Graças ao grande culto que lhe foi e é dedicado, Santo Antônio e seus feitos inspiraram inúmeras obras de arte, criadas em períodos artísticos posteriores à sua morte.
Por Fernando Savaglia
Colaborou Renato Brolezzi – Professor da História da Arte na FACAMP (Faculdade de Campinas e do Serviço Educativo e Escola do MASP – Museu de Arte de São Paulo.
As Artes Sacras tiveram, e ainda têm, um importante papel iconográfico na veneração das figuras sagradas dentro da Igreja. No passado, sua principal função era a de elevar os fiéis até a essência do santo representado. Hoje em dia, muitas pessoas visitam as igrejas buscando admirar o aspecto puramente artístico de muitas dessas obras.
Graças ao grande culto a ele destinado, Santo Antônio recebeu inúmeras ondas de veneração nos períodos artísticos que surgiram após sua morte. Porém, é inegável que foi no período Barroco que sua imagem inspirou o maior número de representações artísticas.
Até o surgimento do positivismo o sentido existencial da sociedade européia era unicamente norteado pela fé. Portanto, independentemente da crença religiosa do artista, produzir arte sacra era o resultado da iconografia dominante naqueles tempos.
Grande parte das obras de arte foi encomendada não só por autoridades eclesiásticas, mas principalmente por aristocratas, que viam no fato de possuir quadros e esculturas sacras uma maneira de professar e demonstrar sua fé.
Principalmente durante o chamado Renascimento, as interpretações artísticas referentes aos santos fugiam sobremaneira da influência do domínio canônico da Igreja. Tal fato conferia aos artistas, ao contrário do que muitas pessoas imaginam, uma relativa liberdade de interpretação dos fatos e passagens sagradas.
Conheça agora algumas das obras que retratam a vida e os feitos de Santo Antônio.
Um dos primeiros pintores a usar a figura de Santo Antônio como motivo para uma de suas obras foi o italiano Giusto de Menabuoi (1320 – 1397).
Esse artista florentino foi um seguidor de Giotto (di Bondone), considerado um dos responsáveis pela retomada da influência greco-romana, rompendo com a ascendência bizantina até então dominante sobre a arte da Europa medieval. Na Basílica de Pádua é possível encontrar algumas de suas principais criações, entre elas a reprodução à esquerda, que mostra a Virgem no trono com o Menino Jesus. À direita de Nossa Senhora está São Francisco e à esquerda, Santo Antônio. A pintura é de 1382 e nela é possível notar a transição da influência bizantina, com suas formas bidimensionais e abstratas, para o chamado “doce estilo novo”, inaugurado por Giotto.
Um conjunto de inspiradas obras esculpidas, alusivas aos milagres de Santo Antônio, está justamente na Basílica de Pádua, em volta da tumba do santo. Os baixos-relevos foram esculpidos por três autores: Donatello Di Betto Bardi (1386-1466), Antônio Lombardo (1458-1516) e Andrea Contucci del Sansovino (1460-1529).
A obra dos referidos escultores possui grande representatividade dentro do chamado Renascimento florentino no momento de sua expansão para o norte da Itália. Destacam-se nessas esculturas o refinado uso da perspectiva e a capacidade dos autores de sintetizar as passagens marcantes da vida do Santo.
Também foi um pintor florentino da época do Renascimento. Foi aluno de Botticelli, que influenciou sobremaneira sua obra. Seu estilo pode ser caracterizado pela agilidade e liberdade dos traços, com linhas quebradas e de fortes contrastes.
Uma de suas principais obras está exposta no Museu de Finas Artes de Budapeste, na Hungria, e retrata justamente Nossa Senhora com o Menino Jesus e Santo Antônio.
Para muitos historiadores o auge de sua carreira de Filippo Lippi (1406-1469) são os afrescos da Capela Strozzi em Florença, exemplo do estilo maneirista italiano.
Outro artista de obra magnífica e que representou o santo português nas telas foi o espanhol Bartolomé Murillo (1618-1682), para muitos o mais importante nome do Barroco espanhol. A tela Santo Antônio e o Menino Jesus é datada de 1665, e está exposta no museu de Belas Artes de Sevilha. O pintor nutria enorme simpatia pela causa franciscana, haja vista a enorme quantidade de obras suas dedicadas às pessoas humildes do povo, sempre retratadas de maneira muito afetuosa. A obra ao lado traz algumas das mais fortes características do estilo do espanhol, entre elas uma esmerada técnica, consistência de cores e grande refinamento dos matizes que nascem da penumbra.
A partir de um determinado momento histórico, que coincide com o auge do período Barroco, o culto aos santos franciscanos ganhou muito espaço na obra de vários artistas. Alguns historiadores apontam o movimento da Contra-Reforma instaurada pela Igreja Católica como o motivo que desencadeou essa revalorização da imagem dos seguidores da Ordem dos Frades Menores. Entre os inúmeros artistas que dedicaram obras a Santo Antônio no período encontra-se Ângelo Paglia (1681-1763), artista nascido em Brescia, que buscou em sua obra ressaltar a capacidade dos franciscanos de fazer uso da palavra não do ponto de vista teológico e erudito, mas na prática diária junto ao povo.
Esse veneziano pode ser considerado um dos mais importantes artistas de seu tempo. Muitos críticos garantem que seus afrescos foram a maior influência para inúmeros pintores e decoradores do século XIX.
Entre as obras de Giovanni Battista Tiepolo (1696 – 1770), há mais uma representação de Santo Antônio de Pádua com o Menino Jesus. Essa obra faz parte do acervo do Museu do Prado, em Madri. Nela, podemos observar o refinado uso de sombra e luz, assim como a força dos traços do santo e da criança retratados, bem como os magníficos contrastes.
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