Todos nós sabemos que o Brasil possui uma das maiores áreas territoriais do mundo. Cada palmo deste território foi conquistado com muita dificuldade e esforço por gerações e gerações de brasileiros, alguns de nascença, outros, de coração.
No entanto, o que poucos sabem, é que nenhuma outra cidade brasileira contribuiu tanto para a nossa expansão territorial e para que o Brasil alcançasse sua grandeza e dimensão continental quanto Santana de Parnaíba.
O nome da cidade provém da junção do nome de Santa Ana, a santa de devoção de Suzana Dias, a fundadora da vila parnaibana, com a palavra indígena “Parnaíba”, que significa “rio não navegável”, utilizada para indicar a grande queda d’água existente no local.
A índia Bartira, filha do lendário cacique Tibiriçá da tribo dos Guaianases, defensor da Vila de São Paulo de Piratininga, se casou com o português João Ramalho, fundador da cidade de Santo André. Da união nasceu Beatriz, que se casou com o também lusitano Lopo Dias. Desse casamento, nasceu Suzana Dias, em 1552, que, por sua vez, se casou com Manuel Fernandes Ramos, que construiu a capela de Santo Antonio.
Após o falecimento de seu marido, Suzana Dias se estabeleceu no local e iniciou o povoado de Santana de Parnaíba, onde residiu com seus 17 filhos. Entre seus filhos estão personagens importantes como Domingos Fernandes, fundador de Itu; Baltazar Fernandes, fundador de Sorocaba e André Fernandes, que ajudou sua mãe Suzana a fundar a vila de Santana de Parnaíba em 1580.
Localizada à margem esquerda do rio Tietê, Santana de Parnaíba está em um ponto estratégico: exatamente onde o Tietê deixa de ser navegável. Era, portanto, um obstáculo às expedições que rumavam ao interior, seguindo o curso do Tietê. Além disso, sua localização favorecia o controle de acesso aos principais caminhos em direção ao “sertão” no período colonial.
Saindo da vila de São Paulo de Piratininga, o rio Tietê era navegável até a atual localidade onde se situa Santana de Parnaíba, onde havia uma grande cachoeira d´água conhecida como a “Cachoeira do Inferno”, onde se encontra atualmente a Barragem Edgard de Souza, que foi a primeira hidrelétrica da Light no Brasil e a primeira a abastecer a cidade de São Paulo. A partir desse ponto, o Tietê só volta a ser navegável 50km abaixo, na altura das atuais cidades de Itu e Salto. O trecho do Tietê entre SP e Itu até hoje é composto de muitas pedras e corredeiras, impossibilitando a navegação. A partir de Porto Feliz, a capital das Monções, o Tietê volta a ser navegável.
Localizada a apenas 35km da cidade de São Paulo, Santana de Parnaíba atualmente possui 136.000 habitantes. No entanto, já foi uma vila de enorme importância, rivalizando com a Vila de São Paulo de Piratininga em termos de importância e tamanho, pois tudo que havia na Vila de São Paulo também havia na Vila de Santana de Parnaíba.
Em 1625, Santana de Parnaíba desmembrou-se de São Paulo e se tornou a terceira vila fundada no planalto. A recente vila era dotada de extensa área territorial, incluindo o território das atuais cidades de Pirapora de Bom Jesus, São Roque, Cabreúva, Araçariguama, Cajamar, Itu, Jundiaí, Sorocaba e todas as terras até as barreiras do Rio Paraná.
Um dos vários pontos de discórdia entre São Paulo e Santana de Parnaíba era a Aldeia de Barueri, que era disputada por ambas. Apenas concordavam em um único ponto: se opunham fortemente aos jesuítas, que eram inimigos de ambas, e que seriam expulsos da capitania de São Vicente em 1640, com o fim do domínio espanhol. Santana de Parnaíba sempre foi um grande foco de oposição à Companhia de Jesus, inclusive fornecendo contingentes para a destruição das missões no Rio Grande do Sul.
Era também o ponto de partida para as expedições dos bandeirantes, além de ser um posto avançado de vigilância, para impedir o acesso à aventureiros espanhóis e índios hostis à vila de São Paulo e a de São Vicente, que era a sede da Capitania.
Os bandeirantes partiam do morro do Voturuna, núcleo minerador da Capitania de São Vicente. A Serra do Voturuna, já em 1606 foi mencionada nas Atas da Câmara de São Paulo como um dos locais em que primeiro se encontrou ouro no Brasil.
Santana de Parnaíba foi berço dos maiores bandeirantes do Brasil. Ali nasceram ou passaram rumo ao sertão desconhecido grandes nomes como: Fernão Dias Pais Leme (nascido em São Paulo mas residente em Santana de Parnaíba), Raposo Tavares, Bartolomeu Bueno da Silva (o Anhanguera), Borba Gato e Domingos Jorge Velho, que destruiu o Quilombo dos Palmares, reduto de Zumbi.
Os bandeiristas parnaibanos percorreram praticamente todo o atual território brasileiro, e foram além mesmo de suas fronteiras, atingindo os atuais territórios da Bolívia e do Paraguai. O destemor dos bandeirantes saídos de Santana de Parnaíba e o conhecimento dos indígenas sobre os principais rios e caminhos contribuíram enormemente para o mapeamento de todo o atual território brasileiro, permitindo aumentá-lo ao triplo do que propunha anteriormente o impreciso Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha.
O brasão de Santana de Parnaíba, de autoria do historiador Affonso de Taunay, traz a divisa em latim “Patriam Feci Magnam”, ou seja, “Minha Pátria Fiz Grande”, homenageando as conquistas dos bandeirantes parnaibanos, que forneceram à Alexandre de Gusmão o conhecimento do território brasileiro, o que lhe permitiu expandir nossas fronteiras, que foram fixadas definitivamente pelo Tratado de Madri, entre Portugal e Espanha.
Santana de Parnaíba também é importante por ter sido o ponto final da primeira Entrada promovida pelos portugueses no interior do Brasil.
O principal produto cultivado nas grandes propriedades parnaibanas era o trigo. Em nenhum outro lugar tal produção foi tão grande e importante quanto em Santana de Parnaíba. Era lá onde se localizavam as maiores fazendas e de onde partiam fileiras de escravos carregadores transportando sacos de farinha até Santos, porto de embarque para o RJ e Salvador. As maiores propriedades parnaibanas tinham mais de 400 escravos e se estendiam por toda região, ao longo do Rio Tietê.
Por volta de 1640, grande parte do pão e da farinha de trigo que eram consumidos no Brasil e em Portugal eram produzidos nos moinhos existentes em Santana de Parnaíba. É possível vermos os vestígios de um deles até hoje, esquecido dentro do Sítio do Morro. O pão e farinha parnaibanos abasteciam a capitania e eram transportados por tropeiros para todos os pontos da colônia, que na época, vivia basicamente da monocultura açucareira. O trigo de Santana de Parnaíba era comprado pela Fazenda Real e empregado no esforço de guerra contra os holandeses estabelecidos no Nordeste do Brasil e em Angola.
O declínio político e econômico de Santana de Parnaíba teve início com a mineração. Apesar do grande número de parnaibanos envolvidos na corrida do ouro, a vila perdeu a condição de entreposto distribuidor de índios, pois o trabalho nas minas passou a ser feito principalmente pelos escravos africanos. Além disso, com a fundação de Campinas, abriu-se uma nova rota de penetração no interior, que anulou Santana de Parnaíba e Itu como pontos de passagem.
No entanto, Santana de Parnaíba voltou a crescer muito com a criação de Alphaville, na região de Barueri. Nas últimas décadas houve uma nova revolução parnaibana, pois o número de empresas no município cresceu de 400 para 5000. O setor de serviços cresceu 948%. Por causa da nova chegada de capitais, a receita obtida através de impostos aumentou enormemente, assim como a arrecadação do ISS. Um dos fatores que mais contribuiu para tamanha expansão financeira e comercial foi o fato da cidade cobrar um dos mais baixos impostos do país. Além disso, Santana de Parnaíba tem uma das menores taxas de mortalidade infantil do Brasil.
Em termos de atrações turísticas, a cidade tem muito a oferecer aos que a visitam, pois suas construções são muito bem preservadas e pintadas com muito orgulho pela população local, que mantem vivas as tradições e história deste local tão importante para a história brasileira.
A principal atração da cidade é a Igreja Matriz de Santa Ana, construída por Suzana Dias, a fundadora da Vila de Santana de Parnaíba, sobre a antiga Igreja de Santo Antônio, que era situada no mesmo local, mas que não comportou o crescimento populacional e expansão da importante vila.
Bem em frente à Igreja de Santa Ana, podemos encontrar um busto em bronze, feito em homenagem à Suzana Dias.
Um pouco mais abaixo, encontramos a Casa/Museu de Anhanguera. O grande bandeirante não residiu nela, mas ela é o único exemplar remanescente de uma casa bandeirista urbana. Foi transformada em um museu em homenagem ao grande bandeirante, nascido em Santana de Parnaíba. Suas exposições mostram interessantíssimos objetos utilizados na vida cotidiana dos bandeirantes e também de uso residencial nos primórdios da vila.
Próximo à Casa de Anhanguera encontramos a Antiga Delegacia de Polícia, que já foi também a Câmara Municipal. O sino em sua porta era usado para dar o toque de recolher às pessoas que estavam na rua para que o silêncio da vila fosse mantido à noite.
O ponto central da cidade é a Praça 14 de novembro, data festiva local. Nela, podemos encontrar inúmeros e charmosos restaurantes e bares, que oferecem vários tipos de culinária aos turistas, todas preparadas com um especial tempero local.
Na praça, há o Coreto Maestro Bilo, que possui grades de ferro representando claves de sol.
Há também a Casa do Patrimônio, do século XVIII, remanescente do Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro, não mais existente, além do simpático Cine Teatro Coronel Raymundo, que foi o primeiro cinema da cidade e que é atualmente usado também como centro cultural e de eventos.
Para aqueles que quiserem provar as delícias locais, eu recomendo o charmoso Jardim da Anna, um café dentro de uma residência, com lindos jardins e plantas, nos quais são servidos doces, bolos, salgados e cafés variados. Também são ótimas pedidas conferir a deliciosa pizza do Bartô Pizza e os pratos saborosos do Restaurante do Bartolomeu e a cozinha tradicional do Restaurante São Paulo Antigo.
Por fim, não deixe de visitar o imponente e emocionante Monumento aos Bandeirantes, logo na entrada da cidade, que nos mostra cenas dos grandes personagens que, com sua garra, coragem e força de vontade, forjaram um novo e gigantesco país em meio às terras da Coroa Portuguesa: o nosso grande Brasil.
A Vila que descobriu o Brasil – A incrível história de Santana de Parnaíba, de Ricardo Viveiros.
História de Santana de Parnaíba, de Monsenhor Paulo Florêncio da Silveira Camargo.
Todas as fotos da matéria foram tiradas por Marco André Briones em outubro de 2016 e março de 2019.
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