Existe uma mística em volta do personagem do pirata. Hollywood eternizou em inúmeros filmes o lado poético dessa figura, transformando-a, muitas vezes, em heróis bandidos. O pirata também tem a simbologia da liberdade humana, não dependendo de ninguém e não seguindo nenhuma regra pré-estabelecida.
Mas a realidade nua e crua não condiz com esse ufanismo. A pirataria é relatada desde os tempos da Grécia Antiga, citada primeiramente por Homero em Odisséia.
São os ladrões dos sete mares que pilham e sacam todas as riquezas que possam obter, chegando até ao sequestro de pessoas influentes com o objetivo do resgate. Para tais “peripécias”, os piratas tiveram que obter grande conhecimento de navegação e são considerados os precursores dos conhecimentos da navegação marítima.
Com a descoberta das Américas, os ladrões dos mares se concentraram nas riquezas que eram extraídas para serem levadas à Europa. O Mar do Caribe transformou-se em verdadeiro Eldorado.
O litoral brasileiro não ficou imune às investidas dos piratas e Ilhabela foi palco de alguns deles desde 1553. Principalmente no lado leste da ilha que, por sua costa acidentada, os ladrões dos mares podiam esconder-se e ao mesmo tempo fazer reparos em suas embarcações e abastecê-las.
O Saco do Sombrio era o ponto perfeito para isso; ficavam à espreita para atacar os navios espanhóis e portugueses que por ali passavam. Até Jose de Anchieta, em 1582, que ia de Santos ao Rio de Janeiro de canoa teve que ancorar em Ilhabela por conta do ataque de Edward Fonton (corsário inglês). Outros também perigosos passaram por aqui como o corsário Francis Drake, Anthony Knivet e o francês Duguay-Trouin.
O mais famoso pirata que por Ilhabela passou, sem sombra de dúvida, foi Thomas Cavendish. “Em 1591 Cavendish deixou o porto de Plymouth, na Inglaterra, com cinco navios e mais de 400 homens, e rumou para Ilhabela. O objetivo inicial da esquadra era atacar a Vila de Santos, e a frota ancorou na Ilha para se reabastecer e arquitetar seus planos.
O ataque foi armado para a noite de Natal desse ano, quando dois navios ingleses entraram na pequena vila e aprisionaram toda a sua população, que então assistia à Missa do Galo na igreja local. Com a cidade dominada, o resto da esquadra foi chamada em Ilhabela para realizar a pilhagem.
Os piratas permaneceram ali, dominando os habitantes e a guarnição militar portuguesa até 3 de fevereiro de 1592, quando partiram rumo ao Estreito de Magalhães para tentar a circunavegação do globo.
Cavendish já havia realizado a façanha, pelo que era considerado um herói na corte da rainha Elizabeth. A esquadra quase foi dizimada pelas tormentas no extremo sul do continente. Dois navios afundaram, e os três remanescentes se perderam uns dos outros. Cavendish retornou com seu galeão Leicester para Ilhabela, em busca de abrigo seguro para reparar o navio e reabastecê- lo. Aqui encontraram outro navio de sua esquadra, o Roembuck, e aportaram.
Poucas semanas depois tiveram que enfrentar uma esquadra portuguesa chefiada por Martim Correia de Sá, que veio combatê-los. Fugiram para o norte, na direção do Espírito Santo. E retornaram à Ilhabela alguns meses depois, com o projeto de queimar um dos navios, equipar o outro e seguir novamente para o Estreito de Magalhães.
Com medo, parte da tripulação amotinou e se refugiou na Ilha. O capitão do navio Roembuk, Abraham Cocke, teria descido definitivamente em Ilhabela com seus homens. O fato é que nunca mais se ouviu falar deles. Cavendish tentou retornar à Inglaterra com o Leicester, mas morreu doente à bordo, no final de 1592, antes do navio alcançar seu destino.”
Fonte: www.ilhabela.org/piratas.htm
Muitos fatos curiosos e lendas surgiram desde a vinda dos piratas à Ilha. Muitas histórias que despertaram a curiosidade humana falam sobre os tesouros enterrados pelos saqueadores. Uma das mais extraordinárias é a do Tesouro de Trindade, cujo engenheiro, Paul Ferdinand Thiry, relaciona esse tesouro com o suposto tesouro de Monte Cristo (romance do francês Alexandre Dumas).
É isso mesmo, a insistência na caça à riqueza tornou-se uma obsessão cheia de enigmas decifrados. Infelizmente são poucas as páginas em que podemos escrever essa longa saga, mas o que se pode dizer é que este tesouro estaria supostamente enterrado no Saco do Sombrio por corsários que o pilharam dos espanhóis quando esses saíram corridos do General San Martin, no Peru, em 1821.
O navio espanhol simplesmente sumiu com todo o ouro das igrejas. Mas havia um mapa do tesouro!
Sim, e foi atrás dessa pista que o abnegado Thiry passou durante 40 anos estudando-a e envolvendo as pessoas. O engenheiro faleceu sem nunca conseguir seu intento, mas as buscas ainda continuam com seu amigo Osmar e seu filho Roberto.
Outra curiosidade a cerca da pirataria é o povoado da praia do Bonete, também no leste da Ilha. A maioria dos moradores tem olhos de um azul profundo. Muitos dos que nasceram lá contam que seus antepassados eram descendentes de piratas.
Há presença desses ilustres homens também na parte oeste da Ilha, na Fazenda da Toca, onde as ruínas de uma antiga fazenda ainda existem. Essa fazenda era do chamado pirata português Borges.
Conta-se que ele era produtor de cana-de-açúcar e também traficante de negros. Para se chegar até lá, percorre-se um trecho de uma hora e meia, morro acima.
O mais interessante do lugar, que chega até a ser perigoso, são os buracos escavados pelos caçadores de tesouros, pois acredita-se que Borges tenha enterrado suas riquezas no local. Mais tarde, o pirata mudou para a praia do Veloso, sul da Ilha, e montou outro alambique, onde passou seus últimos momentos.
Obviamente, o povoado da Ilha não era tranqüilo com os constantes ataques dos piratas, mesmo porque, os ataques, em sua maioria, eram ferozes. Então foram construídas fortificações dos dois lados do canal que separa o arquipélago do continente. Hoje ainda encontramos as ruínas desses fortes.
Os locais eram estratégicos para poder fazer com que a artilharia alcançasse o meio das águas do canal.
Os fortes da Ilha são:
Essas construções foram decisivas na defesa do território, pois o porto de São Sebastião escoava os produtos auríferos das regiões de Mato Grosso e Goiás.
Interessante esse aspecto da vida pirata, pois as mutilações eram freqüentes, já que os combates eram feitos no corpo a corpo. Não raro um combatente perdia a perna, braços ou olhos. Normalmente o cozinheiro fazia o papel de médico da tripulação, cabendo a ele o ato da amputação. Como prótese, quando o enfermo conseguia sobreviver, usava-se qualquer coisa ao alcance no navio. Um exemplo clássico é o Capitão Gancho de Peter Pan.
Os “desmembrados” eram agraciados com dinheiro ou mercadorias como: pelo braço direito seiscentos pesos ou oito escravos; quinhentos pelo esquerdo ou cinco escravos; por um olho cem pesos ou um escravo e idêntica quantia por um dedo; pela perna direita quinhentos pesos e pela esquerda, quatrocentos.
Fonte: Alexandre Olivier Exquemelin, escritor francês , autor de um dos mais importantes livros sobre pirataria no século XVII, “De Americaensche Zee-Roovers”.
A diferença entre corsário e pirata é que corsário podia atacar e pilhar outras embarcações porque possuía a “Carta de Marca ou Corso”. Ou seja, eles tinham permissão real para isso e era uma forma de enfraquecer a nação inimiga roubando-lhe suas riquezas. a Lei Internacional fazia essa diferenciação, assim, se um navio fosse apreendido e este apresentasse a tal “Carta”, esse seria julgado pelo Tribunal almirantado de forma mais branda do que se fosse um navio que não tivesse o documento.
Habilidoso e inteligente pirata membro da frota de Cavendish, foi deixado na Ilha de São Sebastião com os pés gangrenados, após a morte de seu capitão. Escravo da Família Correia de Sá, sofreu muitos maus tratos. Mas graças ao seu jogo de cintura, sobreviveu a índios canibais, plantas venenosas e tantas outras adversidades, isso no Brasil selvagem na década de 1590. Deixou a nós um grande relato em seu livro, mais tarde publicado “as incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet”.
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