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Torre de Londres, patrimônio da Humanidade

Parte Externa da Torre de Londres. Foto “Tower of London” de Dave Straven.

Fundado em 1066, o Palácio Real e Fortaleza de Sua Majestade da Torre de Londres é o símbolo do poder real que impera o Reino Unido até os dias de hoje. Escrever sobre a Torre de Londres é como escrever sobre a própria história da Inglaterra. Ela é um Patrimônio da Humanidade e hoje pertence ao Historic Royal Palaces.

O princípio

A mando do rei Guilherme I, o Conquistador, a construção da Torre de Londres foi uma estratégia de poder aos que transitavam pelo rio Tâmisa, uma rota comercial importante. Assim, a fortificação foi erguida de forma a intimidar os possíveis inimigos de qualquer invasão. Suas edificações foram ampliadas e modificadas por vários monarcas.

A arquitetura

A Torre de Londres forma um grande complexo com três alas: Central, Interior e Exterior. Esse complexo é formado torres, como a Branca (erguida em 1100), um castelo e vários anexos. Seus muros possuem quatro metros de espessura, sua área total é de setenta e três mil metros quadrados. No século XIII, foram construídas mais 21 torres e, o fosso ampliado, passou a receber as águas do rio Tâmisa. Em meio à evolução da capital londrina e seus arranha céus, ainda é possível sentirmos a magnitude dessa construção. Com a grande quantidade de anexos criados ao longo dos séculos e tanta história armazenada entre seus muros, a Torre de Londres guarda segredos e a cada dia, uma nova descoberta de enorme relevância acontece.

Foto de Nathália Weber

A Torre Branca

A Torre Branca, centro do complexo, era residência real, ou seja, quando o rei estivesse na região, era ali que iria ficar. Não só o rei, mas membros de sua corte. Então, as acomodações internas eram ricamente ornamentadas. Foi uma das fortificações mais completas da Europa medieval.

Capela Real de São Pedro ad Vincula

Erguida em 1519, a mando de Henrique XVIII, em estilo Tudor, essa capela abriga o túmulo das rainhas Ana Bolena, Catarina Howard e Lady Jane Grey, Thomas More e John Fisher (canonizados). E a lista ilustre continua com Eduardo Seymour (duque de Somerset), Jaime Scott (duque de Monmouth), John Dudley (duque de Northumberland), John Fisher, Gerald Fitzgerald, Thomas Cromwell, entre outros.

Prisões e execuções

Quando falamos sobre a Torre de Londres, a imagem de um local de horrores e sofrimentos passa pelas nossas mentes. Porém, não é o caso. Sim, houve muitas mortes terríveis como decapitações e também torturas inimagináveis. Mas, não podemos esquecer que aqui muitos reis e rainhas viveram. Era um local onde todos conviviam como em uma cidade. Entretanto, as histórias de intrigas e disputas de poder internos, são grandes chamarizes à nossa curiosidade. Aqui, as prisões e execuções não eram feitas aos cidadãos comuns e sim aos nobres. Os aposentos em que as pessoas eram presas, de longe lembram as prisões comuns da época. Não havia uma edificação para este fim. Apesar da austeridade das paredes de pedra, eram salões, decorados com tapeçarias e móveis de madeira nobre.

Os prisioneiros faziam refeições fartas e regadas a bom vinho. Podiam receber visitas de familiares e “aliados”. Tudo providenciado pelo Tenente da Torre. Muitos livros eram lidos e, muitas cartas escritas. Segundo os historiadores, foram 112 pessoas executadas no Morro da Torre e sete dentro dos muros da Torre. O primeiro ilustre de que se tem registro a ser preso foi o bispo de Durham, Ranulfo Flambar, em 1100, que por ironia, conseguiu escapar. A primeira mulher a ser presa foi, em 1321, Margarida de Clare, depois que proibiu a entrada da rainha Isabel da França, no Castelo de Leeds, afugentando-a por meio de um pelotão de arqueiros, que  acabou mantando um membro da comitiva real.

Há casos bem emblemáticos que ficaram marcados como o caso dos Príncipes da Torre que foram encarcerados. Os irmãos Eduardo V da Inglaterra e Ricardo de Shrewsbury, duque de Iorque foram encarcerados, em 1483, pelo tio, Ricardo III. Depois da prisão, nunca mais se soube deles, nem como morreram.

Quartel de Waterloo

Essa construção iniciou-se em 1845, e servia para cerca de mil homens. Hoje, é sede do Regimento Real de Fuzileiros. Aqui, estiveram presos espiões da Primeira Guerra Mundial, os quais foram fuzilados e, durante a Segunda Guerra Mundial, aconteceu a última execução, a do espião alemão Josef Jakobs, em 1941.

Fotos de Nathália Weber

Joias da Coroa

Com certeza, o ponto mais alto da Torre de Londres, é a exposição das Joias da Coroa Britânica. São 23 mil peças com valor estimado em cerca de 23 bilhões de dólares. A peça mais valiosa é a Coroa do Estado Imperial feita para a coroação da rainha Isabel II. A coroa possui nada mais, nada menos, que três mil pedras preciosas.

Algumas curiosidades

  • Na década de 1930, escavações em um poço de trinta metros de largura, foram encontradas ossadas de um antigo lugar de feras que foram presenteadas aos reis. Faziam parte desta coleção sessenta espécies, dentre elas: leopardo, elefante (presente para Henrique VIII), urso polar, cangurus, entre outros tantos. Porém o mais interessante é que foram encontrados os restos do leão-do-atlas, originário do norte africano e extinto no século XX. Essas feras exóticas podiam ser vista pela população. Às vezes, algumas fugiam e causavam sérios danos. Essas feras foram reproduzidas em esculturas de arame e podem ser vistas no mesmo local em que as originais viviam.
  • Outra curiosidade está na Torre Byward, construída no século XIII. Em uma restauração, foi encontrado, ao redor da Lareira Tudor, um mural de mais de 500 anos. Esse mural foi pintado com muitas cores, dentre elas a vermelha cujos pigmentos foram feitos com as secreções de um inseto indiano. Esta obra é a única que restou do período medieval. A pintura mostra a Crucificação de Cristo que tem tudo a ver com a função da Torre na época. Nela, eram entregues prata e ouro para cunhar moedas, ou seja, era a Casa da Moeda. Esse mural era um aviso aos vendedores de minerais e aos próprios funcionários que “Deus tudo vê! Ladrões e  fraudadores nunca escaparão da danação das chamas do inferno”.
  • Passagens secretas e acessos restritos são comuns na Torre de Londres e um deles está onde era a Casa da Rainha e hoje, a Casa do Governador da Torre. Esse lugar dá acesso para uma câmara secreta que foi habitada por Sir Thomas More, um dos ministros do rei Henrique VIII. More discordou de Henrique quando este quis se tornar Chefe da Igreja. Acabou sendo preso e decapitado, em 1535, e sua cabeça exposta no Portão dos Traidores.
  • A Torre Beauchamps foi o local que mais recebeu prisioneiros e, em suas paredes, ainda é possível vermos os entalhes feitos pelos cativos que registravam ali suas penas e sofrimentos.
  • Os Guardas Yeomen, também chamados de Beefeaters, são os vigilantes e guardiões cerimoniais da Torre de Londres. Antigamente, os Yeomen eram guardas pessoais dos reis. Seus uniformes podem chegar a custar US$ 10.000. E a cerimônia militar ainda realizada no mundo é feita por eles: a Cerimônia das Chaves.
  • A exposição contínua da linhagem dos reis e suas armaduras é a exposição mais antiga do mundo, feita desde 1650. Chamada de Menagerie Real apresenta cenários interpretativos e as armaduras são expostas em cavalos de tamanho real, esculpidos há centenas de anos.
  • Outra atração são os corvos que são tratados a “pão de ló” pelo Mestre dos Corvos. Reza a lenda que se um dia os corvos voarem para fora, o Reino acabará também. Na dúvida, essas lindas aves “reinam” impávidos há séculos na Torre de Londres.
Foto de a.canvas.of.light. Instalação criada pelo artista Paul Cummins, “Blood at the Tower of London”, em comemoração aos 100 anos do primeiro dia do envolvimento Britânico na Primeira Guerra Mundial.

Atualmente, a Torre de Londres é uma Comunidade Autônoma. Ao todo, trinta e sete Yeomen e suas famílias moram aqui. Como pudemos observar, a torre de Londres teve e tem variadas funções ao longo dos séculos. De um fortim de madeira a um grande complexo fortificado, hoje, seu maior interesse está no turismo. Entretanto, a torre já servia como atrativo turístico desde o reinado da rainha Isabel I. Os reis, ao deixarem o público entrar, estavam cientes da força que isso lhes dava. Todo o poder e glamour foram armas fundamentais para a consolidação do Império Britânico. E livros e textos foram pulicados em várias línguas contando as histórias da Torre. Descrições das instalações correram todos os continentes e reinos.

De lá para cá, a única coisa que mudou foi a quantidade de visitantes. E, a entrarmos na Torre de Londres, nos maravilhamos pelas edificações, pelos objetos e fatos históricos e, principalmente pela perpetuação dos ritos e da valorização do poder real. É incrível como os britânicos foram capazes, após tantas modificações sociais, manter rigorosamente toda a magia da realeza. A visitação a Torres de Londres é uma das experiências mais vívidas da história ocidental, é uma volta, sem retorno, aos tempos épicos. Sem retorno, porque quando saímos de lá, nunca saímos da mesma forma que entramos. Saímos repletos de conhecimento e reflexões.

Onde: St Katharine’s & Wapping – Londres.

Para saber mais dicas de turimos cultural e histórico no Brasil e no mundo, acompanhe a coluna de Renata Weber no portal Cidade&Cultura

 

 

 

Nathalia Weber

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