quando passou a ser denominada Escola Normal. Essa unidade é uma das mais antigas da rede em todo o estado de São Paulo, tendo sido tombada como patrimônio histórico pelo CONDEPHAAT em janeiro de 2002. Atualmente é conhecida como Escola Estadual Sud Mennucci, atendendo 900 alunos do Ciclo II do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), Ensino Médio e Educação Especial.
Quem passa em frente à escola não tem como não notá-la e ficar surpreso com a beleza de sua fachada. É realmente uma das construções mais belas que se encontram na cidade.
Piracicaba é, sem dúvida alguma, uma cidade que merece ser visitada por qualquer turista que se interesse pela história do Brasil, mas não apenas isso. É um lugar muito alegre, cheio de vida, de grande abundância de recursos, cortada por um lindo rio, no qual podemos passear de barco e admirarmos toda sua beleza natural. Em todas as vezes que estive lá me senti feliz, pois Piracicaba é uma cidade sempre ensolarada, com muitas pessoas na rua, bares cheios, crianças correndo pelos parques, enfim, um lugar cheio de vida!
Não deixe de visitar “Pira”, como é carinhosamente denominada por seus habitantes. Mas não se esqueça de trazer seu protetor solar, pois você seguramente precisará dele!
Marco André Briones – marcoandrebriones@cidadeecultura.com.br
Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones, em novembro de 2018.
Bibliografia usada:
Piracicaba – Panorama da Cidade
Fontes variadas da Internet
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