Pintura e Poesia
Maria José Ávila, 82 anos, nascida em Agudos, mora em Campos de Jordão há 50 anos. Veio para cá como professora do curso normal e deu aula no Teodoro Correa Cintra.
Desenha com lápis de cor de uma forma tão delicada que dá ao espectador uma leveza de sentimentos. Ela diz que escolheu o lápis porque, além de ser mais firme que o óleo, já utilizava o instrumento desde os tempos de aluna.
Como sempre trabalhou muito, começou a dedicar-se à pintura somente em 1999, mas não parou por aí. De lá para cá, já escreveu quatro livros de poesia.
Tivemos a oportunidade de ouvi-la declamar a sua favorita, que emocionou a todos da equipe com a verdadeira emoção transmitida pela artista.
Os títulos dos livros são simples, porém extremamente significativos, são eles: “Era Uma Vez…”, “Caminhando”, “Vivendo” e “Sonhando”.
Atualmente ocupa a presidência da Academia de Letras de Campos do Jordão, com a cadeira 19, um verdadeiro privilégio, pois foi a primeira mulher a entrar para a Academia.
Poesia preferida da Professora Zezé: “Se tenho que partir”
Se tenho que partir, que seja
enquanto minha alma
responde à beleza,
desperta da letargia,
e, em ânsias de viver,
mergulha direto na magia.
Que eu parta, então,
quando a visão da rosa
é êxtase,
perfume e cor,
repouso da mente,
fonte de calor.
Pois que eu vá
enquanto sofro ainda
com a dor dos que sofrem
e rio com o riso das crianças,
o prazer das mães
na atualização de esperanças.
Se tenho mesmo que ir,
que seja agora
quando a árvore me fala
de sombra e amizade,
das cores do outono,
de paz e felicidade.
Se tenho que dormir,
que durma deslumbrada
com o nascer e o pôr-do-sol,
derramando no mar
um esplendor de prata e ouro
vai e vem das ondas a brilhar.
Possa eu repousar
sob um manto de estrelas e luar,
ouvindo a voz do vento,
os murmúrios da floresta,
a melodia dos riachos e cascatas,
mergulhada em plena festa.
Que durma feliz
– ambos realizados –
nos braços do meu amor,
nos laços do seu carinho
que se revela suave,
macio como arminho.
Se tenho que partir,
seja, então, de regresso
à casa de meu Pai,
deixando o sonho pela realidade,
uma realidade de sonho,
o mundo perfeito da verdade.
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