O Teatro Amazonas, localizado em Manaus, é um ícone do auge do Ciclo da Borracha. Por ser o Brasil um país de dimensão continental, os brasileiros residentes nas regiões Sul e Sudeste, por vezes, não se dão conta da riqueza gerada ao país por meio da extração do látex, abundante nas seringueiras.O Teatro Amazonas é considerado um dos mais importantes do país e do mundo e, claro, um dos cartões postais de Manaus.
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Foi inaugurado em 1896, no Largo de São Sebastião, centro da capital amazonense. Construído em estilo renascentista, com projeto escolhido pelo Instituto Português de Engenharia e Arquitetura de Lisboa. A ideia era que a capital amazonense tivesse uma casa de ópera à altura do poderio da elite local. E assim foi feito. Uma casa de espetáculos em alvenaria, cuja pedra fundamental foi colocada em 1884. A maioria da mão de obra técnica foi trazida da Europa, porém a decoração interna ficou nas mãos do pernambucano Crispim do Amaral e do italiano Domenico de Angelis.
Com capacidade para 700 pessoas, a sala de espetáculos está dividida em plateia e mais três níveis de camarotes.
Plafond do Teatro Amazonas
As quatro alegorias que remetem à tragédia, ópera, dança e música, são representadas nesta obra. Destaca-se, na representação da ópera, o celebrado Carlos Gomes, grande nome da ópera no Brasil no fim do século XIX.
O que chama a atenção é o fato das pinturas terem sido feitas em tecidos lonados, imitando as típicas tapeçarias do século XVIII, e eternizados pela família Gobelin. Isso explica porque a obra é chamada de falso Gobelin.
A história nos conta que o pintor idealizou em sua obra arcos de abóboda simulando a sustentação do lustre, originário da Casa Italiana Murano. Já a lenda… diz que a estrutura é uma homenagem aos franceses simbolizando a estrutura da Torre Eiffel. Historiadores desafiam a lenda ao afirmarem que a torre, à época da pintura, não possuia a representatividade que ganhou ao longo do tempo e, à época, ainda era muito questionada por parte dos franceses. A obra não foi assinada e por isso não se sabe se fora realizada por Crispim do Amaral ou um pintor do atelier contratado.
Salão Nobre
O próprio nome se encarrega de dar a dimensão artística deste espaço para o teatro. Ao entrar no salão é impossível permanecer com o olhar fixo em algum lugar. A cabeça gira, o pescoço entorta, e a visão lhe conduz a um êxtase de percepções.
No teto, a pintura de De Angelis, “A glorificação das Belas-Artes na Amazônia”, nos presenteia com elementos regionais e clássicos sob sua perspectiva e olhar. Um contraponto entre a civilização que chega e as belezas que aqui estão.
Nas paredes do Salão, são retratadas as belezas da floresta tropical, o avanço tecnológico (como o barco a vapor) e, uma das obras mais impactantes, mostra Peri salvando Ceci no clássico romance “O Guarani”, de José de Alencar.
Pano de Boca do Teatro Amazonas
Originalmente foram confeccionados três panos frontais para o palco utilizando-se pintura a óleo sobre tecido. Hoje, temos preservados apenas dois, sendo um em uso e outro em restauro. O pano que se vê na foto acima representa o fim da Monarquia no Brasil e, se você reparar bem, percebe-se o desenho de uma cortina sobrepondo o brasão da Família Real. Fim de ato!
O segundo pano, em restauro, traz a pintura “O Encontro das Águas do Rio Negro e Rio Solimões” de Crispim do Amaral.
Um detalhe importante é que o pano não é dobrado ou enrolado, fica fixo, movimentando-se apenas na vertical. Este cuidado é fundamental para a preservação das obras.
Cúpula
Concebida pela Casa Koch-Frêres de Paris em 1895, tem estrutura em aço e revestida de cerâmica policromada. As telhas vidradas e esmaltadas vieram da Alsácia, região entre a Alemanha e e a França, em forma de escamas de peixe. Receberam as cores verde, amarelo, vermelho e azul, representando o colorido da floresta e dos pássaros da Amazônia.
Por não fazer parte do projeto original e destoar da arquitetura do prédio, recebeu muitas críticas da imprensa à época. Nos dias de hoje, é parte indissociável da obra, permanecendo acessa sempre que ocorre alguma atividade artística no teatro.
O Teatro Amazonas é símbolo da prosperidade brasileira que até hoje atrai visitantes do mundo inteiro. Uma joia encravada na Amazônia.
Curiosidades
- A primeira ópera encenada foi La Gioconda, baseada em Victor Hugo, século XVII, e ambientada originalmente em Veneza, Itália.
- Ao longo de sua história passou por dois importantes restauros, 1974 e 1990. Algumas características mudaram ao longo do tempo em função de necessidades contemporâneas, como a ventilação do teatro que fora planejada em uma época que não existia o ar condicionado e que, em função do crescimento da cidade e do conhecido calor de Manaus, teve que ser repensada. Alterando inclusive as poltronas usadas nos dias de hoje.
- Em 1926, uma reforma “criminosa” alterou partes do seu interior ao retirar peças de ferro, madeira, pisos de pinho de Riga e esculturas. Até 1930, ainda se tem relatos de assaltos ao patrimônio público.
- Sua cor original, de 1897, era cinza e branco e somente em 1960, recebe a cor rosa. No restauro de 1974, retornou às cores originais, porém debaixo de polêmicas. Em 1990, é pintado com uma cor rósea especialmente elaborada para o teatro.
- Pela beleza e magnitude, tanto interna como externa, o Teatro Amazonas serviu como cenário até para filmes internacionais como “Fitzcarraldo” de Werner Herzog em 1982 e o desenho animado “Rio 2”. Também foi pano de fundo para minisséries e livros.
- O camarote central era tratado com mais pompa e requinte que os demais e era destinado às autoridades da época. Tradição mantida até os dias de hoje, onde só o Governador do Estado pode utilizá-lo, ficando vazio grande parte do ano.
Onde: Avenida Eduardo Ribeiro, s/n° – Manaus.
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